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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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POLÍCIA SOB SUSPEITA

Grupo estaria envolvido em uma suposta rede de crimes executados em duas delegacias da capital

Promotoria denuncia dez policiais em SP

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público de São Paulo denunciou ontem à Justiça Estadual dez policiais civis que estariam envolvidos em uma suposta rede de crimes planejados e executados a partir de duas delegacias da capital paulista: o 10º DP (Penha) e o 33º DP (Pirituba).
As atividades do grupo foram descobertas por meio de grampos telefônicos feitos pela Procuradoria da República do Distrito Federal, na investigação que mapeou os negócios do homem que é considerado o maior contrabandista de cigarros do país, Roberto Eleutério da Silva, o Lobão.
Ontem à noite, a juíza Mariângela Torres Garcia, da 1ª Vara Criminal, decretou a prisão preventiva dos dez policiais, a pedido dos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
Oito deles foram presos durante as duas semanas de investigação, por ordem da juíza-corregedora do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), Ivana David Boriero, responsável pelo procedimento que apura os negócios dos policiais flagrados nos grampos da Procuradoria.
Os delegados Nicola Romanini, Luiz Claudio Ferretti e Nelson de Camargo Rosa, mais os investigadores Eduardo Ferreira Bueno e Paulo Roberto Ferreira da Silva, foram acusados de formação de quadrilha e concussão (extorsão cometida por funcionário público). Rosa está foragido.
O Ministério Público denunciou ainda os investigadores Ivan Raimundi Barbosa e Marcelo Moura Cardoso sob acusação de formação de quadrilha, concussão e tráfico de drogas.
Os grampos da investigação mostram policiais negociando lança-perfumes, entre outros crimes. No 10º DP, "gansos" (informantes) recebiam maconha de policiais em troca de informações sobre determinados criminosos, segundo a Folha apurou.
Um quarto delegado, cujo nome não foi divulgado porque ele será preso, foi acusado de formação de quadrilha e corrupção.
Os promotores também denunciaram o ex-chefe dos investigadores do 10º DP, José Norberto dos Santos, por formação de quadrilha, corrupção passiva, adulteração de chassi, peculato (furto praticado por agente público), prevaricação e tráfico de drogas.
O agente policial Jean Wagner Cabral responderá a processo por formação de quadrilha.
Segundo a Promotoria, os "dois distritos policiais foram transformados em um verdadeiro balcão de negócios ilícitos". De lá, pelo telefone da delegacia, seriam acertados roubos de carga, a compra de drogas apreendidas e encomendados boletins de ocorrência para legalizar desvio de carregamentos, entre outros crimes.
Em depoimento, os policiais negaram os crimes. A juíza do caso deve decidir se aceita ou não a denúncia após receber a defesa prévia dos advogados dos acusados.
Cópias da apuração serão enviadas para a Promotoria da Cidadania da capital, que deve processar os envolvidos na área cível, por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito. O Gaeco pediu a quebra dos sigilos bancários, telefônicos e fiscal dos dez.
O "balcão de negócios" é a ponta de uma investigação maior que pode envolver mais policiais paulistas. A partir de hoje, o Gaeco e o Dipo começam a analisar o restante dos grampos -ou seja, dois terços das 40 mil conversas gravadas. A apuração deverá ser fragmentada por departamentos.


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