São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

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PESADELO AMERICANO

Irmã de imigrante morto acusa político

PF investiga prefeito em esquema de imigração ilegal para os EUA

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

A família do imigrante ilegal Wendell Johnatan Pereira, 23, morto em janeiro após atravessar a fronteira México-Estados Unidos, acusa o prefeito de São Félix de Minas, Wanderley Vieira de Souza (PT), 34, de ser o agenciador da viagem e diz que foi ameaçada para que não o denunciasse. Segundo a Polícia Federal, ele é o principal responsável de um esquema de imigração ilegal na cidade mineira.
A PF, que abriu um inquérito para apurar a denúncia, fez uma operação de busca e apreensão na casa do prefeito. Foram encontrados documentos mostrando que Vieira de Souza recebera dinheiro de pessoas que viajaram aos Estados Unidos pelo México.
"Trata-se uma organização criminosa, envolvendo diversas pessoas em São Félix, Governador Valadares e toda a região, com participação de pessoas em São Paulo", disse o delegado Rui Antonio da Silva.
Vieira de Souza é o segundo prefeito da região que estaria envolvido com a travessia de imigrantes ilegais. Em dezembro, a Folha revelou que Edson Bodola (PPS), de Divino das Laranjeiras, tinha participação num esquema semelhante.
O corpo de Pereira foi encontrado na cidade de Laredo (Texas), no dia 11 de janeiro. Sem documentos, sua morte foi notificada ao Consulado do Brasil porque o rapaz usava uma calça brasileira.
Segundo Weslayne, 19, irmã de Pereira, o prefeito foi à casa da família, em Governador Valadares, entre o desaparecimento e descoberta do corpo. Ali, disse que a família corria perigo caso o denunciasse. "No dia que ele veio, nós dissemos que, se ele não achasse o nosso irmão, iríamos denunciá-lo. Falou que as pessoas envolvidas nisso eram muito perigosas."
Segundo a família, Pereira, que era funcionário público de São Félix, viajou com outras três pessoas da cidade, todas agenciadas pelo prefeito. Ele pagaria a viagem, orçada em US$ 10 mil, durante 12 meses com o dinheiro que ganharia trabalhando ilegalmente na Flórida.
Weslayne disse que, após a confirmação da morte, o prefeito havia prometido, por meio de um intermediário, pagar o traslado do corpo, cujas despesas foram estimadas em US$ 8.000. Segundo a irmã, ele mais tarde disse que não tinha esse dinheiro.
A adolescente afirma que a família está assustada. "Quando preciso ir à rua, a minha mãe fica em pânico. É tanta coisa acontecendo, tanta conversa que chega."
Pereira foi o primeiro brasileiro encontrado morto neste ano na fronteira México-EUA. Como funcionário da prefeitura de São Félix, recebia cerca de R$ 400. Noivo, queria trabalhar durante três anos na Flórida para economizar dinheiro e se casar.
Um dos que propuseram a instalação da CPI para apurar a imigração ilegal via México, o senador Marcelo Crivella (PL-RJ) disse que o suposto envolvimento de prefeitos o deixou "horrorizado".
"Se as denúncias forem confirmadas, eles serão os primeiros a serem chamados para depor e sofrerão as sanções penais. A CPI foi criada justamente para isso."
Segundo os EUA, os brasileiros são o grupo que mais tem crescido em detenções na fronteira com o México. Nos últimos cinco anos, o crescimento foi de 1.665%, passando de menos de 500 para mais de 8.600 pessoas em 2004.


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