São Paulo, terça, 25 de novembro de 1997.



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CHACINA
Caio Ferraz saiu do país porque era ameaçado e faz faxina
Sociólogo que organizou Vigário Geral vive hoje sob asilo nos EUA

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Quatro anos depois de criar a Casa da Paz, a entidade que ajudou a organizar os moradores de Vigário Geral depois das 21 mortes na favela, em 1993, o sociólogo Caio Ferraz pediu asilo nos Estados Unidos e faz faxina para ganhar a vida.
Em entrevista pelo telefone à Folha, Caio Ferraz, 29, disse que recebeu asilo político em junho e que até hoje teme ser morto.
Amanhã, ele acompanhará, pela home page da Casa da Paz, o julgamento do ex-PM Arlindo Maginário, por participação na chacina.

Folha - Por que o sr. pediu asilo?
Caio Ferraz -
Desde que eu comecei a receber ameaças no Brasil, eu disse que pediria asilo nem que fosse na Bósnia. Eu não quero ser assassinado. A Justiça brasileira não investiga nada, não vê a violação dos direitos do cidadão. (...) Mas eu ainda me sinto inseguro mesmo nos Estados Unidos.
Folha - Por que?
Ferraz -
Porque a elite brasileira é hipócrita. (...) É uma elite que teve coragem de dar um prêmio de direitos humanos a uma instituição como a Casa da Paz e ignorou as ameaças que eu estava sofrendo.
Folha - O sr. pretende voltar para o Brasil?
Ferraz -
Pra quê? Eu pretendo ir ao cemitério, dar um alô para o meu pai, que morreu no ano passado. Parece simples para o Brasil, acham que eu me exilei porque eu quero.
Folha - O que o sr. espera do julgamento (amanhã)?
Ferraz -
Eu espero que haja justiça. Não precisa ser uma condenação de 400 anos, é ridículo. Eu espero o reconhecimento de que é preciso indenizar as famílias.



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