São Paulo, terça, 25 de novembro de 1997.



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Pais de bebês vão processar maternidade

FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local

Pais dos bebês mortos por infecção hospitalar na Maternidade Municipal de Vila Nova Cachoeirinha (zona norte de São Paulo), entre setembro e novembro deste ano, vão entrar com processo na Justiça contra a prefeitura pedindo indenização.
Eles alegarão que, além de os bebês terem contraído a bactéria serratia (que provocou as doenças que levaram os recém-nascidos à morte) no berçário, não foram informados pela maternidade sobre a causa real dos óbitos -no atestado consta apenas septicemia (uma infecção generalizada).
Três familiares das vítimas só foram informados ontem, pela reportagem da Folha, que seus bebês contraíram a serratia dentro do berçário da maternidade.
Apesar de a Secretaria Municipal da Saúde não ter divulgado o nome das vítimas, a Folha teve acesso a um documento interno da maternidade em que constam os nomes de familiares de seis das vítimas da bactéria. Nesses três meses, a bactéria foi responsável por 12 mortes.
"Na maternidade disseram para a gente que a Beatriz morreu de uma infecção que ela teria contraído de mim. Agora que estou sabendo o real motivo (infecção hospitalar), vou falar com meu advogado", disse Iranilde Leite Ferreira, 24, que perdeu as filhas gêmeas Beatriz e Bianca.
"As meninas morreram de uma hora para a outra. Vou à Justiça para que a prefeitura indenize nossa família", disse Iranilde.
A dona-de-casa Érica Stein dos Santos, 21, e seu marido, Edwilson, 26, também perderam seus gêmeos Caio e Caíque porque contraíram infecção na maternidade de Vila Nova Cachoeirinha.
Mentira
"Os médicos não nos disseram que os bebês contraíram a bactéria no berçário. E como não entendo nada de medicina, eu acreditei em tudo o que eles nos falaram", disse Edwilson. "Se eles mentiram para a gente, devem ter enganado todo mundo."
O coordenador de comunicação social da Secretaria Municipal da Saúde, Orlando Magnoli, que na semana passada confirmou à Folha que os pais dos 12 bebês mortos não foram informados da contaminação hospitalar, disse ontem que "recorrer à Justiça é um direito de todos os cidadãos".
Segundo ele, não houve omissão da secretaria nem da direção da maternidade, apesar de os pais não terem sido informados que seus filhos foram contaminados dentro do berçário por uma bactéria.
"Os prontuários estão sempre à disposição dos familiares. Além disso, não é comum constar o nome de bactérias nos atestados de óbitos", disse Magnoli.



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