São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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URBANIDADE

Casa número 1

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Quando a casa número 1 foi erguida, em 1689, São Paulo estava limitada quase exclusivamente a uma colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, onde não moravam nem 20 mil pessoas. Localizada ao lado do solar da marquesa de Santos, nos arredores do Pátio do Colégio, a casa já foi abrigo de bandeirantes e acaba de virar um laboratório experimental de teatro de vanguarda. "Sempre procuramos descentralizar os espaços artísticos da cidade, democratizando os espaços culturais", diz o ator Vanderlei Bernardino, do Teatro Vertigem.
O grupo encenava em hospitais e presídios, que eram transformados em cenários para as peças. Os atores sentiram, porém, a necessidade de uma sede e percorreram a cidade à procura de um imóvel barato, de fácil acesso e, de preferência, com significado histórico. Descobriram que a casa número 1, de propriedade do governo estadual, estava vazia e souberam da existência da Lei do Fomento para o Teatro da Cidade de São Paulo.
A combinação dessas descobertas equivaleu a algo como ganhar na loteria. Ganharam o direito de ficar, ao mesmo tempo, num local histórico e num dos pontos mais encantadores de São Paulo: ao lado do Pátio do Colégio, onde a cidade nasceu, e ao lado da residência da marquesa de Santos, uma das mais famosas transgressoras da história do Brasil, que sempre atraiu artistas e intelectuais para sua mansão. Restauradores encontraram na casa número 1, perdidos no tempo e sob as camadas de tinta, inusitados murais. "Teremos a chance de desenvolver nosso trabalho, recebendo outros grupos para a troca de experiências", sonha Vanderlei, nascido no interior de São Paulo, mas, pelo teatro, convertido à paulistanidade. "É um lugar muito charmoso, onde pensamos criar um centro de convivência artística numa região esquecida. Vamos jogar luz."
Para completar o cenário, existe ao lado da casa um pequeno beco, onde o Teatro Vertigem se propõe a fazer espetáculos a céu aberto, sempre em caráter experimental. A melhor experiência, por enquanto, é a urbana: cidades de várias partes do mundo, a começar de Nova York, já recuperaram espaços deteriorados, atraindo artistas, capazes de gerar rapidamente vida, alegria e atividade econômica.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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