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DIA DE TERROR
Tráfico teria jogado bombas, incendiado ônibus e ameaçado lojistas; 16 pessoas foram feridas
Ações criminosas deixam Rio em pânico
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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Ônibus queimado visto de dentro de outro ônibus incendiado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense |
Sérgio Moraes/Reuters
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Membros do esquadrão antibombas em Ipanema |
MARIO HUGO MONKEN
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
A seis dias do principal acontecimento turístico do Rio, o Carnaval, uma série de ações supostamente organizadas pela facção
criminosa Comando Vermelho
causou pânico em pelo menos 23
bairros da capital e a outros cinco
municípios do Grande Rio. A
maioria das ações ocorreu perto
de favelas dominadas pelo CV.
Iniciada na madrugada de ontem, a onda de violência deixou 16
pessoas feridas, duas delas em estado grave, 34 veículos incendiados (entre ônibus, carros e caminhão) e oito depredados.
Apesar de o governo estadual
ter anunciado o reforço do policiamento, as ações criminosas seguiam à noite: às 19h, ameaças de
supostos traficantes do morro do
Cantagalo fecharam um supermercado em Ipanema, bairro nobre da zona sul; às 20h, moradores do morro Engenho da Rainha
tentaram saquear outro supermercado, em Pilares (zona norte).
De manhã, seis bombas caseiras
foram arremessadas contra prédios em Ipanema, contra um ônibus e contra um supermercado.
Por causa de ameaças e da propagação do medo, comércio e escolas de diversos bairros fecharam.
Vinte e dois suspeitos de participar dos atentados foram presos.
A Polícia Civil atribui a ação ao
traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, um
dos líderes do CV, preso na penitenciária Bangu 1 (zona oeste).
Segundo policiais, Beira-Mar
estaria revoltado com o tratamento que tem recebido no presídio,
onde não estaria conseguindo se
comunicar por meio de telefone
celular, o que era rotineiro antes
da instalação dos bloqueadores,
no ano passado. Outra razão para
os ataques seriam recentes operações policiais que resultaram na
apreensão de celulares nos presídios Bangu 3 e 4, que abrigam
presos do CV.
Uma carta, supostamente divulgada pela facção criminosa, foi
distribuída ontem em diferentes
pontos da cidade. O texto diz que
as ações foram uma reação à violência policial nas favelas.
Ipanema
Eram 5h quando se ouviu um
estrondo em Ipanema. Segundo
testemunhas, um grupo de seis
pessoas, em três motos, jogou três
bombas de fabricação caseira e
uma granada de efeito moral
-que não explodiu- contra
quatro prédios da avenida Vieira
Souto, que fica à beira-mar.
Apenas o prédio de número 420
foi atingido. Fragmentos de uma
das bombas abriram um buraco
no muro do edifício e atingiram a
janela do apartamento 101, estilhaçando parte do vidro.
Parte das lojas baixou as portas
em Ipanema -nos quarteirões
mais próximos ao morro do Cantagalo. "A gente sente no ar que
alguma coisa está errada. Cheguei
para trabalhar às 8h, e a lanchonete onde todos os comerciantes daqui tomam café não havia aberto.
Dizem que foi ordem do Beira-Mar", relatou o gerente da loja Fotológica, Adilson da Silva.
A ação mais grave ocorreu em
Botafogo (zona sul). Um grupo
jogou uma garrafa de coquetel
molotov em um ônibus da linha
410 (Saens Penha-Gávea), próximo ao morro Dona Marta. O ônibus foi incendiado e 13 pessoas ficaram feridas, das quais duas correm risco de morte. Aury Maria
do Canto, 70, internada em coma
no hospital Souza Aguiar (centro), está com 25% do corpo queimado e a perna esquerda fraturada. Valeska Marinho Duarte, 30,
teve 60% do corpo queimado.
Tiros na estação de trem
A 65 km dali, a estação de trem
de Santa Cruz (zona oeste), uma
das mais movimentadas do Rio,
ficou fechada por três horas devido a um tiroteio entre PMs e traficantes. Ninguém ficou ferido.
A primeira ação registrada pela
polícia ocorreu às 4h10, em Benfica (zona norte). Pelo menos 50
homens com fuzis e pistolas fecharam a av. Dom Hélder Câmara
e a r. Leopoldo Bulhões e incendiaram quatro ônibus e cinco carros. O grupo também assaltou
motoristas e passageiros e fugiu
dando tiros para o alto.
O auxiliar técnico Édson Alves
Barbosa, 48, que dirigia um carro
com o logotipo da CEG (Companhia Estadual de Gás), disse que o
grupo decidiu incendiar seu veículo quando viu o nome da empresa. "Eles falaram "toca fogo
que é do governo"."
Um trocador de um dos ônibus
incendiados afirmou que, a todo
momento, o grupo gritava "Beira-Mar, Beira-Mar".
A onda de violência também
atingiu outras áreas da zona norte. Em Ramos, na estrada do Itararé, próximo ao complexo de favelas do Alemão, carros e ônibus
foram apedrejados, o que levou a
PM a interditar a via pela manhã.
No Jacaré, um caminhão com alimentos foi saqueado.
O comércio ficou fechado em
vários bairros. Na Tijuca, três
grandes supermercados não abriram, assim como dois no Engenho Novo. Nas ruas, homens de
motocicleta passavam ordenando
o fechamento das lojas. Os protestos continuaram na parte da tarde, quando houve registros de
ônibus incendiados na zona norte, em Niterói e na Baixada Fluminense.
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