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OPINIÃO
Maníaco cristaliza machismo
ROBERTO SHINYASHIKI
De todo o estardalhaço envolvendo o caso do mais novo "serial
killer" brasileiro, mais conhecido
como maníaco do parque, o que
mais me chamou a atenção foi
uma das muitas declarações dadas
pelo acusado.
Francisco de Assis Pereira afirmou, em várias entrevistas, que
suas vítimas (moças sonhadoras e
ansiosas por obter o disputado ingresso para o mundo fashion)
"não se defendiam".
Mesmo sem ter a menor consciência disso, o motoboy-patinador sintetiza, com essa frase, séculos e mais séculos de cultura machista, na qual a mulher aparece
sempre como objeto secundário e
descartável.
O relacionamento entre homens
e mulheres tem bases cada vez menos sólidas e vem sendo construído (?) à sombra de distorções,
constantemente estimuladas pela
sociedade.
Apesar de toda a evolução na
busca da autonomia das mulheres,
que já representam 40% da força
de trabalho no Brasil e detêm 40%
do dinheiro do país, observamos,
estarrecidos, que a violência contra a mulher continua crescendo
em níveis alarmantes.
O maníaco do parque é o reflexo
de uma situação retrógrada e repugnante, em que o homem ainda
procura se sentir proprietário exclusivo de todo o rico universo físico-psicológico da mulher.
Seja a violência de um homem
que manda a mulher calar a boca
na frente dos filhos, seja a violência sexual que existe, muitas vezes,
dentro do casamento, o que não
pode mais acontecer é o silêncio e
a subserviência feminina.
Quantas mulheres são obrigadas
a manter relações sexuais com o
marido sem a menor vontade e
sem prazer nenhum? Quando cessarão os estupros que acontecem
dentro de casa, em casamentos cuja aparência é impecável?
Até quando as mulheres permanecerão caladas? Quantas meninas
continuam se anulando em favor
da suposta superioridade de seus
irmãos? Homens e mulheres precisam dar um basta nessa situação, de forma a iniciar uma sociedade mais justa e igualitária.
É importante que as mulheres
consigam se defender. Não é possível continuar a se submeter a esse tipo de situação apenas, por
exemplo, para manter um casamento. O ser humano deve entender que a sua maior riqueza é a
dignidade.
Está na hora de os homens começarem a respeitar a força e a beleza de suas companheiras sem o
fantasma da dominação paternalista, herdado do regime patriarcal. Vamos lançar sobre a mulher
os olhos que ela merece, de admiração e sobretudo de respeito.
Roberto Shinyashiki, 45, escritor e consultor
organizacional, é presidente do Instituto Gente
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