São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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SAÚDE
Nova modalidade de inflamação nos rins já registra 253 casos suspeitos e pode ser causada por bactéria no leite
EUA investigam surto de doença em Minas

BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

Uma equipe de especialistas dos EUA está desde o final de julho no país para identificar a causa do surto de uma doença nos rins que está atingindo o interior de Minas.
Técnicos americanos -e também os brasileiros- suspeitam que a contaminação se dê por meio de uma bactéria que pode estar no leite não pasteurizado.
A doença em questão é a nefrite epidêmica benigna. A nefrite é uma inflamação nos rins geralmente associada a uma infecção anterior causada por bactéria.
Ela pode se manifestar, por exemplo, em crianças que tiveram inflamação de garganta, mas é rara em adultos. A maioria dos casos registrados em Nova Serrana (115 km a oeste de Belo Horizonte), onde foi verificada inicialmente a doença, ocorreu em adultos sem inflamação na garganta.
Percebendo um aumento do número de casos de nefrite em fevereiro deste ano, os médicos do município comunicaram à vigilância epidemiológica regional.
Em abril, o Cenepi (Centro Nacional de Epidemiologia) foi chamado para investigar o surto e divulgou quais são os seus sintomas.
A nefrite epidêmica benigna foi descrita como um caso de doença febril aguda, com dores de cabeça, fraqueza, dor e aumento de volume da região lateral do pescoço.
Posteriormente, o doente pode apresentar dor no abdome, com náuseas e vômitos. Em alguns casos, houve diminuição do volume urinário, edema (acúmulo anormal de líquido) generalizado e hipertensão arterial.
Para mapear os casos suspeitos da doença, foram realizadas buscas em arquivos hospitalares.
Também foi organizada uma equipe para visitar todos os domicílios de Nova Serrana (cerca de 8.000). No final, foram detectados 253 casos suspeitos, caracterizando um surto.
Dos 112 casos que resultaram em internação hospitalar, 64,3% ocorreram em mulheres. A idade média dos internados em hospitais era de 35,3 anos.
"Como não havia registro de infecção de garganta nos doentes, levantou-se a suspeita de que o agente infeccioso seria um vírus", afirmou Expedito Luna, coordenador de vigilância epidemiológica do Cenepi.
Desde março, amostras de casos suspeitos foram enviadas para análise nos laboratórios Adolfo Lutz (São Paulo) e Evandro Chagas (Belém), e os resultados deram negativo para os 25 tipos de vírus testados, entre eles o hantavírus.
Também foram remetidas amostras para o laboratório de referência para hantaviroses na Argentina e para o CDC, o centro de controle de doenças dos Estados Unidos. Os resultados deram negativo para a presença de vírus.
Desde maio, todos os casos novos da doença são de notificação obrigatória. Em junho, não houve nenhum novo registro. No mês passado, foram detectados cinco novos casos suspeitos.
No dia 22 de julho, o Cenepi convidou o CDC norte-americano para participar na investigação da doença, uma vez que as hipóteses levantadas sobre o agente causador do surto foram sistematicamente derrubadas pelas análises laboratoriais.
Cinco dias depois, chegaram a Minas duas epidemiologistas do CDC, Andrea Benin e Sharon Balter. A equipe tem trabalhado com a hipótese de a doença ser causada por uma bactéria, o Streptococcus. Ela foi identificada em metade das 22 amostras de pacientes enviadas aos Estados Unidos.
"Se for o Streptococcus, a contaminação deve se dar por meio de alimentos, provavelmente por causa do leite não pasteurizado. É isso que estamos investigando agora", afirma Luna.



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