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OPINIÃO
Polícia: direção e execução
BISMAEL B. MORAES
Não há, sobre a face da Terra,
qualquer forma de Estado sem
uma organização policial. Encontram-se países -grandes e pequenos- desprovidos de Forças Armadas, mas não existe país sem
polícia.
Até o Vaticano, que administra a
Igreja Católica no mundo, formada por papa e cardeais, bispos, cônegos, padres, freiras e coroinhas,
não prescinde dessa organização
pública. Poucos a estudam; porém
muitos a querem dirigir.
Lidando com a vida, a liberdade,
a honra, o patrimônio e a segurança dos membros da sociedade,
ainda assim a polícia não foi estudada pela universidade. Outras
matérias menos importantes são
pesquisadas e discutidas.
Por isso, é possível encontrar alguém com o título de doutor em
direito ou em sociologia -portanto, com defesa de tese- que
saiba tanto sobre polícia como
qualquer pessoa que assista a filmes "policiais". Ou seja: nada sabem.
O mestre francês Fernand Cathala, em seu livro "Polícia: Mito e
Realidade", critica os que fecham
os olhos ao procedimento policial,
mesmo que reprovável, desde que
haja muitas prisões e rapidez na
repressão. Esses "entendidos"
acham que não logrará êxito na
carreira o policial que se esmere
em "conhecimentos, seja esclarecido e se preocupe em observar e
respeitar a normas legais".
Talvez por isso, em regra, os governantes entendam que, para ser
um bom policial, o importante é a
força física e a habilidade com a
arma. Mas como agirá um desses
brutamontes numa investigação
sobre um crime do "colarinho
branco", num desfalque bancário, num grande contrato fraudulento?
Parece ser por isso que algumas
autoridades e comandantes ainda
preparam policiais para "caçar"
bandidos em favelas, como se não
houvesse bandidos em palácios. O
miserável, que mora mal, vive
mal, tem pouca instrução e cuja
aparência não agrada aos olhos
deve ser o primeiro suspeito. Para
que uma polícia bem preparada e
com garantias para sua missão, se
isso representa risco para grande
parte das elites desonestas?
Não é por outro motivo que há
muita gente importante querendo
dirigir a polícia, sem desejar, todavia, colocar as mãos na massa, trabalhar à noite, aos sábados, domingos e feriados. É fácil ficar longe do contato com o povo sem ser
atingido pela insegurança, mas arvorando-se de censor, quando falhas policiais ocorrerem. Como
pode pretender a direção quem
não conhece a execução?
Bismael B. Moraes, 60, advogado, mestre em
direito pela USP, é professor da Faculdade de
Direito de Guarulhos e presidente da Associação
dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.
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