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Catador abandonou botijão para cozinhar
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo o lixo da casa do pernambucano Jocemar Silveira, 29, é
atualmente reaproveitado. Os
materiais inorgânicos vão para a
reciclagem; os orgânicos são usados para produzir gás de cozinha.
A comida preparada com o metano que vem da degradação do
lixo tem um sabor especial. Catador em São Paulo há mais de dez
anos, Silveira, que só estudou até a
oitava série do ensino fundamental, construiu sozinho o biodigestor que transforma restos de comida em combustível.
O protótipo, em funcionamento
desde abril, abastece as seis pessoas da família de Silveira e é um
exemplo do autodidatismo e da
experiência prática do catador.
"Pela observação do lixo, percebi que os sacos onde ficavam
guardados os resíduos orgânicos,
depois de um certo tempo, inchavam e ficavam suados, molhados
do lado de fora", conta Silveira.
Estudando por conta própria o
fenômeno, ele chegou à conclusão
de que o "inchaço" era causado
pelo gás metano que emana no
processo de degradação orgânica
e que poderia ser reaproveitado.
"Nós [da Associação de Catadores do Núcleo Habitacional Pedra
Sobre Pedra, na zona sul de São
Paulo, presidida por Silveira"
pensávamos em dar outra destinação para o material orgânico,
além da compostagem", diz. "O
metano é um combustível alternativo, já que o gás de cozinha tradicional [mistura de butano e
propano" é derivado do petróleo,
um recurso não-renovável."
O protótipo custou R$ 200, segundo Silveira. O cilindro de 1 m
de comprimento e 30 cm de diâmetro onde ficam os restos e o
metano foram encontrados no lixo; os mecanismos de controle de
pressão e as válvulas reguladoras
custaram, ao todo, R$ 180; e a execução do projeto consumiu R$ 20.
O biodigestor levou seis meses
para ser concluído. "Já estou economizando até R$ 38 por mês por
não ter de comprar dois botijões
de gás de cozinha", diz. Os dois
primeiros meses de teste revelaram que 25 quilos de alimento, armazenados por 72 horas no cilindro, produzem 13 quilos de metano -quase um botijão.
"Agora eu preciso de ajuda de
universidades, iniciativa privada e
poder público para continuar os
estudos e produzir em larga escala. Mas, se não conseguir, vou começar sozinho mesmo. Sou um
homem prático", afirma Silveira.
A utilização do metano na cozinha ainda é considerada restrita
em razão da necessidade de uma
pressão muito alta para liquefazer
o gás, de forma que ele se torne
mais seguro para o uso doméstico. No estado gasoso, os riscos de
explosão são muito maiores em
razão da volatilidade.
(MV)
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