São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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CARNAVAL

Escola encerra jejum de 23 anos graças ao desempenho da bateria, quesito que decidiu campeonato; Unidos do Peruche também cai

Mocidade vence e Gaviões é rebaixada

Jefferson Coppola/Folha Imagem
Integrantes da Mocidade Alegre comemoram o título de campeã na quadra da escola, conhecida como Morada do Samba


FABIANE LEITE
CAIO JUNQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Foram 23 anos de jejum, incluindo um vice-campeonato amargo em 2003 (por meio ponto, a escola perdeu o título). Mas ontem a Mocidade Alegre voltou ao topo e conquistou seu quinto título durante o Carnaval dos 450 anos de São Paulo.
Para a Gaviões da Fiel, bicampeã em 2003, aconteceu o esperado após o acidente que atrasou seu desfile na avenida: foi rebaixada para o Grupo de Acesso, junto com a Unidos do Peruche.
Rosas de Ouro e Vai-Vai, que saíram como favoritas, ficaram em quarto e 11º lugares, respectivamente. O desfile com as oito mais bem colocadas do Grupo Especial e as duas campeãs do Grupo de Acesso, entre elas a Mancha Verde, será na sexta.
"Os patrocinadores não apareceram. Éramos desacreditados no samba", afirmou Adriana Bichara, 34, uma das diretoras da Mocidade Alegre, ainda surpresa. A diferença entre a escola e a vice-campeã deste ano, a X-9 Paulistana, foi de apenas meio ponto.
Apesar de a escola campeã ter investido no talento de um carnavalesco do Rio -Nelson Ferreira, ex-braço-direito de Joãosinho Trinta na Viradouro- a vitória foi obra mesmo da bateria de 276 integrantes, último quesito apurado e que decidiu o campeonato paulistano. Antes dele, a Império da Casa Verde estava na liderança -acabou em terceiro lugar.
Chefiada pelo marido da presidente da escola, Marcos Rezende Nascimento, 32, o "Sombra", a bateria ensaiou em horários restritos, por causa da reclamação dos vizinhos do barracão no bairro do Limão, zona norte. Pelo acordo feito, o ensaio tinha de terminar antes das 23h.
"Há dez anos prometi ao meu sogro que seríamos a melhor bateria e trabalhei para fazer a diferença", disse Nascimento, cuja família é fundadora da Tom Maior, escola que ascendeu ontem ao Grupo Especial.
"A minha vida é isso aqui, quatro dias por semana, alguns dias por até cinco horas. Foi força e garra", afirmou, aos prantos, Marcelo Pires, 26, também integrante da bateria.
Das 40 notas recebidas, a Mocidade Alegre, que desfilou debaixo de chuva no segundo dia do Carnaval paulistano, teve apenas três nove e meio: na fantasia, comissão de frente e evolução.
A escola nasceu em 1967, fundada por três irmãos naturais de Campos (RJ), foliões do "Bloco das Primeiras Mariposas" do Bom Retiro. Já tinha sido tricampeã, com vitórias em 1971, 1972, 1973, logo depois de chegar ao Grupo Especial, e voltou a ganhar em 1980. Entre as agremiações que já venceram campeonatos da Liga, era uma das que há mais tempo não cantava novamente a vitória -jejum maior, só o da Unidos do Peruche, que não vence desde 1967.
Durante a preparação para o Carnaval 2004, a Mocidade Alegre enfrentou a morte da presidente, Elaine Cristina Bichara, por complicações do diabetes. Ela é a autora do enredo "Do Além-Mar à Terra da Garoa, Salve Essa Gente Boa", uma homenagem aos imigrantes que vieram viver em São Paulo.
Segundo a irmã da ex-presidente, Solange Cruz Bichara Rezende, 38, atual presidente da escola, foi Elaine quem decidiu que o desfile seria aberto com alegorias em preto e branco, inspirada na novela "Terra Nostra", da Rede Globo. "Tenho certeza de que ela contribuiu também lá de cima para a nossa vitória", afirma.
Para Solange, no entanto, faltou dinheiro. Mas ela não quis falar em cifras. "Precisamos mais da prefeita, do Anhembi. Fizemos milagre com o que recebemos."
Também pela falta de dinheiro, apenas 50 caixas de cerveja foram compradas para comemorar. No início da tarde, o barracão já estava abarrotado -2.000 pessoas cabem na sede da Mocidade, escola também conhecida como "a morada do samba".


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