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URBANIDADE
Marketing no parque
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
D ia ensolarado no
parque. A criança, suada,
compra um sorvete, diverte-se
com as lambidas doces e geladas,
colore os lábios e os beiços; se o
sorvete for de casquinha, as marcas do prazer se estenderão fatalmente, para desgosto da mãe, pela camiseta. Essas cenas, tão ingênuas e rotineiras, escondem um
segredo.
Nem a criança nem seus pais
imaginariam que os beiços lambuzados pudessem denunciar um
delito. De acordo com a lei, aquele prazer infantil é proibido.
Ao buscar mecanismos de parceria para atrair recursos da iniciativa privada aos parques da cidade de São Paulo, a secretária
municipal do Meio Ambiente,
Stela Goldenstein, estudou a legislação e descobriu absurdos.
Ninguém pode vender nada nos
parques: nem sorvete, nem pipoca, nem refrigerante. Quem vende
está na ilegalidade. "É uma enorme bobagem e, por isso, a lei não é
aplicada", diz Stela.
A legislação dificulta, porém, o
lançamento de um plano para
trazer aos parques recursos que
garantam a sua preservação e novos investimentos -recursos de
que a prefeitura não dispõe.
Numa espécie de marketing
ecológico, Stela está recebendo
propostas de patrocínio aos parques, um bom negócio publicitário e, ao mesmo tempo, uma fonte
de recursos para a cidade.
Grandes empresas já demonstraram interesse em bancar os
custos de parques como o Ibirapuera, desde que possam divulgar
suas marcas: a publicidade atingiria, em cheio, uma classe média
com bom poder aquisitivo. Tamanha é a disposição de patrocínio que nasceu a idéia de realizar
uma licitação e, entre os participantes dela, escolher o que der
mais dinheiro. "Gostaríamos que
as empresas tivessem até a chance
de manter um show room dentro
do parque", afirma a secretária.
Mas a legislação é restritiva.
Proíbe atividades comerciais e limita a exposição das marcas das
empresas patrocinadoras. Para
superar essas restrições, a secretária do Meio Ambiente quer aprovar na Câmara Municipal novas
leis para os parques.
Na lógica da exclusão urbana, é
fácil patrocinar um Ibirapuera ou
um parque do Morumbi -bem
mais complicado, porém, é levar
dinheiro para as áreas verdes da
periferia, frequentadas por pessoas mais pobres.
A solução é definir obrigações:
quem ganhasse o Ibirapuera teria
de adotar parques na periferia.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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