São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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SP 450

"Foi um deslumbramento só"

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

A colecionadora Stela de Moura Azevedo, 54, tinha apenas quatro anos em 1954, mas diz lembrar vivamente a chuva de triângulos de papel prateado que fez brilhar o céu do vale do Anhangabaú naquele 25 de janeiro que celebrou os 400 anos de São Paulo.
"Foi um deslumbramento só. Mas fiquei muito incomodada porque as pessoas começaram a catar os papéis do chão em vez de olhar para o céu", conta.
Mesmo assim, a pequena Stela resolveu fazer o mesmo que a multidão. E guardou dois triângulos prateados. Estes, ao lado de uma blusinha infantil de estampa comemorativa que ganhou da mãe e de uma colher com o brasão dos 400 anos que pegou da tia, deram início a uma coleção que já soma mais de 200 peças feitas especialmente para aquele aniversário da capital paulista.
Stela hoje é proprietária do antiquário Azul Cobalto, onde expõe as peças. "O mais significativo é que a coleção marca uma posição entre uma São Paulo artesanal e uma São Paulo industrial", avalia.
A mesma chuva de prata marcou a história do casal Nice, 64, e José Carlos Siqueira, 65.
Os dois nem sonhavam um com o outro quando viram, embasbacados, o cintilar de papéis que caíam do céu. "Eu tinha 15 anos. Aquilo foi algo de que a gente não esquece", conta Nice.
Na mesma noite, o casal trocou os primeiros olhares e iniciou uma paquera que culminaria, em 1956, com o início de uma relação que já dura 48 anos.
Certa vez, em 56, entre os primeiros abraços e juras de amor, os dois se lembraram daquela noite de aniversário da cidade. "O José Carlos me disse que havia guardado um papel prateado. Ele escreveu uma declaração de amor no verso do papel e me presenteou com ele. Foi uma graça."
"Escrevi apenas "Amor". Foi uma declaração lacônica", brinca Siqueira. "Mas o papel virou nosso amuleto", acredita.
Já José Rodolfo Neubauer, 78, lembra detalhes dos 400 anos de São Paulo: da vitória do Corinthians no chamado Campeonato do Quarto Centenário à construção "a toque de caixa" e inauguração do Ibirapuera, passando pelo pouco lembrado prefeito Jânio Quadros. Mas e a chuva de prata? "Olha, sinceramente, não me lembro disso não. Você sabe, com o decorrer da idade, a gente se esquece de muita coisa", disfarça.


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