São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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entrevista

Criança passou a ser objeto sexual, afirma psicóloga

JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A violência contra crianças, sexual ou não, ocorre, em muitos casos, em ambiente de violência contra a mãe. Os primeiros sinais, como afastamento e pesadelos, podem ser notados precocemente na escola ou por médicos, evitando consequências mais graves. Quem diz é a psicóloga Carmen Oliveira, subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, ligada à Presidência. A seguir, trechos da entrevista:

 

FOLHA - Há explicação para tantos novos casos de violência contra a criança?
CARMEN OLIVEIRA
- O tema não é um fato novo, tampouco se entende que esteja atingindo maiores proporções. É um momento em que a nossa sociedade está mais alerta. O abuso sexual é mais silenciado que a exploração sexual, porque se dá num ambiente conhecido da criança e do adolescente: são familiares, vizinhos, pessoas do bairro. Temos fatores para esse problema ter ganhado essa dimensão. Um exemplo é o corpo juvenil ter passado a ser um ideal social, o que faz com que as crianças passem a ser um objeto sexual desejado.

FOLHA - Qual é o papel da mãe numa suspeita de agressão dentro de casa contra seu filho?
OLIVEIRA
- É muito recorrente escutar de mulheres que elas não buscam um segundo casamento porque sabem dos riscos de colocar outro homem em casa. E é frequente que, onde tenha abuso sexual, tenha uma violência extensiva à companheira.

FOLHA - Essas crianças abusadas têm ideia do que ocorre?
OLIVEIRA
- Temos um conjunto de sinais que permite a suspeita, que, uma vez conhecido, poderia originar uma intervenção mais rápida. Em sala de aula, você identifica essa criança. Ela começa a ficar mais ansiosa, se isola do grupo, tem prejuízo no rendimento escolar. Por outro lado, essa criança passa a ter problemas de sono, pesadelos, ou até problemas de saúde decorrentes do início precoce da atividade sexual, como sangramentos.

FOLHA - Há falhas no sistema que trabalha as denúncias?
OLIVEIRA
- A gente sabe que há falhas na apuração e na responsabilização por parte da Justiça quando o agressor tem maior poder aquisitivo. Outra é a insuficiência de varas da infância e da juventude. O Conselho Nacional de Justiça está fazendo um diagnóstico e criará parâmetros para criação e funcionamento das varas.

FOLHA - Como esse caso de Catanduva, há outros grandes?
OLIVEIRA
- O caso de Catanduva implica em uma rede organizada no Brasil. É a ponta de um iceberg, com crianças de todas as classes.


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