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Rodeio em favela tem camarote na laje
Espetáculo em Paraisópolis vai até a semana que vem; evento tem 15 cavalos, 15 bois e prêmios de R$ 2.000 aos peões finalistas
Organizador espera atrair 5.000 pessoas; lajes são disputadas como se fossem camarotes, com vista privilegiada e gratuita
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
DANILO VERPA
REPORTER-FOTOGRÁFICO
A auxiliar de logística Ana
Maria da Silva, 28, grita: "Sai
daí Natashaaaa!", enquanto sua
filha de oito anos brinca na beira da laje de uma casa de três
andares na favela de Paraisópolis (zona oeste de SP).
De fato, é muito aflitivo ver
aquele grupo de crianças correndo no terraço de 15 m2, sem
parapeito. Mas é ali, na casa do
instalador elétrico Sandoval
dos Reis, 34, que se tem a melhor vista (de graça) do 1º Cowboy Fest de Paraisópolis.
A pouco menos de trinta metros da laje, o locutor Leandro
Augusto anuncia, no meio da
arena, o início da temporada de
duas semanas de rodeios. "Está
tudo pronto para a grande festa
do peão de Paraisópolis!", diz.
O Cowboy Fest vai até dia 1º
de novembro, sempre de quinta a domingo, no campo do Palmeirinha. Apesar de ter começado oficialmente na quinta,
era quase uma hora da manhã e
não havia ninguém nas arquibancadas. A festa só aconteceu
mesmo a partir de sexta.
"Não é fácil fazer um evento
desses aqui, porque o acesso
das carretas [com os cavalos] é
difícil. As ruas são estreitas",
diz o empresário pernambucano José Ivanildo Gomes, 45, o
Cowboy do Asfalto.
Gomes investiu R$ 220 mil
no festival: com 15 cavalos, 15
bois e prêmios de R$ 2.000 aos
peões finalistas, ele espera um
público de 5.000 pessoas por
dia. É o sétimo rodeio que produz em Paraisópolis (mas ele o
chama de "primeiro" porque
tem uma estrutura diferente).
Gomes diz contar com o
apoio da União dos Moradores
de Paraisópolis e da prefeitura
-para ajudar com a papelada
de autorização, e na intermediação com a CET e a polícia.
"A maioria dos moradores
sabe da importância do festival
em uma comunidade tão carente de entretenimento, mas
sempre tem quem não goste de
ver a coisa dando certo", diz
ele. O ingresso antecipado custa R$ 10 e, na hora, R$ 15.
Gilson Rodrigues, presidente
da União de Moradores de Paraisópolis, elogia: "Em um
evento assim, o jovem ocupa o
tempo com coisas boas. Para a
comunidade, é excelente."
O presidente da Câmara, Antônio Carlos Rodrigues (PR),
esperado nos camarotes, não
foi. Diz que nem sabia do rodeio. "Apoio sempre festas em
comunidades carentes. Tenho
até trio elétrico. Mas não é por
voto", diz, sem que ninguém tivesse perguntado.
Os rodeios são seguidos por
apresentações de bandas de pagode. "Amanhã (sábado) tem
show do "Jeito Moleque': vai lotar", aposta a manicure Luzeni
Jesus Santos, 31.
Cinco da manhã
O público costuma chegar
depois da meia-noite. Ana, a
mãe de Natasha, explica: "O povo em Paraisópolis sai tarde de
casa. Cinco da manhã de segunda-feira ainda tá todo mundo
na rua."
Na barraca de bebidas, o auxiliar de escritório Wellington
de Souza, 23, vira o segundo copo de "perereca de 4" (R$ 8,00),
um drinque feito de vodca,
menta e kiwi. Ele explica que o
rodeio tem concorrentes fortes
na região, como o Batucão, um
salão de funk, e o Maria Rita, de
pagode. "Mas o festival é só
uma vez por ano", diz.
A laje da casa de Sandoval está lotada, mas não para de chegar vizinho. "Sobe veia!", diz a
atendente Andréa Martins, 30,
para uma senhora que se equilibra na escada tosca de madeira que está apoiada no telhado.
Com a filha no colo, Sandoval, o dono da casa, diz ao repórter, debochado: "Duvido
que a casa do doutor tenha uma
vista dessas!"
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