|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARNAVAL 2006
Weber e Orwell "inspiram" enredos do Rio
Destinada aos jurados, a bibliografia do samba carioca inclui autores como Paulo Freire e Frijtof Capra e filmes como "FormiguinhaZ"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O espectador poderá não se dar
conta, mas Fritoj Capra, George
Orwell, Max Weber, Stephen
Hawking, Hans Staden e
Zygmunt Bauman estarão no
Sambódromo carioca neste ano.
Eles são alguns dos autores citados pelos carnavalescos como referências de seus enredos.
No caderno destinado aos jurados do desfile, todos as escolas
precisam apresentar a bibliografia do enredo e outras fontes que
tenham sido utilizadas.
Caçula dos carnavalescos, Cahe
Rodrigues, 29, supera os outros 13
na bibliografia. O enredo "Bendita és tu entre as mulheres do Brasil", da Unidos do Porto da Pedra,
consumiu 49 livros.
"Não vou dizer que li tudo, porque não li. Contei com a ajuda de
três pessoas. Era necessária uma
pesquisa aprofundada para não
deixarmos de fora mulheres importantes", afirma Rodrigues, que
contou ter recebido sugestões da
ministra de Política para as Mulheres, Nilcéa Freire, entusiasta do
enredo da escola.
Além de livros sobre grandes figuras femininas do país, Rodrigues cita "Duas Viagens ao Brasil", relato do alemão Hans Staden
sobre o Brasil do século 16, e "Sobrados e Mucambos" (1936), estudo clássico do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre.
Para falar de música na avenida,
Paulo Barros, da Unidos da Tijuca, praticamente desprezou os livros: sua bibliografia relaciona
apenas oito títulos. Em compensação, ele listou 60 páginas pesquisadas na internet.
"A internet dá a informação
mais rápida, precisa. Ela é uma
grande biblioteca. Encontro tudo
que preciso", afirma Barros.
Dinheiro e religião
Para achar o que precisava para
seu enredo sobre dinheiro e felicidade, Alex de Souza, da Acadêmicos da Rocinha, consultou um livro de fotografias de Las Vegas
(EUA), outro sobre os parques temáticos da Disney, 33 páginas de
"A História da Riqueza do Homem", de Leo Huberman, e 20
páginas (43 a 63) de "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", obra fundamental de Max
Weber, sociólogo alemão morto
no início do século passado.
"O livro [de Weber] me ajudou
a costurar o conceito. Eu precisava de algo sobre a formação do capitalismo, sobre o fato de a maioria das grandes nações ser protestante. Nesses países, dissociou-se
dinheiro e pecado", diz Souza.
Procurado para explicar a presença de "Identidade", do sociólogo polonês Zygmunt Bauman,
na bibliografia de "A vida que pedi a Deus", enredo da Mocidade
Independente, o carnavalesco
Mauro Quintaes pediu que fosse
procurado o jornalista Gustavo
Melo. "Ele é quem faz meus textos", justificou.
"Bauman nos ajuda a entender
a liquidez das relações de hoje,
nesse mundo globalizado. E isso
tem a ver com o final do desfile,
uma homenagem ao "Tupinicópolis" [enredo de 1987 da Mocidade], em que haverá índios de patins", conta Melo, lamentando
que, por um erro técnico, tenha ficado de fora da bibliografia a obra
"A Aldeia Global", de Marshall
McLuhan.
"Big brother"
Embora trate de um tema científico, os microorganismos, o Salgueiro listou apenas seis títulos,
incluindo o best-seller "O Ponto
de Mutação", misto de divulgação
científica e militância ecológica
escrito nos anos 70 pelo físico austríaco Fritoj Capra.
No caldeirão de referências dos
carnavalescos Renato Lage e Márcia Lavia, ainda cabem "1984", romance do inglês George Orwell
em que nasceu o conceito de "big
brother", e os conhecidos filmes
de animação "FormiguinhaZ" e
"Vida de Inseto".
Já na Beija-Flor, livros didáticos
sobre a história da cidade mineira
de Poços de Caldas, patrocinadora do enredo, se unem à obra de
divulgação científica "Uma Breve
História do Tempo", do físico britânico Stephen Hawking, e fascículos vendidos nas bancas por
um jornal do Rio de Janeiro.
Texto Anterior: Manhã será o pior horário para viajar hoje Próximo Texto: Bono elogia Ivete e critica políticos Índice
|