São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 2006

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CARNAVAL 2006

Weber e Orwell "inspiram" enredos do Rio

Destinada aos jurados, a bibliografia do samba carioca inclui autores como Paulo Freire e Frijtof Capra e filmes como "FormiguinhaZ"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O espectador poderá não se dar conta, mas Fritoj Capra, George Orwell, Max Weber, Stephen Hawking, Hans Staden e Zygmunt Bauman estarão no Sambódromo carioca neste ano. Eles são alguns dos autores citados pelos carnavalescos como referências de seus enredos.
No caderno destinado aos jurados do desfile, todos as escolas precisam apresentar a bibliografia do enredo e outras fontes que tenham sido utilizadas.
Caçula dos carnavalescos, Cahe Rodrigues, 29, supera os outros 13 na bibliografia. O enredo "Bendita és tu entre as mulheres do Brasil", da Unidos do Porto da Pedra, consumiu 49 livros.
"Não vou dizer que li tudo, porque não li. Contei com a ajuda de três pessoas. Era necessária uma pesquisa aprofundada para não deixarmos de fora mulheres importantes", afirma Rodrigues, que contou ter recebido sugestões da ministra de Política para as Mulheres, Nilcéa Freire, entusiasta do enredo da escola.
Além de livros sobre grandes figuras femininas do país, Rodrigues cita "Duas Viagens ao Brasil", relato do alemão Hans Staden sobre o Brasil do século 16, e "Sobrados e Mucambos" (1936), estudo clássico do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre.
Para falar de música na avenida, Paulo Barros, da Unidos da Tijuca, praticamente desprezou os livros: sua bibliografia relaciona apenas oito títulos. Em compensação, ele listou 60 páginas pesquisadas na internet.
"A internet dá a informação mais rápida, precisa. Ela é uma grande biblioteca. Encontro tudo que preciso", afirma Barros.

Dinheiro e religião
Para achar o que precisava para seu enredo sobre dinheiro e felicidade, Alex de Souza, da Acadêmicos da Rocinha, consultou um livro de fotografias de Las Vegas (EUA), outro sobre os parques temáticos da Disney, 33 páginas de "A História da Riqueza do Homem", de Leo Huberman, e 20 páginas (43 a 63) de "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", obra fundamental de Max Weber, sociólogo alemão morto no início do século passado.
"O livro [de Weber] me ajudou a costurar o conceito. Eu precisava de algo sobre a formação do capitalismo, sobre o fato de a maioria das grandes nações ser protestante. Nesses países, dissociou-se dinheiro e pecado", diz Souza.
Procurado para explicar a presença de "Identidade", do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, na bibliografia de "A vida que pedi a Deus", enredo da Mocidade Independente, o carnavalesco Mauro Quintaes pediu que fosse procurado o jornalista Gustavo Melo. "Ele é quem faz meus textos", justificou.
"Bauman nos ajuda a entender a liquidez das relações de hoje, nesse mundo globalizado. E isso tem a ver com o final do desfile, uma homenagem ao "Tupinicópolis" [enredo de 1987 da Mocidade], em que haverá índios de patins", conta Melo, lamentando que, por um erro técnico, tenha ficado de fora da bibliografia a obra "A Aldeia Global", de Marshall McLuhan.

"Big brother"
Embora trate de um tema científico, os microorganismos, o Salgueiro listou apenas seis títulos, incluindo o best-seller "O Ponto de Mutação", misto de divulgação científica e militância ecológica escrito nos anos 70 pelo físico austríaco Fritoj Capra.
No caldeirão de referências dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lavia, ainda cabem "1984", romance do inglês George Orwell em que nasceu o conceito de "big brother", e os conhecidos filmes de animação "FormiguinhaZ" e "Vida de Inseto".
Já na Beija-Flor, livros didáticos sobre a história da cidade mineira de Poços de Caldas, patrocinadora do enredo, se unem à obra de divulgação científica "Uma Breve História do Tempo", do físico britânico Stephen Hawking, e fascículos vendidos nas bancas por um jornal do Rio de Janeiro.


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