São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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URBANISMO

Após seis anos de restauro de prédios históricos e de investimentos, área histórica da cidade permanece vazia

Santos resgata boemia para revitalizar centro

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A cidade de Santos, no litoral sul de São Paulo, resolveu apostar no resgate da boemia para revitalizar o centro histórico, que um dia já foi palco de artistas como a cantora Carmen Miranda e a atriz francesa Sarah Bernhardt.
A decisão parte da experiência santista na área. Após seis anos durante os quais restaurou prédios históricos e fez investimentos, como a construção de uma linha de bonde com 1,7 km de extensão, a cidade tem um centro próximo do impecável em relação ao de São Paulo -porém vazio.
A aposta na noite começou a ocupar a atenção da prefeitura há cerca de dois anos. Programas de atração de novos estabelecimentos foram desenvolvidos, mas poucos empresários se dispuseram a aceitá-los até agora.
Por isso, a administração partiu para uma nova pauta, que inclui da reforma da parte mais antiga do porto a incentivos fiscais ainda mais atraentes. Há um ano parado na Câmara Municipal, o programa Alegra Centro criou polêmica (leia texto nesta página).
As ruas 15 de Novembro e do Comércio, das mais antigas da cidade, são as primeiras a perceber o novo posicionamento da prefeitura. Na próxima sexta-feira, será inaugurada oficialmente a iluminação especial das vias, com 79 postes antigos e duas luminárias de vapor de sódio cada um.
A nova iluminação, de tom amarelado, transformou o local numa espécie de cenário de época. Os casarões, de em média 110 anos, são iluminados com 35 refletores de piso. O estilo arquitetônico predominante do centro santista é o eclético, uma mistura de várias escolas. Algumas construções, exageradamente ornadas, refletem o dinheiro que circulava no período do café.
As primeiras iniciativas conseguiram atrair alguns empresários da cidade. Na região do antigo Teatro Coliseu, prédio de 1836 onde se apresentou de Carmen Miranda a Villa-Lobos, a casa noturna Mythos virou referência em apenas dois anos de vida.
A fórmula dos proprietários foi misturar música tecno e o restauro da antiga sede da telefônica de Santos, um prédio da década de 30 com três pavimentos. DJs como o inglês Paul Oakenfold são as atrações que a casa já exibiu. A diretora de marketing da Mythos, Veridiana Paullela Castanho, aposta no fim do restauro do Coliseu, previsto para março, para incrementar ainda mais a região.
Próxima da Mythos, na rua da Constituição, será inaugurada a casa noturna Dot.com. A nova atração foi construída na antiga sede da fábrica de bananadas Lionesa, instituição centenária da cidade que prosperou na época em que a cantora do Teatro Coliseu usava turbante de bananas.
"Eu tanto acredito na revitalização do centro que estou lá há um ano", diz o empresário Angelo Silva, que abriu um café e uma boate na rua 15 de Novembro. Com decoração inspirada em bistrôs franceses, o café Atrium e o Retrô Lounge ocupam um casarão de 110 anos, antes abandonado.
"Em qualquer lugar do mundo, o retorno ao centro, à história da cidade, foi feito com muito êxito. Santos é uma ilha, não tem onde construir nada novo. Tem de recuperar o que tem", considera.
O processo iniciou-se com a reforma do prédio da Bolsa do Café, que consumiu R$ 3,5 milhões do governo do Estado. De acordo com o prefeito Beto Mansur (PPB), até hoje a cidade investiu R$ 21,5 milhões. Outras obras já estão previstas.


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