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PESADELO AMERICANO
Irmã de imigrante morto acusa político
PF investiga prefeito em esquema de imigração ilegal para os EUA
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
A família do imigrante ilegal
Wendell Johnatan Pereira, 23,
morto em janeiro após atravessar
a fronteira México-Estados Unidos, acusa o prefeito de São Félix
de Minas, Wanderley Vieira de
Souza (PT), 34, de ser o agenciador da viagem e diz que foi ameaçada para que não o denunciasse.
Segundo a Polícia Federal, ele é o
principal responsável de um esquema de imigração ilegal na cidade mineira.
A PF, que abriu um inquérito
para apurar a denúncia, fez uma
operação de busca e apreensão na
casa do prefeito. Foram encontrados documentos mostrando que
Vieira de Souza recebera dinheiro
de pessoas que viajaram aos Estados Unidos pelo México.
"Trata-se uma organização criminosa, envolvendo diversas pessoas em São Félix, Governador
Valadares e toda a região, com
participação de pessoas em São
Paulo", disse o delegado Rui Antonio da Silva.
Vieira de Souza é o segundo
prefeito da região que estaria envolvido com a travessia de imigrantes ilegais. Em dezembro, a
Folha revelou que Edson Bodola
(PPS), de Divino das Laranjeiras,
tinha participação num esquema
semelhante.
O corpo de Pereira foi encontrado na cidade de Laredo (Texas),
no dia 11 de janeiro. Sem documentos, sua morte foi notificada
ao Consulado do Brasil porque o
rapaz usava uma calça brasileira.
Segundo Weslayne, 19, irmã de
Pereira, o prefeito foi à casa da família, em Governador Valadares,
entre o desaparecimento e descoberta do corpo. Ali, disse que a família corria perigo caso o denunciasse. "No dia que ele veio, nós
dissemos que, se ele não achasse o
nosso irmão, iríamos denunciá-lo. Falou que as pessoas envolvidas nisso eram muito perigosas."
Segundo a família, Pereira, que
era funcionário público de São
Félix, viajou com outras três pessoas da cidade, todas agenciadas
pelo prefeito. Ele pagaria a viagem, orçada em US$ 10 mil, durante 12 meses com o dinheiro
que ganharia trabalhando ilegalmente na Flórida.
Weslayne disse que, após a confirmação da morte, o prefeito havia prometido, por meio de um
intermediário, pagar o traslado
do corpo, cujas despesas foram
estimadas em US$ 8.000. Segundo
a irmã, ele mais tarde disse que
não tinha esse dinheiro.
A adolescente afirma que a família está assustada. "Quando
preciso ir à rua, a minha mãe fica
em pânico. É tanta coisa acontecendo, tanta conversa que chega."
Pereira foi o primeiro brasileiro
encontrado morto neste ano na
fronteira México-EUA. Como
funcionário da prefeitura de São
Félix, recebia cerca de R$ 400.
Noivo, queria trabalhar durante
três anos na Flórida para economizar dinheiro e se casar.
Um dos que propuseram a instalação da CPI para apurar a imigração ilegal via México, o senador Marcelo Crivella (PL-RJ) disse que o suposto envolvimento de
prefeitos o deixou "horrorizado".
"Se as denúncias forem confirmadas, eles serão os primeiros a
serem chamados para depor e sofrerão as sanções penais. A CPI foi
criada justamente para isso."
Segundo os EUA, os brasileiros
são o grupo que mais tem crescido em detenções na fronteira com
o México. Nos últimos cinco anos,
o crescimento foi de 1.665%, passando de menos de 500 para mais
de 8.600 pessoas em 2004.
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