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SAÚDE
Nova modalidade de inflamação nos rins já registra 253 casos suspeitos e pode ser causada por bactéria no leite
EUA investigam surto de doença em Minas
BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília
Uma equipe de especialistas dos
EUA está desde o final de julho no
país para identificar a causa do
surto de uma doença nos rins que
está atingindo o interior de Minas.
Técnicos americanos -e também os brasileiros- suspeitam
que a contaminação se dê por
meio de uma bactéria que pode estar no leite não pasteurizado.
A doença em questão é a nefrite
epidêmica benigna. A nefrite é
uma inflamação nos rins geralmente associada a uma infecção
anterior causada por bactéria.
Ela pode se manifestar, por
exemplo, em crianças que tiveram
inflamação de garganta, mas é rara em adultos. A maioria dos casos
registrados em Nova Serrana (115
km a oeste de Belo Horizonte),
onde foi verificada inicialmente a
doença, ocorreu em adultos sem
inflamação na garganta.
Percebendo um aumento do número de casos de nefrite em fevereiro deste ano, os médicos do
município comunicaram à vigilância epidemiológica regional.
Em abril, o Cenepi (Centro Nacional de Epidemiologia) foi chamado para investigar o surto e divulgou quais são os seus sintomas.
A nefrite epidêmica benigna foi
descrita como um caso de doença
febril aguda, com dores de cabeça,
fraqueza, dor e aumento de volume da região lateral do pescoço.
Posteriormente, o doente pode
apresentar dor no abdome, com
náuseas e vômitos. Em alguns casos, houve diminuição do volume
urinário, edema (acúmulo anormal de líquido) generalizado e hipertensão arterial.
Para mapear os casos suspeitos
da doença, foram realizadas buscas em arquivos hospitalares.
Também foi organizada uma
equipe para visitar todos os domicílios de Nova Serrana (cerca de
8.000). No final, foram detectados
253 casos suspeitos, caracterizando um surto.
Dos 112 casos que resultaram em
internação hospitalar, 64,3%
ocorreram em mulheres. A idade
média dos internados em hospitais era de 35,3 anos.
"Como não havia registro de infecção de garganta nos doentes,
levantou-se a suspeita de que o
agente infeccioso seria um vírus",
afirmou Expedito Luna, coordenador de vigilância epidemiológica do Cenepi.
Desde março, amostras de casos
suspeitos foram enviadas para
análise nos laboratórios Adolfo
Lutz (São Paulo) e Evandro Chagas (Belém), e os resultados deram
negativo para os 25 tipos de vírus
testados, entre eles o hantavírus.
Também foram remetidas
amostras para o laboratório de referência para hantaviroses na Argentina e para o CDC, o centro de
controle de doenças dos Estados
Unidos. Os resultados deram negativo para a presença de vírus.
Desde maio, todos os casos novos da doença são de notificação
obrigatória. Em junho, não houve
nenhum novo registro. No mês
passado, foram detectados cinco
novos casos suspeitos.
No dia 22 de julho, o Cenepi
convidou o CDC norte-americano
para participar na investigação da
doença, uma vez que as hipóteses
levantadas sobre o agente causador do surto foram sistematicamente derrubadas pelas análises
laboratoriais.
Cinco dias depois, chegaram a
Minas duas epidemiologistas do
CDC, Andrea Benin e Sharon Balter. A equipe tem trabalhado com
a hipótese de a doença ser causada
por uma bactéria, o Streptococcus. Ela foi identificada em metade
das 22 amostras de pacientes enviadas aos Estados Unidos.
"Se for o Streptococcus, a contaminação deve se dar por meio de
alimentos, provavelmente por
causa do leite não pasteurizado. É
isso que estamos investigando
agora", afirma Luna.
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