São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2004

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CASO OLIVETTO

Explosivo causou estragos materiais; protesto de grupo armado seria contra prisão de seqüestrador de publicitário

Consulado do Brasil no Chile sofre atentado

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O grupo armado chileno MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária) reivindicou a autoria do atentado a bomba ao consulado brasileiro em Santiago por meio de carta entregue à imprensa local, no noite de anteontem.
Segundo a mensagem, o objetivo do atentado foi fazer um protesto contra o tratamento dado ao ex-membro do grupo Mauricio Hernández Norambuena, condenado a 30 anos de prisão no Brasil pelo seqüestro, em 2001, do publicitário Washington Olivetto.
Mas as autoridades brasileiras e chilenas ainda investigam o caso para saber se o MIR, que foi a principal resistência armada à ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), é o verdadeiro responsável pela ação.
Demetrio Hernández, que, segundo a imprensa chilena, é secretário-geral do MIR, negou ontem a participação do grupo. Não descarta, no entanto, que ação tenha sido iniciativa de militantes. Para analistas, o MIR estaria inativo como organização.
"O motivo principal dessa ação é denunciar as condições deploráveis de reclusão e as permanentes arbitrariedades do poder político e judicial do Estado e governo brasileiros", afirma a carta supostamente assinada pelo MIR.
O artefato foi colocado no banheiro feminino da sala de atendimento ao público do consulado. A explosão ocorreu por volta das 17h (18h em Brasília) de anteontem. Não havia ninguém na sala nem no banheiro, pois o expediente já estava encerrado.
O cônsul Renato Xavier e assessores ainda trabalhavam no local, que fica no 15º andar de um prédio comercial.
Os responsáveis pelo atentado chegaram a avisar o consulado sobre a bomba. Ela explodiu antes que a polícia chegasse.
Na opinião de diplomatas brasileiros, a intenção não era ferir alguém, mas chamar a atenção. A conclusão se baseia na bomba, no local e no horário escolhidos.
Na carta, o grupo diz que continuará a agir contra o Brasil até que Norambuena seja libertado. "Seguiremos atuando, enquanto as condições políticas, jurídicas e de violação de seus direitos, como prisioneiros políticos, não melhorem substancialmente até conseguir as suas liberdades."
A segurança na embaixada brasileira em Santiago e no consulado (ficam em prédios diferentes) foi reforçada pela polícia chilena.
"Foi um ato bárbaro que, por acaso, não feriu ninguém", disse o embaixador brasileiro no Chile, Gelson Fonseca, que se encontrou ontem com o ministro do Interior do Chile, José Insulza, para se informar sobre as investigações. "É preocupante", afirmou Insulza, segundo a agência ""Reuters".
Em meados de 2003, cerca de 50 simpatizantes de Norambuena se aglomeraram em frente à embaixada brasileira. Desde então, a segurança do local foi reforçada. O mesmo cuidado não foi tomado no consulado.
Ontem, o consulado abriu normalmente. Foi montado, no entanto, um esquema de identificação dos visitantes.
Norambuena cumpre a pena no presídio de segurança máxima em Presidente Bernardes (SP).
Existe um pedido de extradição para o seqüestrador, protocolado pelo governo chileno em 2002. O processo ainda não foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo o ministro responsável pelo caso, Celso de Mello, o julgamento, na pauta desde novembro, não ocorre por pedidos de adiamento feitos pelo advogado Jaime Alejandro Motta Salazar.


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