São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 2005

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DIA DE PRINCESA

Detentas rezavam em voz alta enquanto suas colegas desfilavam

Concurso de miss divide presídio

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A beleza, ainda que fundamental, dividiu ontem a Penitenciária Feminina da Capital, a segunda maior do Estado.
De um lado, na passarela, dez detentas buscando o título de "miss presídio 2005". De outro, trancafiadas voluntariamente nas celas, rezando mais alto que a música eletrônica que embalava os desfiles, cerca de 20 mulheres que preferiram passar a tarde orando a Deus para salvar a alma das colegas pecadoras.
Elas não desceram ao pátio nem para o coroamento de Angélica Mazua, uma angolana de 23 anos, corpo e medidas de miss (1,79 m e pouco mais de 60 quilos), presa por tráfico de cocaína há apenas quatro meses.
"Isso não faz parte da minha fé. Essa necessidade de se expor é coisa do demo", diz a evangélica Rosimeiri Cavalieri, 40, presa há seis anos por um assassinato que ela diz não ter cometido.
Ela e outras companheiras de cela no pavilhão 1 fizeram uma corrente de fé durante os desfiles -que também premiaram a miss simpatia e os melhores textos em prosa e verso.
Indiferentes à opinião da turma religiosa, dez garotas que convivem diariamente com o anonimato das calças amarelas obrigatórias nos presídios paulistas tiveram seu dia de princesa, desfilando para um público de 1.000 pessoas (700 detentas) e diversas emissoras de TV.
"É muito louco. Quando você fica presa desacostuma a ser gente. Aqui, de vestido longo e salto alto, eu mal me reconheço", afirma Márcia Santana, 30, presa há sete anos por um roubo.
Nessa segunda edição do evento, não faltou nem o choro da miss vencedora. Mas apagados os refletores acabou também a alegria. "Hoje é um dia de princesa para elas. Mas de noite todas viraram abóboras de novo", disse um dos jurados, o veterano apresentador de TV Raul Gil.


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