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DIA DE PRINCESA
Detentas rezavam em voz alta enquanto suas colegas desfilavam
Concurso de miss divide presídio
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
A beleza, ainda que fundamental, dividiu ontem a Penitenciária
Feminina da Capital, a segunda
maior do Estado.
De um lado, na passarela, dez
detentas buscando o título de
"miss presídio 2005". De outro,
trancafiadas voluntariamente
nas celas, rezando mais alto que
a música eletrônica que embalava os desfiles, cerca de 20 mulheres que preferiram passar a tarde
orando a Deus para salvar a alma
das colegas pecadoras.
Elas não desceram ao pátio
nem para o coroamento de Angélica Mazua, uma angolana de
23 anos, corpo e medidas de miss
(1,79 m e pouco mais de 60 quilos), presa por tráfico de cocaína
há apenas quatro meses.
"Isso não faz parte da minha fé.
Essa necessidade de se expor é
coisa do demo", diz a evangélica
Rosimeiri Cavalieri, 40, presa há
seis anos por um assassinato que
ela diz não ter cometido.
Ela e outras companheiras de
cela no pavilhão 1 fizeram uma
corrente de fé durante os desfiles
-que também premiaram a
miss simpatia e os melhores textos em prosa e verso.
Indiferentes à opinião da turma religiosa, dez garotas que
convivem diariamente com o
anonimato das calças amarelas
obrigatórias nos presídios paulistas tiveram seu dia de princesa, desfilando para um público
de 1.000 pessoas (700 detentas) e
diversas emissoras de TV.
"É muito louco. Quando você
fica presa desacostuma a ser gente. Aqui, de vestido longo e salto
alto, eu mal me reconheço", afirma Márcia Santana, 30, presa há
sete anos por um roubo.
Nessa segunda edição do evento, não faltou nem o choro da
miss vencedora. Mas apagados
os refletores acabou também a
alegria. "Hoje é um dia de princesa para elas. Mas de noite todas
viraram abóboras de novo", disse um dos jurados, o veterano
apresentador de TV Raul Gil.
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