São Paulo, domingo, 25 de junho de 2000


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SEGURANÇA
Segundo o Datafolha, a melhor imagem é da PF, na qual 51% dos brasileiros dizem ter mais confiança do que medo
Brasileiro teme polícia e vê corrupção

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Policial durante blitz em um ônibus na avenida Rodrigues Alves, centro do Rio; a estratégia de interromper o trânsito e revistar carros e ônibus adotada nos últimos dias pela Secretaria da Segurança Pública do Rio é inadequada para reduzir a criminalidade, avaliam comandantes e subcomandantes de batalhões da PM incumbidos da tarefa e ouvidos pela Folha


DA REDAÇÃO

As Polícias Militar e Civil, responsáveis pelo policiamento ostensivo e preventivo das cidades, amedrontam aqueles a quem deveriam dar segurança. Dois terços dos brasileiros dizem ter mais medo do que confiança na PM. O mesmo sentimento é declarado por 59% em relação aos policiais civis, segundo o Datafolha.
Os moradores do Estado do Rio são os que mais temem (77%) o comportamento da Polícia Militar, que neste ano adotou a estratégia de invadir morros e favelas para tentar dominar ações do crime organizado.
No último dia 12, em uma ação desastrada para pôr fim ao sequestro de um ônibus, a tropa de elite da PM fluminense permitiu que o sequestrador matasse uma das reféns e, depois de render o criminoso, o matou por asfixia.
Em São Paulo, Pernambuco, Distrito Federal, Bahia e Ceará, esse mesmo tipo de insegurança é relatado por cerca de dois terços dos moradores. No DF, em dezembro, policiais militares mataram com um tiro um servidor público durante manifestação.
Só no primeiro trimestre deste ano, a Polícia Militar paulista foi responsável pela morte de 168 pessoas. A Polícia Civil, 25.
A falta de confiança nessas forças de segurança é maior entre os segmentos mais jovens da população (de 16 a 34 anos) e entre os moradores das regiões metropolitanas dos Estados pesquisados.
Curiosamente, a camada da população de menor renda (classes D e E), que com frequência é alvo das arbitrariedades policiais, é a que declara maior confiança nessas corporações repressivas.
Além de ver abusos nas Polícias Militar e Civil, a maioria da população brasileira (cerca de três quartos) considera que em ambas as forças há envolvimento de grande parte de seus quadros com a corrupção e o crime organizado.
A eficiência dessas polícias em ações que previnam a ocorrência de crimes é duvidosa. Para 61% dos 11.534 brasileiros entrevistados, a PM é um pouco eficiente no policiamento preventivo. A mesma avaliação é feita por 59% em relação à Polícia Civil.
Em grau um pouco abaixo (56%), a mesma avaliação é feita para o desempenho das equipes de segurança pública quando combatem o crime depois que ele ocorre. Cerca de um quarto dos brasileiros, no entanto, considera que a polícia não é nada eficiente para resolver assaltos, mortes e outras ocorrências.
Essa sensação de certa incompetência das equipes policiais não deixa de ter fundamento. A Polícia Civil de São Paulo, por exemplo, que é uma das mais bem equipadas do país e com maior efetivo, conseguiu em 1998 resolver apenas 52% dos homicídios investigados.
Um dos objetivos do Plano Nacional de Segurança Pública lançado na semana passada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso é justamente oferecer aos Estados condições para melhorar a qualidade do corpo policial.
O Palácio do Planalto vai colocar à disposição dos governadores neste ano R$ 330 milhões para que eles possam investir no aprimoramento das forças de segurança. A distribuição dos recursos vai ser feita de acordo com os compromissos assumidos pelos governos estaduais para reduzir as taxas de criminalidade.
Hoje no Brasil, existem 103.903 policiais civis. O efetivo das Polícias Militares soma 368.900 homens. Os dados são do Ministério da Justiça e relativos a fevereiro último. Com esses números, calcula-se que exista um policial para atender 353 brasileiros.

Polícia Federal
Segundo a pesquisa do Datafolha, a população tem uma imagem mais positiva da Polícia Federal, que tem entre suas principais atribuições o controle das fronteiras e o combate ao narcotráfico e ao contrabando.
Ao contrário dos outros policiais, os federais inspiram mais confiança do que medo. A opinião é de 51% dos entrevistados e mais forte entre os moradores de Estados do Nordeste (57%) e entre os que habitam as regiões Norte/ Centro-Oeste (59%).
Essa maior confiança na PF não significa que os brasileiros considerem que a instituição está livre de ter a sua banda podre, expressão usada para cunhar os policiais envolvidos com organizações criminosas e corrupção. De acordo com a pesquisa, 19% acham que a maioria dos agentes federais está nessa situação e 39% consideram que muitos estão corrompidos, mas não a maioria.
Cerca de um terço, no entanto, afirmou que é raro um caso de policial federal que tenha participação em esquemas ilegais.
Comparada com as Polícias Militar e Civil, a PF é vista como um pouco mais competente para resolver ou prevenir crimes.
Com o plano de segurança de FHC, a Polícia Federal vai contratar 2.000 novos agentes e 461 cargos vagos vão ser preenchidos.
Esse descrédito em relação às forças de segurança pública revelado pelo Datafolha talvez sirva de explicação para o apoio de 75% dos brasileiros à tese sobre a convocação do Exército para ir às ruas combater a violência.
A proposta que tem hoje no senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) o seu maior defensor é vista com mais simpatia pelos moradores das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste e entre os brasileiros que integram as classes D e E. Em todos esses segmentos, o apoio é de 80%.


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