São Paulo, quinta, 25 de dezembro de 1997.



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ADMINISTRAÇÃO
Atraso em obras de projeto habitacional em SP deixa 30 famílias em "caixas de metal" pelo segundo ano
'Sem-Cingapura' passa Natal em contêiner

FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local


Trinta famílias carentes que aguardam seus apartamentos na fila do Projeto Cingapura vão passar o segundo Natal consecutivo dentro de contêineres no bairro Cohab José Bonifácio (zona leste de São Paulo) por causa da crise financeira da prefeitura.
São cerca de 150 pessoas morando em abafadas caixas metálicas de apenas 16 m2. Em média, cinco pessoas em cada família, dividindo uma área menor que a mínima prevista pela Lei de Execução Penal para presos em cadeias (6 m2).
Essas famílias, vítimas de um incêndio, foram alojadas nos contêineres em setembro de 96. A prefeitura prometeu que em 60 dias faria a entrega dos apartamentos definitivos, mas, sem verba no caixa, paralisou as construções e diminuiu o ritmo de entrega das unidades.
Quando foram alojados nos contêineres, os moradores não se importaram com o espaço pequeno. "Pelo menos tínhamos onde morar", diz o líder da comunidade, Sebastião Gaudêncio Alves.
Mas logo perceberam que havia goteiras em dias de chuva e que as casas se transformavam em "forno" ao meio-dia e em "geladeira" em noites de inverno.
"As crianças ficam doentes todo mês", diz Maria Antônia da Silva. "Votamos no Pitta porque nos prometeram um Cingapura. Acreditamos na promessa, mas parece que esqueceram da gente."
Choque
A família Alves é outra que vai passar o segundo Natal nos contêineres. O padeiro José Elias, que mora com a mulher, duas filhas, a gata Madonna e vários pássaros no contêiner número 15, diz que é comum as paredes de metal transmitirem eletricidade.
"Colamos papelão nas paredes para que as crianças não tomem choque a toda hora", afirma José Elias.
Apesar de já estar com o contêiner mobiliado e enfeitado com lâmpadas e uma árvore de Natal, ele diz que ainda não se sente em casa e que passa noites sem dormir temendo novos acidentes.
"Morremos de medo de um novo incêndio", diz José Elias, um dos sobreviventes do incêndio que matou dez pessoas na Cohab José Bonifácio no ano passado.
"Isso aqui é horrível. Parece a entrada do inferno."
A Secretaria Municipal da Habitação (Sehab) diz que houve atraso no cronograma em todas as unidades do Cingapura este ano por causa da crise financeira da prefeitura. Segundo a secretaria, os moradores dos contêineres receberão seus apartamentos em abril de 98 (leia texto abaixo).



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