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WALTER CENEVIVA
São Paulo e Schwarzenegger
O equipamento público de repressão e punição parece cada vez mais distante do sucesso
O GOVERNADOR ARNOLD
Schwarzenegger (Califórnia,
EUA) vive problemas parecidos com os que são comuns em São
Paulo. Na Califórnia, conforme noticiou o "Los Angeles Times", o governador proclamou a necessidade urgente de reduzir o número de detentos em suas prisões. Estão congestionadas ("overcrowded").
A ocupação excessiva (levando a
abusos e revoltas) não terá solução
com o agravamento das penas e a
ampliação da punibilidade criminal.
O assunto dá bom motivo, na seqüência do aniversário da cidade,
pois a superlotação de presídios
também aflige não só aos paulistanos, mas a todos os brasileiros.
A administração de Schwarzenegger quer libertar milhares de presos
considerados de baixo risco. Assim,
poderia aplicar o dinheiro público
economizado em outras finalidades.
Lá, como cá, o custeio por preso é
muito alto. Para chegar, porém, ao
resultado pretendido, o governador
californiano precisa alterar a lei vigente. A dificuldade, na Califórnia,
parece com a nossa: a pressão eleitoral sobre o Legislativo não encoraja
os deputados a acolher a proposta
do Executivo.
Aqui, a cada novo delito espetaculoso, a sociedade e os meios de comunicação reclamam punições longas e severas, policiamento agressivo, mais gente presa, mesmo sabendo que as celas em cadeias, casas de
detenção e penitenciárias não têm
capacidade ou adequação para tais
políticas mais severas, além do pesado orçamento.
A questão central do combate ao
crime está em que o equipamento
público de repressão e punição parece cada vez mais distante do sucesso. Basta pensar em eventos nas
duas maiores cidades do Brasil, em
dias recentes, com chacinas, ataques
por policiais e contra policiais, agravando a angústia das pessoas.
A violência individual dá a impressão de que tende a ser substituída
pela violência coletiva, praticada por
conjuntos de pessoas, o que acontece até mesmo sob a capa de movimentos sociais ou de grupos, causadores de danos materiais e físicos,
freqüentemente sob disfarces políticos, econômicos e até esportivos,
resvalando para o crime e estimulando mecanismos de reação.
É difícil convencer a cidadania de
que o problema não será resolvido
com o agravamento geral dos mecanismos punitivos ou repressivos, alguns dos quais carentes de reformulação constitucional.
Ficando no exemplo de São Paulo,
a criminalidade expandiu-se desde
1950 em números impressionantes.
Foi o mesmo pelo mundo afora. Cuidando do tema, o advogado Rodrigo
G. de Azevedo e a psicóloga Andréa
L. Fagundes publicaram ensaio em
que definem o modelo da "nova prevenção", substituindo a segregação
do delinqüente, que já esgotou todas
as possibilidades no controle do crime. Recomendam o afastamento de
medidas meramente reativas.
Nesse ensaio, publicado na "Revista de Estudos Criminais" (nº 26)
-com atuação conjunta da PUC-RS,
do Itec (Instituto Transdisciplinar
de Estudos Criminais) e da Editora
Notadez-, incluem, entre os novos
caminhos, a municipalização da gestão da segurança. Os crimes acontecem no local, convindo que a direção
dos meios garantidores da segurança esteja próxima dos focos que a
atingem e ofendem. O ensaio é muito mais amplo e denso que a síntese
possível neste espaço. Merece atenção pelo conjunto das idéias.
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