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SP 450
"Foi um deslumbramento só"
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
A colecionadora Stela de Moura
Azevedo, 54, tinha apenas quatro
anos em 1954, mas diz lembrar vivamente a chuva de triângulos de
papel prateado que fez brilhar o
céu do vale do Anhangabaú naquele 25 de janeiro que celebrou
os 400 anos de São Paulo.
"Foi um deslumbramento só.
Mas fiquei muito incomodada
porque as pessoas começaram a
catar os papéis do chão em vez de
olhar para o céu", conta.
Mesmo assim, a pequena Stela
resolveu fazer o mesmo que a
multidão. E guardou dois triângulos prateados. Estes, ao lado de
uma blusinha infantil de estampa
comemorativa que ganhou da
mãe e de uma colher com o brasão dos 400 anos que pegou da tia,
deram início a uma coleção que já
soma mais de 200 peças feitas especialmente para aquele aniversário da capital paulista.
Stela hoje é proprietária do antiquário Azul Cobalto, onde expõe
as peças. "O mais significativo é
que a coleção marca uma posição
entre uma São Paulo artesanal e
uma São Paulo industrial", avalia.
A mesma chuva de prata marcou a história do casal Nice, 64, e
José Carlos Siqueira, 65.
Os dois nem sonhavam um com
o outro quando viram, embasbacados, o cintilar de papéis que
caíam do céu. "Eu tinha 15 anos.
Aquilo foi algo de que a gente não
esquece", conta Nice.
Na mesma noite, o casal trocou
os primeiros olhares e iniciou
uma paquera que culminaria, em
1956, com o início de uma relação
que já dura 48 anos.
Certa vez, em 56, entre os primeiros abraços e juras de amor,
os dois se lembraram daquela
noite de aniversário da cidade. "O
José Carlos me disse que havia
guardado um papel prateado. Ele
escreveu uma declaração de amor
no verso do papel e me presenteou com ele. Foi uma graça."
"Escrevi apenas "Amor". Foi
uma declaração lacônica", brinca
Siqueira. "Mas o papel virou nosso amuleto", acredita.
Já José Rodolfo Neubauer, 78,
lembra detalhes dos 400 anos de
São Paulo: da vitória do Corinthians no chamado Campeonato
do Quarto Centenário à construção "a toque de caixa" e inauguração do Ibirapuera, passando pelo
pouco lembrado prefeito Jânio
Quadros. Mas e a chuva de prata?
"Olha, sinceramente, não me
lembro disso não. Você sabe, com
o decorrer da idade, a gente se esquece de muita coisa", disfarça.
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