São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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URBANIDADE

Marketing no parque

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

D ia ensolarado no parque. A criança, suada, compra um sorvete, diverte-se com as lambidas doces e geladas, colore os lábios e os beiços; se o sorvete for de casquinha, as marcas do prazer se estenderão fatalmente, para desgosto da mãe, pela camiseta. Essas cenas, tão ingênuas e rotineiras, escondem um segredo.
Nem a criança nem seus pais imaginariam que os beiços lambuzados pudessem denunciar um delito. De acordo com a lei, aquele prazer infantil é proibido.
Ao buscar mecanismos de parceria para atrair recursos da iniciativa privada aos parques da cidade de São Paulo, a secretária municipal do Meio Ambiente, Stela Goldenstein, estudou a legislação e descobriu absurdos.
Ninguém pode vender nada nos parques: nem sorvete, nem pipoca, nem refrigerante. Quem vende está na ilegalidade. "É uma enorme bobagem e, por isso, a lei não é aplicada", diz Stela.
A legislação dificulta, porém, o lançamento de um plano para trazer aos parques recursos que garantam a sua preservação e novos investimentos -recursos de que a prefeitura não dispõe.
Numa espécie de marketing ecológico, Stela está recebendo propostas de patrocínio aos parques, um bom negócio publicitário e, ao mesmo tempo, uma fonte de recursos para a cidade.
Grandes empresas já demonstraram interesse em bancar os custos de parques como o Ibirapuera, desde que possam divulgar suas marcas: a publicidade atingiria, em cheio, uma classe média com bom poder aquisitivo. Tamanha é a disposição de patrocínio que nasceu a idéia de realizar uma licitação e, entre os participantes dela, escolher o que der mais dinheiro. "Gostaríamos que as empresas tivessem até a chance de manter um show room dentro do parque", afirma a secretária.
Mas a legislação é restritiva. Proíbe atividades comerciais e limita a exposição das marcas das empresas patrocinadoras. Para superar essas restrições, a secretária do Meio Ambiente quer aprovar na Câmara Municipal novas leis para os parques.
Na lógica da exclusão urbana, é fácil patrocinar um Ibirapuera ou um parque do Morumbi -bem mais complicado, porém, é levar dinheiro para as áreas verdes da periferia, frequentadas por pessoas mais pobres.
A solução é definir obrigações: quem ganhasse o Ibirapuera teria de adotar parques na periferia.
E-mail - gdimen@uol.com.br



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