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Hemofílico teme morrer sem indenização
MALU GASPAR
da Reportagem Local
Um grupo de seis hemofílicos de
São Paulo, que diz ter sido contaminado pelo vírus da Aids por
meio de transfusões de sangue em
hospitais públicos, está com medo
de morrer antes que seja concluído o processo que move contra o
Estado, em tramitação há 5 anos.
O medo se justifica. Dos 11 hemofílicos que assinaram a ação em
93, cinco não viveram para ver a
conclusão do processo. Entre eles,
um era adolescente. Outro rapaz,
ainda vivo, tem 17 anos. Ambos
foram contaminados quando
crianças.
Dos seis que sobreviveram, três
tiveram complicações decorrentes
da doença no início do ano, que os
colocaram em risco de vida.
"Tenho medo de morrer antes
que seja garantido que minha mulher e minha filha vão poder ter
uma vida digna. Não vai ser fácil
para elas se sustentarem depois
que eu me for", diz Clayton Floriano da Silva, 33. Ele é casado e
tem uma filha de 2 anos. Nem a
mulher nem a filha têm Aids.
Outro dos hemofílicos do grupo,
J.C., 36, também é casado e tem
um filho de 5 anos, mas, ao contrário do que ocorre com Clayton,
mulher e filho também são soropositivos. J. vive dos R$ 500,00 que
ele ganha como camelô.
Na ação, que está agora na 3ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, o grupo pede indenização pela
transfusão de sangue contaminado e pensão vitalícia ao Estado.
Seja qual for o resultado, a conclusão do processo deve criar um
precedente para os próximos que
forem julgados. Embora haja precedente para o caso no Rio de Janeiro, onde a indenização foi concedida, em São Paulo nenhuma
ação dessa natureza foi julgada.
Ação parada
A advogada que representa o
grupo, Áurea Celeste Abbade, diz
que espera a conclusão do processo para os próximos meses. Segundo ela, a ação ficou um ano parada até que fosse definido quem
deveria ser processado, o Estado
ou a União.
Depois, parou por mais dois
anos, até que ficasse definido o inventariante e, portanto, representante legal de um dos seus clientes,
que morreu no início do processo.
Essa é mais uma das razões do
grupo para querer que a ação seja
julgada rapidamente: cada vez que
um deles morre, o processo pára
até que seja definido seu representante legal na ação.
"Vejo meus clientes piorando a
cada dia, o máximo que pude fazer
foi pedir ao juiz que antecipe o julgamento", diz Áurea. Depois dessa experiência, a advogada diz que
decidiu reduzir os grupos que representa em ações da mesma natureza a duas ou três pessoas.
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