São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

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PF agora diz que preso se matou com lâmina

Inicialmente, a polícia havia informado que acusado de traficar cocaína usara uma faca de plástico para cortar artéria

O Ministério Público Federal vai investigar se houve responsabilidade da PF na morte do técnico em química João Alves, 38

ARTUR RODRIGUES
DO "AGORA"

Depois de informar que um preso sob sua custódia havia se suicidado usando uma faca de plástico sem ponta para cortar uma artéria do pescoço no último sábado, a Polícia Federal de São Paulo mudou ontem sua versão sobre o episódio.
A nova hipótese, levantada ontem para a morte do homem que estava em uma cela individual na superintendência da PF, na Lapa (zona oeste), é que o detento tenha se matado usando uma lâmina de barbear.
O Ministério Público Federal instaurou inquérito para apurar se houve responsabilidade da PF na morte. O homem havia sido detido na última sexta-feira, acusado de traficar 1,2 tonelada de cocaína.
Nota de ontem da PF informa que peritos encontraram na cela "uma pequena lâmina, aparentemente oriunda de um aparelho de barbear descartável". "Tal fato faz com que seja abandonada a hipótese preliminar de que os ferimentos poderiam ter sido causados pela faca de plástico servida com a refeição do almoço", diz a nota.
Segundo a PF, às 16h de sábado uma marca de sangue na parede próxima ao sanitário chamou a atenção do agente de plantão. O técnico em química João Mendonça Alves, 38, foi encontrado deitado de bruços na cama da cela.
O preso foi encaminhado ao hospital, onde teria morrido às 16h52, em decorrência da hemorragia causada por três cortes no pescoço.
O Ministério Público Federal informou que vai investigar se "ação ou omissão" da PF causou a morte de Alves.
Ele havia sido preso 24 horas antes em sua casa, em Itaquera (zona leste), suspeito de operar uma empresa de fachada, usada para transportar cocaína em tubos de álcool em gel.
Um parente de João Alves, que pediu para não ser identificado, afirmou acreditar que tanto o envolvimento com o tráfico de drogas quanto o suposto suicídio foram forjados.
Segundo esse parente, o técnico não era criminoso e isso será esclarecido. Ele afirmou que Alves nunca havia sido preso e tinha emprego fixo, como responsável por uma empresa do ramo químico.
O secretário-geral do Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana), Ariel de Castro Alves, também questiona a PF. "A mudança de versão aumenta as suspeitas sobre a idoneidade e a imparcialidade da investigação."
O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que o caso será investigado, mas adiantou que o laudo da PF deve confirmar que o caso se tratou de suicídio.

Perito
O perito criminal Ricardo Molina classificou como "improvável" a primeira versão apresentada pela PF, de que o preso tivesse se matado com uma faca de plástico sem ponta. "Não é impossível, já que há relatos de suicídio até com folhas de papel. Mas seria muito difícil com uma faca desse tipo."
Segundo o perito, o laudo do IML deveria especificar o objeto que matou a vítima, o que não costuma acontecer.


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