São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2001

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SAÚDE

130 países se reunirão de hoje até quarta-feira para discutir ações conjuntas de prevenção e tratamento da doença

ONU tenta aprovar plano global anti-Aids

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A Organização das Nações Unidas (ONU) abre hoje a sessão especial da Assembléia Geral sobre "HIV/Aids - Crise Global, Ação Global". A cerimônia acontece no prédio da sede, em Nova York, já enfeitado com uma gigantesca fita vermelha, o símbolo internacional da luta contra a epidemia.
A convenção dura três dias, reúne mais de 130 países e tem como objetivo aprovar um plano conjunto de prevenção e tratamento da doença no mundo inteiro. Estimativas dão conta de que 36 milhões de pessoas estão infectadas com o vírus do HIV no planeta, 25 milhões só na África.
Um dos quase 500 debates previstos será sobre o verdadeiro cálice sagrado na história da doença: a busca pela vacina anti-Aids.
Há algumas semanas, na sua convenção anual, o laboratório Merck anunciou que iria iniciar testes de seu protótipo de vacina em humanos, após obter sucesso em macacos. Foi o suficiente para agitar a comunidade científica mundial e valer o painel sobre o assunto na reunião da ONU.
Há outros 35 protótipos de vacina sendo testados por outros laboratórios no mundo inteiro no momento e pelo menos outras duas em testes com humanos, mas a da Merck é a que apresentou melhores resultados até agora. O principal cientista por trás dessa pesquisa é o americano John Shiver, 43, que deu a seguinte entrevista à Folha:

Folha - Quanto tempo falta para a vacina efetiva anti-Aids?
John Shiver -
Ainda é muito cedo para dizer. Os estudos pré-clínicos e pré-humanos que fizemos foram realizados em macacos. Há muito pouco tempo começamos a fazer os primeiros testes com esse tipo de vacina em humanos. É um processo complicado, temos de entender como a vacina vai funcionar nas pessoas, se elas vão tolerar bem o processo, e há muitas outras perguntas que ainda teremos de responder.

Folha - É verdade que macacos saudáveis que foram vacinados continuaram saudáveis mesmo após receberem uma injeção com o vírus da doença?
Shiver -
É verdade. Já faz oito meses que macacos vacinados e não-vacinados receberam o vírus. Quatro dos seis que receberam o vírus, mas não a vacina, morreram. E nenhum dos três macacos que foram vacinados e receberam o vírus apresentou sinal de Aids.

Folha - Os testes em humanos começaram em abril. Quais foram os resultados até agora?
Shiver -
Também é cedo para dizer. Por enquanto só estamos procurando saber se a vacina é mesmo segura. Aplicamos e passamos um tempo grande observando os indivíduos, fazendo vários testes médicos. O que vamos tentar saber é se os tipos de resposta de imunidade que acreditamos ser importantes podem ser produzidos pela vacina.

Folha - Vocês estão testando em voluntários saudáveis. Quais as implicações éticas?
Shiver -
Bem, o tipo de vacina que estamos fazendo pode ser importante tanto para as pessoas que não foram infectadas, como proteção, mas também para pessoas infectadas. Ou seja, estamos trabalhando numa pesquisa que pode ter um papel muito importante na solução de um dos maiores problemas da humanidade.

Folha - Se entendi corretamente, a vacina estimula a liberação no sangue do CD8, substância que mata as células infectadas pelo HIV, mas não o vírus.
Shiver -
Sim, esse é o conceito. O que acontece é que você tem os glóbulos brancos e os glóbulos vermelhos no seu corpo, e um tipo de glóbulo branco é a chamada "célula T". Uma das variedades desta "célula T" pode se transformar no que chamamos de "célula T assassina", ou CTL. E essa CTL pode matar as células infectadas pelo vírus. Então, desenvolvemos um tipo de célula que pode matar outras células, as infectadas, mas não o vírus.

Folha - A Merck foi um dos laboratórios que esteve na mira do Ministério da Saúde brasileiro, que poderia quebrar a patente do laboratório, até que baixou os preços do Crixivan e do Stocrin no país. Como cientista, o que o sr. acha disso?
Shiver -
Veja bem, sou apenas um cientista, não posso responder pela parte financeira. Mas acredito que soluções já estão sendo alcançadas neste sentido, mesmo no caso brasileiro, não?



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