São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUVENTUDE ENCARCERADA

Mortes aconteceram em instituição que abriga infratores, durante confronto entre jovens de duas alas

Sete adolescentes são mortos em rebelião no Paraná

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Sete adolescentes morreram em Piraquara (PR) durante uma rebelião que durou cerca de cinco horas no educandário São Francisco, que abriga menores infratores. O motim começou na noite de anteontem e terminou na madrugada de ontem.
Outros seis menores foram feridos sem gravidade. As vítimas foram espancadas com pedaços de ferro ou cortadas com estoques (facas improvisadas), e tinham idades de 16 a 18 anos.
O educandário -que corresponde à Febem de São Paulo- é controlado pelo governo do Paraná e fica 23 km distante do centro de Curitiba, próximo do complexo penitenciário do Estado.
Na unidade estavam recolhidos, até anteontem, 237 adolescentes infratores de todo o Estado -a capacidade é para 150 pessoas.
O motim começou às 21h. Um grupo da ala A ateou fogo em colchões e promoveu um quebra-quebra na mobília. Pedaços de ferro e aço de armários foram transformados em ferramentas para abrir um buraco na parede que separa esse setor da ala B. Segundo integrantes de uma comissão criada para investigar o caso, o estopim da rebelião foi a retirada da televisão de um jovem.
Na invasão, seis internos da ala B foram atacados até a morte. O outro morto pertencia à ala A.
Os amotinados se entregaram por volta das 2h de ontem aos educadores (seguranças treinados) da unidade para evitar a invasão do prédio pela Polícia Militar. Em cenas gravadas por um cinegrafista de TV na madrugada, um dos garotos pediu aos gritos aos policiais que não invadissem o local, porque temia ser morto.
Às 12h, havia um juiz de menores, quatro procuradores, dois delegados e dois representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), além das autoridades do Estado, no educandário fazendo o levantamento da situação dos adolescentes e dos estragos.
O secretário do Emprego e Promoção Social, Padre Roque Zimmermann, responsável pelo serviço de reabilitação dos menores infratores, afirmou que as instalações são inadequadas. "Isso aqui é um caixão de castigo."
Em nota oficial, o Estado tratou o episódio como "um acerto de contas entre gangues". O fato de não ter havido exigências, nem tentativa de fuga, para o governo, descaracteriza a definição de rebelião. Outra versão, porém, confirmada por Zimmermann, aponta para uma reação à superlotação e ao uso da força por parte de alguns dos educadores.
Morreram Jeferson Lima Cirqueira, 18, Oséas Carlos, 16, Tiago Rodrigues Santos, 17, Daniel Francisco Gonçalves, 18, Fernando Luiz Graciano, 17, Vanderlei Aparecido Melo Dalva, 17, e Alexandre dos Reis Carvalho, 18.


Texto Anterior: Crimes em série: Suspeito de matar aposentados se entrega
Próximo Texto: "Lá dentro, o que vale é a lei dos educadores"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.