São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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SAÚDE

Unicamp coleta apenas 20% do que poderia de material de cordão umbilical que serve para transplante de medula óssea

Sem verba, banco de sangue fica ocioso

Marcos Ribolli/Folha Imagem
Recém-nascido é atendido após nascer no Centro de Atendimento Integral à Saúde da Mulher, no Hospital das Clínicas da Unicamp


FERNANDA BASSETTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

Mesmo com uma estrutura montada e avaliada em cerca de R$ 600 mil, o hemocentro do HC (Hospital de Clínicas), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), possui um banco de sangue de cordão umbilical com 80% de ociosidade. O banco possui 200 bolsas de sangue armazenadas, mas com capacidade para guardar mil unidades.
O sangue de cordão umbilical é rico em células-tronco, fundamentais para o transplante de medula óssea -feito em pacientes com câncer no sangue, em especial, leucemia. Além do HC, só outras cinco unidades hospitalares no país armazenam sangue de cordão umbilical: os hospitais da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto e em São Paulo, o Albert Einstein, em São Paulo, a Universidade Federal do Paraná e o Inca (Instituto Nacional do Câncer), no Rio.
A inexistência de um banco nacional de sangue de cordão, que interligaria informações do país inteiro, torna mais difícil o acesso das pessoas aos dados e a chance de encontrar possíveis doadores.
Segundo a hematologista e diretora do serviço de transfusão do hemocentro da Unicamp, Ângela Cristina Malheiros Luzo, toda a estrutura foi montada em 1999, quando os seis hospitais resolveram criar o banco. "A expectativa era que cada hospital coletasse 1.500 bolsas em três anos e depois eles formassem um banco único, com intercâmbio internacional, para facilitar a localização de células compatíveis para os doentes que precisam de transplante."
Porém a falta de recursos e investimentos por parte do Ministério da Saúde interrompeu os objetivos desses hemocentros.
"Nenhum dos hospitais conseguiu atingir a meta de coletar 1.500 bolsas. Cada procedimento custa, em média, R$ 3.000. Para manter as unidades congeladas, há uma manutenção de mais R$ 300 por ano", disse a médica.
Toda a estrutura existe na Unicamp. São dois contêineres para armazenar as bolsas com as células congeladas, cada um com capacidade para 500 bolsas de sangue. Um deles ainda está fechado.
As bolsas para o armazenamento são importadas e custam, em média, US$ 30 cada. Além disso, 500 mililitros de reagentes utilizados durante a manipulação do sangue custam cerca de US$ 500.
"O procedimento de armazenamento e coleta de sangue de cordão é extremamente valioso, pois as células são fundamentais. Acontece que o custo é muito alto e fica inviável manter o serviço sem investimentos", disse Luzo.
Para dar continuidade à coleta de sangue de cordão, a hematologista disse acreditar que a Unicamp teria de receber um investimento de R$ 400 mil.
A hematologista Sara Saadi, vice-diretora do hemocentro da Unicamp, afirma que o objetivo do banco nacional de cordões é possibilitar o acesso democrático para todo o país.
"A intenção é possibilitar as buscas de um doador compatível em um banco nacional", disse ela. A dificuldade em encontrar um doador de medula compatível é resultado da diversidade de raças da população brasileira e da miscigenação entre elas.
"O embrião do banco nacional está acontecendo nos hospitais mais estruturados do país. O ideal é termos o número suficiente de bolsas para suprir as necessidades. Hoje, isso gira em torno de 12 mil bolsas de sangue", disse Saadi.


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