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SAÚDE
130 países se reunirão de hoje até quarta-feira para discutir ações conjuntas de prevenção e tratamento da doença
ONU tenta aprovar plano global anti-Aids
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A Organização das Nações Unidas (ONU) abre hoje a sessão especial da Assembléia Geral sobre
"HIV/Aids - Crise Global, Ação
Global". A cerimônia acontece no
prédio da sede, em Nova York, já
enfeitado com uma gigantesca fita
vermelha, o símbolo internacional da luta contra a epidemia.
A convenção dura três dias, reúne mais de 130 países e tem como
objetivo aprovar um plano conjunto de prevenção e tratamento
da doença no mundo inteiro. Estimativas dão conta de que 36 milhões de pessoas estão infectadas
com o vírus do HIV no planeta, 25
milhões só na África.
Um dos quase 500 debates previstos será sobre o verdadeiro cálice sagrado na história da doença: a busca pela vacina anti-Aids.
Há algumas semanas, na sua
convenção anual, o laboratório
Merck anunciou que iria iniciar
testes de seu protótipo de vacina
em humanos, após obter sucesso
em macacos. Foi o suficiente para
agitar a comunidade científica
mundial e valer o painel sobre o
assunto na reunião da ONU.
Há outros 35 protótipos de vacina sendo testados por outros laboratórios no mundo inteiro no
momento e pelo menos outras
duas em testes com humanos,
mas a da Merck é a que apresentou melhores resultados até agora. O principal cientista por trás
dessa pesquisa é o americano
John Shiver, 43, que deu a seguinte entrevista à Folha:
Folha - Quanto tempo falta para a
vacina efetiva anti-Aids?
John Shiver - Ainda é muito cedo
para dizer. Os estudos pré-clínicos e pré-humanos que fizemos
foram realizados em macacos. Há
muito pouco tempo começamos
a fazer os primeiros testes com esse tipo de vacina em humanos. É
um processo complicado, temos
de entender como a vacina vai
funcionar nas pessoas, se elas vão
tolerar bem o processo, e há muitas outras perguntas que ainda teremos de responder.
Folha - É verdade que macacos
saudáveis que foram vacinados
continuaram saudáveis mesmo
após receberem uma injeção com o
vírus da doença?
Shiver - É verdade. Já faz oito
meses que macacos vacinados e
não-vacinados receberam o vírus.
Quatro dos seis que receberam o
vírus, mas não a vacina, morreram. E nenhum dos três macacos
que foram vacinados e receberam
o vírus apresentou sinal de Aids.
Folha - Os testes em humanos começaram em abril. Quais foram os
resultados até agora?
Shiver - Também é cedo para dizer. Por enquanto só estamos procurando saber se a vacina é mesmo segura. Aplicamos e passamos um tempo grande observando os indivíduos, fazendo vários
testes médicos. O que vamos tentar saber é se os tipos de resposta
de imunidade que acreditamos
ser importantes podem ser produzidos pela vacina.
Folha - Vocês estão testando em
voluntários saudáveis. Quais as implicações éticas?
Shiver - Bem, o tipo de vacina
que estamos fazendo pode ser importante tanto para as pessoas
que não foram infectadas, como
proteção, mas também para pessoas infectadas. Ou seja, estamos
trabalhando numa pesquisa que
pode ter um papel muito importante na solução de um dos maiores problemas da humanidade.
Folha - Se entendi corretamente,
a vacina estimula a liberação no
sangue do CD8, substância que mata as células infectadas pelo HIV,
mas não o vírus.
Shiver - Sim, esse é o conceito. O
que acontece é que você tem os
glóbulos brancos e os glóbulos
vermelhos no seu corpo, e um tipo de glóbulo branco é a chamada
"célula T". Uma das variedades
desta "célula T" pode se transformar no que chamamos de "célula
T assassina", ou CTL. E essa CTL
pode matar as células infectadas
pelo vírus. Então, desenvolvemos
um tipo de célula que pode matar
outras células, as infectadas, mas
não o vírus.
Folha - A Merck foi um dos laboratórios que esteve na mira do Ministério da Saúde brasileiro, que poderia quebrar a patente do laboratório, até que baixou os preços do
Crixivan e do Stocrin no país. Como
cientista, o que o sr. acha disso?
Shiver - Veja bem, sou apenas
um cientista, não posso responder pela parte financeira. Mas
acredito que soluções já estão sendo alcançadas neste sentido, mesmo no caso brasileiro, não?
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