São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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Do voto nas mulheres e do poder das macacas 2

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Enquanto os machos, no comando do mundo, sacam de seus pênis para comer suas amantes com a mesma facilidade com que sacam de mísseis para devorar um inimigo inferior, as fêmeas assistem.
As fêmeas são tão inferiores na sociedade dos humanos quanto o inimigo negro é militarmente inferior no Sudão ou no obscuro Afeganistão. As mulheres são tão inferiores no Ocidente quanto no Afeganistão do obscurantismo religioso do Taleban, onde vivem escondidas dos pés à cabeça, por trás de panos e véus, sem direitos.
Décadas de feminismo não passam de uma gota num oceano de dominação masculina. As fêmeas humanas são tão inferiores que até mesmo a mulher do homem mais poderoso do mundo faz papel de idiota -Hillary Clinton, a "esposa" traída, mas disposta ao sacrifício pela preservação da "integridade" da família.
Mas e o poder da amante? Não foi ela a causa mesma do míssil lançado, espécie de Helena de Tróia do império americano? Poder nenhum tem a amante, que não passa de outra idiota, usada pelo poderio político-partidário dos machos americanos -outra coitada, vítima do coito, literalmente, que ficou ridicularizada e só.
O que estraga os humanos é a família nuclear (estrutura tão sedimentada no inconsciente culpado que até os homossexuais, que seriam exceção, não se constrangem de imitar), o egoísmo e a hipocrisia do casal, a moralização do sexo, a pecabilidade do sexo -essa idéia começou a ser discutida na minha coluna anterior.
Lá eu dizia -parodiando não sei quem- que, quanto mais se observa a sociedade de certos macacos, mais desprezível parece a sociedade humana. Os macacos são os bonobos, que descobri em palestra do médico Drauzio Varella.
Os bonobos, criaturas descobertas pelos primatologistas apenas em 1929 (até então eram confundidos com os chimpanzés), formam uma inédita sociedade pacífica, sob domínio das fêmeas, sem família nuclear, que faz das relações sexuais um meio de dissipar a agressividade.
Exemplo: os cientistas jogaram uma caixa de papelão no ambiente em que esses macacos eram observados. Pois os bonobos que se aproximaram da caixa deram uma copulada rápida antes de brincar com ela (macho com fêmea, macho com macho, fêmea com fêmea, eles admitem todos os tipos de acasalamento sexual). Situações como essa, os etólogos apontam, costumam levar a disputas e brigas na maioria das outras espécies de macacos -nas quais, é bom repetir, o domínio está com os machos.
É como se os bonobos fossem nosso elo perdido com o paraíso, é bom repetir. Nem mesmo entre os índios (que alguns usam como exemplo de sociedade harmônica) há mulheres caciques ou pajés.
Entra eleição, sai eleição, e o eleitorado brasileiro -composto de 50,20% de machos e 49,57% de fêmeas- não consegue eleger senão uma minoria inexpressiva de mulheres.
Os escolhidos serão os ajegalhados de sempre, uns brutos, de inteligência rudimentar, treinada apenas nos ofícios da sacanagem e do roubo.

E-mail: mfelinto@uol.com.br



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