São Paulo, terça, 25 de novembro de 1997.



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SAÚDE
Mulher diz que, apesar de 'estar soltando líquido', médico disse para ir para casa; HU diz que ela seria transferida
USP recusa parto de grávida com feto morto

Lalo de Almeida/Folha Imagem
A dona-de-casa Rosemere Tereza da Silva, na casa de familiares na favela San Remo


LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

O Hospital Universitário da USP se recusou a fazer o parto da do na-de-casa Rosemere Tereza da Silva, 27, no último sábado. Ela es tava no último mês da gravidez, e o feto estava morto.
Rosemere diz que estava perden do "líquido" havia mais de uma semana, mas o médico adiava a ci rurgia afirmando que ela ainda não tinha dilatação necessária para fazer o parto.
No último sábado, a dona-de-ca sa chegou ao HU e foi constatado que o bebê estava morto. "O mé dico disse para eu voltar para casa, para esperar ter as contrações", afirma Rosemere.
No mesmo dia, no entanto, a do na-de-casa decidiu procurar outro hospital e fez o parto no Hospital Maternidade Sara. "No hospital, me disseram que aquilo era uma absurdo, que era um caso de polí cia e me deram um papel para eu ir à polícia", afirma.
No mesmo dia, sua família regis trou um boletim de ocorrência no 51º DP (Butantã), enquanto Rose mere retirava o bebê morto.
O HU confirma que recusou o parto de Rosemere. Segundo Pau lo Basto de Albuquerque, diretor da clínica obstétrica do hospital, a dona-de-casa seria encaminhada para outro hospital, já que ela não conseguiu provar que morava na região -como manda a norma da universidade. Segundo ele, o hos pital não conhece as causas da morte do bebê (leia texto ao lado).
Rosemere fez todo o acompa nhamento do pré-natal no pron to-socorro que atende os morado res da favela San Remo, que fica ao lado da USP e onde moram os fa miliares de Rosemere.
Ela conta que completou os nove meses no último dia 13 e que foi encaminhada para fazer o parto no Hospital Universitário.
Lá, afirma ela, eles realizaram vários exames. O último foi feito na última quarta-feira. "O médico disse que tudo estava bem e pediu que voltasse na segunda (ontem)."
No sábado, Rosemere, que tem outros três filhos, disse que não se sentiu bem e decidiu voltar ao hos pital. "Eles fizeram outro ul tra-som e viram que o bebê havia morrido", afirma.
Segundo o inspetor-chefe Jorge Abel Ferreira, do 51º DP, a polícia vai esperar o laudo do Instituto Médico Legal (IML) sobre as cau sas da morte do feto para começar a investigar o caso.
O professor de obstetrícia da Es cola Paulista de Medicina Antonio Rubino de Azevedo afirma que um feto morto é considerado "um fe to inteligente". Segundo ele, em 95% dos casos, o feto morto acaba nascendo em alguns poucos dias.
"Essa conduta (de esperar o feto morto nascer naturalmente) traz transtornos para mãe, porque ela fica carregando um cadáver. Mas não há riscos para a vida da mãe", afirma o professor.



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