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VIOLÊNCIA
Universidade diz que não quer compactuar com violação de direitos
PUC interrompe estágios na Febem
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Faculdade de Psicologia PUC
de São Paulo (Pontifícia Universidade Católica), por meio do Departamento de Psicologia Social,
interrompeu o programa que
mantinha estagiários na Febem
(Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor).
Em documento assinado pelo
reitor, Antônio Carlos Caruso
Ronca, a diretora da faculdade,
Ana Bock, alega que a permanência dos estudantes nas unidades
seria uma forma de compactuar
com violações aos direitos humanos cometidas contra os adolescentes infratores.
Esse relatório foi enviado ao
Procurador Geral de Justiça, Geraldo Brito Filomeno, no dia 11.
"Nossos alunos acompanharam
situações de humilhação, de violência e de descuido", diz o relatório. Segundo o documento, isso é
o cotidiano da Febem.
Esse rompimento ocorre no
momento em que a Febem está
oficialmente trabalhando para
implantar uma forma individualizada de atender aos infratores,
chamada de Novo Olhar.
Esse novo projeto foi iniciado
após a rebelião ocorrida entre os
dias 24 e 25 de outubro de 1999 no
Complexo Imigrantes.
Além disso, enquanto a Faculdade de Psicologia rompeu o estágio com a Febem, o Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre a Criança
e o Adolescente da PUC assinou
um contrato de R$ 2,2 milhões
para criar um programa para infratores em meio aberto.
O estágio começou em março e
deveria terminar em novembro,
mas foi interrompido em agosto.
A principal tarefa dos estudantes foi a criação de um programa
de intervenção que auxiliasse os
adolescentes a refletir sobre a prática de crimes.
O problema é que desde o início
os estagiários perceberam que o
cadeião não era um lugar adequado para a realização de programas
educativos.
Os estagiários constataram que
os agentes de educação eram ridicularizados pelos monitores antigos. Os relatos dos alunos em relação a esses funcionários são textuais: "A gente não humilha (os
adolescentes), não bate na cara,
não bate na bunda, quando eles
caem, não pisa".
Um monitor de Pinheiros chegou a bater na cara de um adolescente, para mostrar a uma das estagiárias "quem mandava".
Em meados de junho, os estagiários acompanharam a transferência dos adolescentes para
Franco da Rocha. Quando viram
um "corredor polonês" para recepcionar os garotos, ligaram para a PUC, fazendo a denúncia.
Em Franco da Rocha, os alunos
relatam que em julho, apesar das
baixas temperaturas, os adolescentes andavam de camiseta de
malha e chinelos de dedo. Quando chovia, entrava água nas celas.
No dia 9 de agosto, os estudantes presenciaram quando os funcionários paralisaram suas atividades e os adolescentes "dominaram a casa". Nessa noite, os alunos viram dois monitores retirarem do carro três porretes utilizados, segundo eles, para espancamento. Dois dias depois, um interno morreu em rebelião.
Outro lado
O reitor da PUC, Antônio Carlos Caruso Ronca, disse que o papel da PUC é apontar as falhas da
Febem e ao mesmo tempo ajudar
a capacitar a instituição para que
ela tenha mais condições de reinserir os infratores na sociedade.
Além disso, segundo Ronca, o
projeto do núcleo é atender infratores em meio aberto, o que reduziria as internações.
O presidente da Febem, Benedito Duarte, disse desconhecer a
existência de estagiários da PUC
nas unidades. Segundo ele, a fundação tem total interesse em
manter a atual parceria (do programa em meio aberto) com a
universidade.
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