São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IMPRENSA
Em depoimento à polícia e à Promotoria, Pimenta Neves nega premeditação do crime e diz não se lembrar dos tiros
Traição motivou assassinato, diz jornalista

DA REPORTAGEM LOCAL

O jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, 63, ex-diretor de Redação de "O Estado de S. Paulo", afirmou ontem que assassinou a sua ex-namorada, a também jornalista Sandra Florentino Gomide, 32, por ter sido traído.
Pimenta Neves foi interrogado pela polícia ontem, por quatro horas, em um dos auditórios do hospital Albert Einstein, onde ele está internado há dois dias após tentar suicídio tomando uma dose excessiva de tranquilizante.
O jornalista disse que fora traído "pessoalmente e profissionalmente" pela ex-namorada. Negou ter premeditado a morte da ex-namorada e chorou.
Segundo seu advogado, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, ele disse que "está profundamente arrependido por ela (Sandra), está profundamente arrependido pela família que sofre, dele e dela".
O advogado da família de Sandra, Luiz Flávio Gomes, disse que não há provas de traição. "E, mesmo se tivesse, não há justificativa para tirar uma vida assim."
O crime aconteceu na tarde do último domingo, em um haras em Ibiúna (68 km de São Paulo), local que os dois frequentavam. Sandra foi baleada duas vezes, segundo laudo do Instituto Médico Legal: o primeiro foi nas costas, e o segundo, na cabeça, quando ela já estava no chão.
Em uma cadeira de rodas, o jornalista foi ouvido por três delegados do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e pelo promotor de Justiça Marcelo Milani, designado para acompanhar as investigações.
Segundo o promotor, Pimenta Neves afirmou que estava sendo traído pela ex-namorada. Relatou ter ficado preocupado com uma infecção que teria contraído por meio de relação sexual.
O jornalista disse ainda que Sandra ignorava o problema que ele vinha enfrentando em relação ao estado de saúde de uma de suas duas filhas.
Também narrou o que chamou de traição profissional: a ex-namorada, enquanto sua subordinada, teria omitido informações sobre uma pessoa interessada na compra da Vasp e, por isso, perdeu a confiança nela.
O caso relembrado envolve a Convenção Nacional Fluminense das Assembléias de Deus no Brasil e no Exterior, que chegou a negociar a compra da Vasp em julho. A jornalista teria, segundo ele, informações sobre cheques sem fundo e o estado financeiro precário da entidade, relatado em seguida por outros jornais. Não versão de Pimenta Neves, ela teria sonegado tais informações.
Pimenta Neves, durante o depoimento, disse ser o responsável pela ascensão profissional da ex-namorada, com quem trabalhou e a quem promoveu em dois jornais, a "Gazeta Mercantil" e "O Estado de S. Paulo".
Segundo a polícia, o jornalista disse que não premeditou o crime, pois não sabia que ela estava no haras em Ibiúna.
A briga que antecedeu o assassinato, de acordo com ele, aconteceu após Sandra ter se recusado a entrar em seu carro para conversar sobre o relacionamento. "Ele diz que não se lembra dos tiros", disse seu advogado de defesa.
As explicações de Pimenta Neves não convenceram o promotor. "Para mim, ele não demonstrou nenhum arrependimento", disse Milani. "Ele se considera uma pessoa poderosa, que não admite ser contrariada."
O promotor disse que o depoimento de Pimenta Neves reforça a intenção do Ministério Público de denunciar o jornalista por homicídio doloso (intencional), duplamente qualificado -matou por motivo fútil e sem dar chance de defesa à vítima.
Milani e o chefe da Divisão de Homicídios do DHPP, Nathan Rosemblatt, confirmaram que Pimenta Neves pediu ontem para ficar com as duas cápsulas deflagradas que foram encontradas em suas roupas no hospital.
Mariz de Oliveira disse que ele "procurou não adjetivar a conduta de Sandra" ou "denegrir sua imagem". "Ele se sentiu agredido por esta moça que ele amava e que tanto ajudou."
Pimenta Neves pode ter alta ainda hoje. Ontem, ele foi transferido do setor de terapia semi-intensiva para um quarto comum.
Segundo médicos, ele ingeriu grande quantidade de benzodiazepínicos (drogas que diminuem a ansiedade e provocam sono). O jornalista disse ter tomado 70 comprimidos de calmantes (40 de Lexotan e 30 de Frontal). A ex-mulher dele, Carol Neves, e as filhas gêmeas do casal, Andrea e Stefani, o visitaram no hospital.


Texto Anterior: Grupo estupra moradora e assalta vila no Rio
Próximo Texto: Defesa deve responsabilizar vítima
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.