|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aos 93 anos, primeira doutora diz ter sido "convidada" a entrar
Aluna da turma inaugural do curso de química, Jandyra França Barzaghi teve de dividir salas de aula com colegas de medicina e conheceu o marido na USP
DA REPORTAGEM LOCAL
A entrada na USP nos seus
primeiros meses de vida em nada lembra os dias atuais (em
que dezenas de estudantes disputam uma única vaga).
"Fui me informar sobre o
curso de química. Cheguei lá e
ouvi: "o exame de ingresso está
sendo agora. Quer participar?'", lembra Jandyra França
Barzaghi, hoje aos 93.
Após ser entrevistada por
uma banca de professores, alguns estrangeiros, Jandyra integrava no dia seguinte a primeira turma de química da universidade, em 1935.
O pioneirismo de Jandyra
continuou após a formatura na
graduação: ela e outros dois colegas de turma foram os primeiros doutores formados pela
universidade.
O percurso até o doutoramento, porém, sofreu alguns
percalços. A turma de graduação em química começou em
instalações emprestadas da Faculdade de Medicina, em Pinheiros (zona oeste de SP).
A convivência com os cursos
das outras áreas foi pacífica.
Até que começaram algumas
obras, para transformar o provisório em permanente.
"Os estudantes da faculdade,
com razão, se revoltaram. Colocaram fogo nos elevadores",
lembra Luciano Barzaghi, 92,
da mesma turma de Jandyra. A
proximidade de classe, mais
tarde, virou casamento.
O curso teve de procurar uma
nova casa. O mesmo ocorreu
com outros cursos, como a matemática. Até a construção da
Cidade Universitária, a USP estava espalhada por São Paulo.
"A universidade só existia no
nome naquela época", afirma
Luciano. "Era tudo improvisado", diz Jandyra. A química foi
para o palacete dos Street, no
Campos Elíseos (centro de SP).
Apesar das instalações provisórias, já naqueles anos uma
marca da USP começava a se
destacar -a qualidade de seus
docentes. No curso de química,
os pioneiros eram alemães.
"As aulas eram todas práticas. O professor falava sobre
uma reação química e, ao mesmo tempo, o assistente fazia o
experimento", afirma Jandyra.
Luciano, após a graduação,
foi para o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e depois
para a indústria de cerâmica.
Jandyra, após o doutoramento,
chegou a lecionar, mas desistiu
da carreira para ter filhos.
Texto Anterior: Aos 75, USP tem mais alunos e menos produção científica Próximo Texto: Analistas divergem sobre papel da USP ao expandir graduação Índice
|