São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Crianças aplicam trotes na porta da escola ou pelo celular

DA REPORTAGEM LOCAL

"Minha mãe está morrendo"; "Meu filho está nascendo"; "Vai tomar no ..., seu filho da p...." Esses foram alguns dos 588 trotes recebidos pelo Samu de São Paulo na última quinta. Todos eles aplicados por crianças de orelhões perto ou no interior de escolas ou de celulares.
Outras 402 ligações falsas foram feitas no mesmo dia por pessoas adultas. "Tem o cara que liga várias vezes para perguntar a cor da calcinha da atendente, o outro que quer vender um olho", diz a supervisora Cristiane Patrocínio.
Só o "cara da calcinha", como ficou conhecido no Samu, já chegou a aplicar 46 trotes em três horas. As atendentes tentaram identificá-lo, mas, ao ligarem para o número do celular que apareceu no bina, automaticamente entrou a mensagem da caixa postal. A solução encontrada foi não atender mais as ligações dele.
Esse tipo trote é prejudicial porque congestiona as linhas do serviço, o que pode retardar o atendimento de um caso real.
Na quinta, a Folha verificou que enquanto uma das funcionárias do Samu atendia um trote, outras duas ligações reais aguardaram em média dois minutos para serem atendidas. Não eram casos graves.
Há também o chamado "trote elaborado". "O adulto liga de um orelhão e dá detalhes do estado clínico da suposta vítima. Tudo parece real, mas quando a ambulância chega, descobre que não existe nada", conta Domingos Guilherme Napoli, coordenador de regulação médica do Samu de São Paulo.
Em 2007, das 1.416.967 ligações recebidas pelo serviço, 309.607 foram trotes de crianças e 50.822, de adultos - uma taxa de 29%. "Um terço dos acessos da população ao Samu é totalmente inútil e compromete o bom andamento do serviço de atendimento", diz.
Segundo ele, houve um período em que o serviço colocou uma gravação alertando que se tratava de um serviço de urgência e que o telefone estava sendo identificado, e a conversa gravada. Com isso, os trotes caíram 60%. Mas com a padronização dos Samus no país, em 2003, a gravação foi eliminada e os trotes voltaram a subir.
Ele diz que, mesmo com a triagem, por dia, as ambulâncias chegam a se deslocar 20 vezes inutilmente. Em uma dessas vezes, houve um chamado para atender um suposto parto em uma padaria. Ao chegar, a equipe se deparou com dois homens bêbados que haviam apostado em quanto tempo a ambulância chegaria. (CC)


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