São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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OPINIÃO

Maníaco cristaliza machismo

ROBERTO SHINYASHIKI

De todo o estardalhaço envolvendo o caso do mais novo "serial killer" brasileiro, mais conhecido como maníaco do parque, o que mais me chamou a atenção foi uma das muitas declarações dadas pelo acusado.
Francisco de Assis Pereira afirmou, em várias entrevistas, que suas vítimas (moças sonhadoras e ansiosas por obter o disputado ingresso para o mundo fashion) "não se defendiam".
Mesmo sem ter a menor consciência disso, o motoboy-patinador sintetiza, com essa frase, séculos e mais séculos de cultura machista, na qual a mulher aparece sempre como objeto secundário e descartável.
O relacionamento entre homens e mulheres tem bases cada vez menos sólidas e vem sendo construído (?) à sombra de distorções, constantemente estimuladas pela sociedade.
Apesar de toda a evolução na busca da autonomia das mulheres, que já representam 40% da força de trabalho no Brasil e detêm 40% do dinheiro do país, observamos, estarrecidos, que a violência contra a mulher continua crescendo em níveis alarmantes.
O maníaco do parque é o reflexo de uma situação retrógrada e repugnante, em que o homem ainda procura se sentir proprietário exclusivo de todo o rico universo físico-psicológico da mulher.
Seja a violência de um homem que manda a mulher calar a boca na frente dos filhos, seja a violência sexual que existe, muitas vezes, dentro do casamento, o que não pode mais acontecer é o silêncio e a subserviência feminina.
Quantas mulheres são obrigadas a manter relações sexuais com o marido sem a menor vontade e sem prazer nenhum? Quando cessarão os estupros que acontecem dentro de casa, em casamentos cuja aparência é impecável?
Até quando as mulheres permanecerão caladas? Quantas meninas continuam se anulando em favor da suposta superioridade de seus irmãos? Homens e mulheres precisam dar um basta nessa situação, de forma a iniciar uma sociedade mais justa e igualitária.
É importante que as mulheres consigam se defender. Não é possível continuar a se submeter a esse tipo de situação apenas, por exemplo, para manter um casamento. O ser humano deve entender que a sua maior riqueza é a dignidade.
Está na hora de os homens começarem a respeitar a força e a beleza de suas companheiras sem o fantasma da dominação paternalista, herdado do regime patriarcal. Vamos lançar sobre a mulher os olhos que ela merece, de admiração e sobretudo de respeito.


Roberto Shinyashiki, 45, escritor e consultor organizacional, é presidente do Instituto Gente



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