São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 2000


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TRANSPLANTES
Secretaria de Estado da Saúde institui fila única de receptores para evitar suspeitas sobre sistema
São Paulo centraliza doação de córnea

PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

A partir do próximo dia 2 de maio, a doação de córneas em São Paulo passará a ser controlada e fiscalizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Nessa data, começam a ser usadas listas regionais que vão centralizar os nomes dos candidatos a receber uma córnea no Estado.
A Central de Transplantes de São Paulo dividiu o Estado em dez regiões -quatro na capital e Grande São Paulo e seis no interior. Cada região terá uma lista de receptores e contará com uma OPC (organização de procura de córneas), normalmente um hospital universitário que já tem estrutura montada e que será responsável pela captação de córneas para todos os hospitais e clínicas de sua região.
Na capital, as listas regionais terão como OPCs o Hospital das Clínicas, o Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo, a Santa Casa e o Hospital do Servidor Público Estadual.
"Decidimos criar mais que uma lista para que o receptor esteja próximo do local onde o órgão for captado", afirma Luiz Augusto Pereira, coordenador da Central de Transplantes da capital.
Ao contrário dos transplantes de rim, fígado e coração -que possuem um cadastro único conforme regulamentou a lei dos transplantes-, a doação de córneas é até hoje descentralizada. Ou seja, os hospitais captam as córneas e as distribuem entre os pacientes de suas próprias listas.
Como ocorria com os outros transplantes antes da criação da lista única, a descentralização da doação suscita dúvidas quanto à transparência do sistema. Para alguns, o fato de não haver um controle do governo beneficia aqueles pacientes de melhor poder aquisitivo, que poderiam pagar para obter o órgão com mais rapidez.
"A partir de agora, um sistema informatizado vai permitir que o próprio paciente acompanhe sua posição na lista pelo computador, tornando o sistema transparente", diz Isaac Newstein, presidente do banco de olhos do Hospital do Servidor Público Estadual, onde 70 pessoas aguardam de três a seis meses por uma córnea.
Todos os hospitais, públicos ou privados, e clínicas particulares que realizam transplante de córnea devem enviar à Central de Transplantes todos nomes dos receptores que constam de suas listas de espera.
Eles serão reorganizados de acordo com a divisão geográfica e com a data de sua inscrição no hospital. À medida que as OPCs notificarem a central sobre as córneas disponíveis, os pacientes serão chamados de acordo com sua posição na lista da região em que está localizado seu hospital.
O coordenador diz que o Estado "não tem a menor idéia" da demanda por córnea em São Paulo. A partir da criação das listas, será possível conhecer esse dado e impedir que pacientes se inscrevam em mais de uma lista, o que ele acredita ser muito comum hoje. "Vamos cruzar todas as listas e evitar a dupla inscrição", afirma.
O Hospital das Clínicas de São Paulo, que já chegou a ter mais de 200 pessoas em fila com uma espera mínima de seis meses tem hoje uma lista menor: são cerca de 60 pacientes que aguardam uma córnea por, em média, três meses. "Conseguimos reduzir a lista melhorando a captação de córneas", diz o oftalmologista Newton Kara José, da USP e da Unicamp. "É possível reduzir ainda mais."
No próximo sábado, o HC realizará uma campanha para buscar pessoas que precisam de uma córnea (leia ao lado).
No Hospital São Paulo, da Unifesp, a demanda ainda é grande. Segundo Elcio Sato, responsável pelo banco de olhos da instituição, há cerca de 200 pacientes aguardando uma córnea. A espera varia de seis meses a um ano.
"Não sei se a criação das listas vai aumentar o número de transplantes, mas com certeza vai organizá-los, o que traz maior confiança ao paciente", diz.


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