São Paulo, sexta, 25 de setembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Versão de acusado de participar de falsificação de Androcur contradiz a de outro dono
Outro sócio da Veado D'Ouro é indiciado

CARLA CONTE

da Reportagem Local

A polícia acusou formalmente ontem mais um proprietário da farmácia de manipulação Botica Ao Veado D"Ouro. Edgar Helbig foi indiciado sob acusação de falsificar o remédio contra câncer de próstata Androcur. O laboratório Veafarm, que pertence à Botica, fabricou cerca de 1 milhão de comprimidos sem o princípio ativo. Esse placebo recebeu embalagem falsa e foi vendido por distribuidoras. A falsificação pode ter acelerado a morte de pelo menos dez pessoas no país. Helbig disse ontem à polícia que não sabia que os placebos seriam usados como Androcur. "Se soubesse, colocaria minha mão para parar a máquina", disse. No inquérito que corre no 1º DP de Santo André (Grande SP), já haviam sido indiciados Ricardo Garcia -ex-sócio da Botica e acusado de contratar a produção dos placebos- e Daniel Derkastcheff Vera -um dos dois donos atuais e sogro de Garcia, que responderia pela operação na ausência dele. Garcia e outras seis pessoas envolvidas estão presas em Santo André. Derkastcheff e Helbig respondem o inquérito em liberdade.

Contradição
As versões de Helbig e de Derkastcheff para o caso têm contradições. Em certos pontos, um atribui ao outro a responsabilidade pelo episódio.
Segundo Helbig, o ex-sócio Garcia disse que o placebo produzido pela empresa se destinava a teste clínico (quando o médico usa drágea sem efeito para testar um medicamento novo) em todo o Brasil.
Helbig disse que só ligou o placebo fabricado no Veafarm ao Androcur falso em junho, após divulgação do caso pela imprensa.
Ele afirmou ter procurado em seguida o sócio Derkastcheff, que determinou a destruição dos 100 mil comprimidos inócuos que ainda estavam no laboratório.
Derkastcheff deu versão diferente. Em depoimento, ele disse ter feito a ligação entre o placebo e o Androcur há apenas 15 dias.
Helbig disse que não procurou a polícia por não saber a quem se reportar, de acordo com depoimento ao delegado Guerdson Ferreira, que conduz a investigação.
O indiciado também afirmou que estranhou o fato de que não foram emitidas notas fiscais para a venda do placebo. Segundo o sócio, a parte comercial, da Botica e do laboratório, era responsabilidade de Derkastcheff e Garcia, quando este atuava na empresa.
Helbig disse que a produção do placebo continuou após a saída de Garcia da direção, porque já era corriqueira e dispensava autorização prévia da diretoria.



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