São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Aos 93 anos, primeira doutora diz ter sido "convidada" a entrar

Aluna da turma inaugural do curso de química, Jandyra França Barzaghi teve de dividir salas de aula com colegas de medicina e conheceu o marido na USP

DA REPORTAGEM LOCAL

A entrada na USP nos seus primeiros meses de vida em nada lembra os dias atuais (em que dezenas de estudantes disputam uma única vaga).
"Fui me informar sobre o curso de química. Cheguei lá e ouvi: "o exame de ingresso está sendo agora. Quer participar?'", lembra Jandyra França Barzaghi, hoje aos 93.
Após ser entrevistada por uma banca de professores, alguns estrangeiros, Jandyra integrava no dia seguinte a primeira turma de química da universidade, em 1935.
O pioneirismo de Jandyra continuou após a formatura na graduação: ela e outros dois colegas de turma foram os primeiros doutores formados pela universidade.
O percurso até o doutoramento, porém, sofreu alguns percalços. A turma de graduação em química começou em instalações emprestadas da Faculdade de Medicina, em Pinheiros (zona oeste de SP).
A convivência com os cursos das outras áreas foi pacífica. Até que começaram algumas obras, para transformar o provisório em permanente.
"Os estudantes da faculdade, com razão, se revoltaram. Colocaram fogo nos elevadores", lembra Luciano Barzaghi, 92, da mesma turma de Jandyra. A proximidade de classe, mais tarde, virou casamento.
O curso teve de procurar uma nova casa. O mesmo ocorreu com outros cursos, como a matemática. Até a construção da Cidade Universitária, a USP estava espalhada por São Paulo.
"A universidade só existia no nome naquela época", afirma Luciano. "Era tudo improvisado", diz Jandyra. A química foi para o palacete dos Street, no Campos Elíseos (centro de SP).
Apesar das instalações provisórias, já naqueles anos uma marca da USP começava a se destacar -a qualidade de seus docentes. No curso de química, os pioneiros eram alemães.
"As aulas eram todas práticas. O professor falava sobre uma reação química e, ao mesmo tempo, o assistente fazia o experimento", afirma Jandyra.
Luciano, após a graduação, foi para o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e depois para a indústria de cerâmica. Jandyra, após o doutoramento, chegou a lecionar, mas desistiu da carreira para ter filhos.


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