São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

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Cresce adesão ao boicote do IPTU no Rio

Associações querem pagamento do imposto só em novembro para não ser usado em "obras eleitoreiras"

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Cresce a adesão de associações de moradores de bairros do Rio ao boicote contra o pagamento do IPTU em protesto contra o suposto descaso do prefeito Cesar Maia (DEM) com a cidade e o risco de uso em "obras eleitoreiras" do dinheiro arrecadado.
Já são ao menos 22 as associações de moradores que defendem o pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) apenas em novembro ou em juízo, para que a o tributo não seja utilizado antes das eleições municipais, em outubro. Panfletagem no Largo do Machado (zona sul) ontem reuniu 20 pessoas, colhendo assinaturas de adesões.
Os líderes do movimento reclamam de favelização, má conservação da cidade e da desordem urbana. Maia atribui o protesto à aproximação do período pré-eleitoral.
Prefeito em terceiro mandato, sendo dois consecutivos, Maia afirma que o "protesto político é risível, sem nenhuma capilaridade ou apoio". "O problema é que elas [associações] há muitos anos perderam a representatividade e mal reúnem dez pessoas ao convocarem."
A idéia do "boicote" surgiu na Associação de Moradores da Fonte da Saudade, na Lagoa Rodrigo de Freitas (zona sul), com apoio da vereadora Aspásia Camargo (PV). Ela foi presidente da CPI da Desordem Urbana e um dos focos do trabalho foi a Fonte da Saudade. Em seguida, associações de outros bairros se juntaram ao protesto. A organização do movimento ainda não tem a dimensão do "boicote".
O alvo é um imposto cuja arrecadação representou, no ano passado, 11,4% da receita da prefeitura. Os pagamentos até outubro significam 92,9% da arrecadação do imposto.
"Todo ano eleitoral ele enche a cidade de obra: asfalta rua, pinta poste. Nos outros três anos ele a abandona", afirmou o presidente da Associação de Pequenos Prédios do Leblon e Ipanema, Augusto Boisson.
O nome comprido da associação de Boisson revela também a divisão nas zonas sul e norte em relação ao boicote. Apenas no Leblon -bairro com cerca de 46 mil moradores, de acordo com dados do Instituto Pereira Passos- há quatro associações de moradores. Três aderiram ao boicote e uma é contra. Todas afirmam representar cerca de 5.200 pessoas.
"O movimento é válido quando apresenta solução para as coisas. Este protesto acabou se politizando partidariamente", diz Evelyn Rosenzweig, presidente da Associação dos Moradores do Alto Leblon, que não aderiu ao protesto. Ela foi funcionária da prefeitura há 12 anos (durante a primeira administração Maia).
Os manifestantes não classificam o movimento como desobediência civil. "É um ato de cidadania. Não somos desobedientes. Somos cidadãos de primeira categoria. Desobediente é quem não cumpre a lei", diz Ana Simas, presidente da associação da Fonte da Saudade, região onde nasceu o protesto.

Preocupações
Enquanto se mobilizam, presidentes de algumas associações tentam desvincular os protestos de vereadores e pré-candidatos à sucessão de Maia.
Passeata no domingo passado, ao menos cinco pré-candidatos à prefeitura compareceram: Jandira Feghalli (PC do B), Chico Alencar (PSOL), Andréa Gouvêa Vieira (PSDB), Alessandro Molon (PT) e Alfredo Sirkis (PV). Eles não puderam discursar ao microfone.
A adesão de associações da zona norte -Vila Isabel, Grajaú, Catumbi, Méier, entorno do estádio João Havelange, o Engenhão, e São Cristóvão-, bairros de classe média baixa, é o argumento dos manifestantes para rechaçar a classificação do protesto como "elitista".


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