|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
URBANIDADE
Casa número 1
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Quando a casa número 1 foi erguida, em 1689,
São Paulo estava limitada quase
exclusivamente a uma colina
entre os rios Tamanduateí e
Anhangabaú, onde não moravam nem 20 mil pessoas. Localizada ao lado do solar da marquesa de Santos, nos arredores
do Pátio do Colégio, a casa já foi
abrigo de bandeirantes e acaba
de virar um laboratório experimental de teatro de vanguarda.
"Sempre procuramos descentralizar os espaços artísticos da cidade, democratizando os espaços culturais", diz o ator Vanderlei Bernardino, do Teatro
Vertigem.
O grupo encenava em hospitais e presídios, que eram transformados em cenários para as
peças. Os atores sentiram, porém, a necessidade de uma sede
e percorreram a cidade à procura de um imóvel barato, de fácil
acesso e, de preferência, com significado histórico. Descobriram
que a casa número 1, de propriedade do governo estadual, estava vazia e souberam da existência da Lei do Fomento para o
Teatro da Cidade de São Paulo.
A combinação dessas descobertas equivaleu a algo como ganhar na loteria. Ganharam o direito de ficar, ao mesmo tempo,
num local histórico e num dos
pontos mais encantadores de
São Paulo: ao lado do Pátio do
Colégio, onde a cidade nasceu, e
ao lado da residência da marquesa de Santos, uma das mais
famosas transgressoras da história do Brasil, que sempre atraiu
artistas e intelectuais para sua
mansão. Restauradores encontraram na casa número 1, perdidos no tempo e sob as camadas
de tinta, inusitados murais. "Teremos a chance de desenvolver
nosso trabalho, recebendo outros grupos para a troca de experiências", sonha Vanderlei, nascido no interior de São Paulo,
mas, pelo teatro, convertido à
paulistanidade. "É um lugar
muito charmoso, onde pensamos criar um centro de convivência artística numa região esquecida. Vamos jogar luz."
Para completar o cenário, existe ao lado da casa um pequeno
beco, onde o Teatro Vertigem se
propõe a fazer espetáculos a céu
aberto, sempre em caráter experimental. A melhor experiência,
por enquanto, é a urbana: cidades de várias partes do mundo, a
começar de Nova York, já recuperaram espaços deteriorados,
atraindo artistas, capazes de gerar rapidamente vida, alegria e
atividade econômica.
E-mail - gdimen@uol.com.br
Texto Anterior: Bordados auxiliam jovens em SP Próximo Texto: Há 50 anos Índice
|