São Paulo, sábado, 25 de julho de 1998

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REMÉDIOS FALSOS
Pesquisa feita em 200 visitas a farmácias revela que, em 53% dos casos, o farmacêutico não estava
96% das farmácias vendem sem receita

BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

A primeira pesquisa realizada pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) em 200 visitas a farmácias de nove capitais brasileiras e Londrina (PR) mostra que, em 53% dos casos, o farmacêutico não estava no estabelecimento.
Mais grave ainda: em 96,5% das visitas, foram vendidos sem receita medicamentos que necessitavam da apresentação da prescrição médica.
O objetivo do primeiro teste de nível nacional coordenado pelo Instituto de Defesa do Consumidor foi avaliar as condições de atendimento em farmácias e drogarias do país.
Em cada cidade, técnicos de entidades de defesa do consumidor fizeram duas visitas a dez farmácias ou drogarias passando-se por consumidores comuns que queriam comprar, sem receita médica, remédios que só podem ser vendidos com prescrição.
Em 193 visitas, os medicamentos foram vendidos; em quatro, não o foram porque a farmácia não tinha o remédio.
Em um dos casos, registrado em Londrina, a farmacêutica não vendeu o antibiótico pedido pelo técnico que fazia o teste, mas lhe ofereceu um antiinflamatório que também necessitava de prescrição médica.
Somente em uma farmácia, em Florianópolis (SC), entre as cem visitadas no país, a farmacêutica se recusou, nas duas visitas, a vender os remédios sem receita médica.
A exceção à norma começa já pelo fato de ter sido a própria farmacêutica a atender o cliente. Em 78% das visitas, quem atendeu foi o balconista.
Em todos os casos, após ser atendido, o técnico da entidade de defesa do consumidor perguntava se o farmacêutico responsável estava no local.
Em 53% das visitas, os técnicos verificaram que o profissional estava ausente.

Farmacêutico
A legislação brasileira exige a presença de um farmacêutico na farmácia durante todo o tempo em que o estabelecimento esteja aberto ao público.
Os conselhos regionais de farmácia podem aplicar punições aos profissionais que estejam ausentes. No Distrito Federal, o conselho aplica em média, por mês, 150 autos de infração em farmácias e drogarias devido à ausência do responsável técnico. De cinco a seis processos éticos contra farmacêuticos são abertos nesse mesmo período.
O caso de Brasília não é dos piores no país. Nas 20 visitas realizadas a farmácias, em 45% o farmacêutico estava presente.
O índice de presença varia de acordo com a cidade (leia quadro nesta página). Em Salvador, é de apenas 10%. Já em Curitiba, atinge 80%.
Em São Paulo, o farmacêutico estava presente em 65% das 20 visitas realizadas. No Rio, em apenas 25% dos casos o farmacêutico foi encontrado.
Segundo publicação do Idec, esses índices não podem ser generalizados para todo o país ou mesmo para o Estado porque o número de farmácias visitadas em cada cidade foi igual em todas elas.
A publicação diz ainda que as diferenças podem ser explicadas por outros fatores, como o número de faculdades de farmácia na região ou a eficácia da fiscalização.

Satisfação
O instituto também mediu no teste das farmácias o grau de satisfação do consumidor. O Idec parte do pressuposto de que a farmácia não deve ser apenas rápida no atendimento ao cliente, mas também precisa dar orientação sobre o uso do remédio e suas contra-indicações.
A conclusão da pesquisa foi de que, em 82% das visitas, não foi fornecida nenhuma informação ou orientação sobre o medicamento. De acordo com o levantamento, em apenas 4% dos casos foram prestadas informações sobre o remédio e orientações para seu uso racional.



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