São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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Rodeio em favela tem camarote na laje

Espetáculo em Paraisópolis vai até a semana que vem; evento tem 15 cavalos, 15 bois e prêmios de R$ 2.000 aos peões finalistas

Organizador espera atrair 5.000 pessoas; lajes são disputadas como se fossem camarotes, com vista privilegiada e gratuita

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

DANILO VERPA
REPORTER-FOTOGRÁFICO

A auxiliar de logística Ana Maria da Silva, 28, grita: "Sai daí Natashaaaa!", enquanto sua filha de oito anos brinca na beira da laje de uma casa de três andares na favela de Paraisópolis (zona oeste de SP).
De fato, é muito aflitivo ver aquele grupo de crianças correndo no terraço de 15 m2, sem parapeito. Mas é ali, na casa do instalador elétrico Sandoval dos Reis, 34, que se tem a melhor vista (de graça) do 1º Cowboy Fest de Paraisópolis.
A pouco menos de trinta metros da laje, o locutor Leandro Augusto anuncia, no meio da arena, o início da temporada de duas semanas de rodeios. "Está tudo pronto para a grande festa do peão de Paraisópolis!", diz.
O Cowboy Fest vai até dia 1º de novembro, sempre de quinta a domingo, no campo do Palmeirinha. Apesar de ter começado oficialmente na quinta, era quase uma hora da manhã e não havia ninguém nas arquibancadas. A festa só aconteceu mesmo a partir de sexta.
"Não é fácil fazer um evento desses aqui, porque o acesso das carretas [com os cavalos] é difícil. As ruas são estreitas", diz o empresário pernambucano José Ivanildo Gomes, 45, o Cowboy do Asfalto.
Gomes investiu R$ 220 mil no festival: com 15 cavalos, 15 bois e prêmios de R$ 2.000 aos peões finalistas, ele espera um público de 5.000 pessoas por dia. É o sétimo rodeio que produz em Paraisópolis (mas ele o chama de "primeiro" porque tem uma estrutura diferente).
Gomes diz contar com o apoio da União dos Moradores de Paraisópolis e da prefeitura -para ajudar com a papelada de autorização, e na intermediação com a CET e a polícia.
"A maioria dos moradores sabe da importância do festival em uma comunidade tão carente de entretenimento, mas sempre tem quem não goste de ver a coisa dando certo", diz ele. O ingresso antecipado custa R$ 10 e, na hora, R$ 15.
Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores de Paraisópolis, elogia: "Em um evento assim, o jovem ocupa o tempo com coisas boas. Para a comunidade, é excelente."
O presidente da Câmara, Antônio Carlos Rodrigues (PR), esperado nos camarotes, não foi. Diz que nem sabia do rodeio. "Apoio sempre festas em comunidades carentes. Tenho até trio elétrico. Mas não é por voto", diz, sem que ninguém tivesse perguntado.
Os rodeios são seguidos por apresentações de bandas de pagode. "Amanhã (sábado) tem show do "Jeito Moleque': vai lotar", aposta a manicure Luzeni Jesus Santos, 31.

Cinco da manhã
O público costuma chegar depois da meia-noite. Ana, a mãe de Natasha, explica: "O povo em Paraisópolis sai tarde de casa. Cinco da manhã de segunda-feira ainda tá todo mundo na rua."
Na barraca de bebidas, o auxiliar de escritório Wellington de Souza, 23, vira o segundo copo de "perereca de 4" (R$ 8,00), um drinque feito de vodca, menta e kiwi. Ele explica que o rodeio tem concorrentes fortes na região, como o Batucão, um salão de funk, e o Maria Rita, de pagode. "Mas o festival é só uma vez por ano", diz.
A laje da casa de Sandoval está lotada, mas não para de chegar vizinho. "Sobe veia!", diz a atendente Andréa Martins, 30, para uma senhora que se equilibra na escada tosca de madeira que está apoiada no telhado.
Com a filha no colo, Sandoval, o dono da casa, diz ao repórter, debochado: "Duvido que a casa do doutor tenha uma vista dessas!"


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