São Paulo, segunda, 25 de maio de 1998

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DROGAS
Pesquisa revela que 20% dos alunos da universidade usam a droga com frequência; tabaco é fumado por 27%
Maconha e cigarro concorrem na USP

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

Na Universidade de São Paulo, a maconha se transformou num hábito tão comum como fumar cigarro. De cada 100 alunos, 20 fumam maconha com frequência; 27 costumam fumar cigarro.
Em pelo menos um campus do interior, o de Pirassununga (207 km ao norte de São Paulo), a porcentagem de fumantes frequentes de tabaco e de maconha está empatada em 31%.
Esses são alguns dos resultados de pesquisa feita por psiquiatras com 4.395 alunos das faculdades da capital e interior, a ser apresentada hoje num seminário sobre maconha convocado pelo reitor da USP, Jacques Marcovitch.
"Estamos em busca de alternativas", explica o reitor, que convocou para o encontro estudiosos favoráveis e contrários à descriminação da maconha.
O seminário faz parte de um programa encomendado a psiquiatras e psicólogas da USP para prevenção e tratamento de dependentes de drogas.
Relatório reservado da Polícia Civil sustenta que o tráfico de drogas é disseminado nas faculdades. A venda seria facilitada pela proximidade das favelas, onde haveria quadrilhas organizadas de tráfico.
A pesquisa será apresentada pelo psiquiatra Artur Guerra, coordenador do Grea (Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Droga), do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina. "As drogas correm livremente na universidade. E temos de saber como lidar com isso", diz Guerra.
Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes de Drogas), não considera a conclusão da pesquisa alarmante. "Essa é uma pesquisa de uso, não de dependência à droga."
Segundo ele, esse estudo é importante para que se tenha um mapeamento do que acontece entre os jovens. "A juventude é a fase do experimento."
Há controvérsias sobre os efeitos da maconha comparados ao do tabaco. "O que está matando hoje é o cigarro, não a maconha", diz Elisaldo Carlini, chefe do Centro Brasileiro de Estudos de Drogas Psicotrópicas. "Isso não significa que a maconha não cause danos."
Pela pesquisa que vai ser divulgada hoje, a situação é mais grave no interior, onde o estudante está longe da família e há menos opções de lazer. Na capital, os usuários frequentes de maconha -ou seja, fumaram nos 30 dias anteriores à pesquisa- somam 15%.
No interior, chegam a 31% em Pirassununga, 19,7% em Bauru e 20,7% em Piracicaba. "São números subestimados. Muita gente tem receio de admitir algo clandestino", diz Guerra.
Quando se somam todas as drogas -cocaína, maconha, anfetaminas ou inalantes-, a situação se torna mais delicada. De cada 100 alunos das áreas de biológicas da USP na capital, período noturno, 26 usam algum tipo de droga.
Guerra conduziu uma investigação exclusivamente nas faculdades de medicina de São Paulo - e também encontrou as drogas disseminadas, embora em menor proporção. O estudo coletou 3.725 entrevistas de nove faculdades, registrando que 9% dos estudantes fumam constantemente maconha. É quase a mesma porcentagem dos consumidores de cigarro: 10%.



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