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Crianças aplicam trotes na porta da escola ou pelo celular
DA REPORTAGEM LOCAL
"Minha mãe está morrendo";
"Meu filho está nascendo"; "Vai
tomar no ..., seu filho da p...."
Esses foram alguns dos 588 trotes recebidos pelo Samu de São
Paulo na última quinta. Todos
eles aplicados por crianças de
orelhões perto ou no interior
de escolas ou de celulares.
Outras 402 ligações falsas foram feitas no mesmo dia por
pessoas adultas. "Tem o cara
que liga várias vezes para perguntar a cor da calcinha da
atendente, o outro que quer
vender um olho", diz a supervisora Cristiane Patrocínio.
Só o "cara da calcinha", como
ficou conhecido no Samu, já
chegou a aplicar 46 trotes em
três horas. As atendentes tentaram identificá-lo, mas, ao ligarem para o número do celular que apareceu no bina, automaticamente entrou a mensagem da caixa postal. A solução
encontrada foi não atender
mais as ligações dele.
Esse tipo trote é prejudicial
porque congestiona as linhas
do serviço, o que pode retardar
o atendimento de um caso real.
Na quinta, a Folha verificou
que enquanto uma das funcionárias do Samu atendia um
trote, outras duas ligações reais
aguardaram em média dois minutos para serem atendidas.
Não eram casos graves.
Há também o chamado "trote elaborado". "O adulto liga de
um orelhão e dá detalhes do estado clínico da suposta vítima.
Tudo parece real, mas quando
a ambulância chega, descobre
que não existe nada", conta Domingos Guilherme Napoli,
coordenador de regulação médica do Samu de São Paulo.
Em 2007, das 1.416.967 ligações recebidas pelo serviço,
309.607 foram trotes de crianças e 50.822, de adultos - uma
taxa de 29%. "Um terço dos
acessos da população ao Samu
é totalmente inútil e compromete o bom andamento do serviço de atendimento", diz.
Segundo ele, houve um período em que o serviço colocou
uma gravação alertando que se
tratava de um serviço de urgência e que o telefone estava sendo identificado, e a conversa
gravada. Com isso, os trotes
caíram 60%. Mas com a padronização dos Samus no país, em
2003, a gravação foi eliminada
e os trotes voltaram a subir.
Ele diz que, mesmo com a
triagem, por dia, as ambulâncias chegam a se deslocar 20
vezes inutilmente. Em uma
dessas vezes, houve um chamado para atender um suposto
parto em uma padaria. Ao chegar, a equipe se deparou com
dois homens bêbados que haviam apostado em quanto tempo a ambulância chegaria.
(CC)
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