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SAÚDE
Médico de Harvard diz que diagnóstico em recém-nascidos tem que ser rápido
Defeito cardíaco congênito tem cura
ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Sucursal do Rio
Doenças do coração afetam todo ano cerca de 35 mil dos recém-nascidos no Brasil, 0,8% dos nascimentos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular.
Mas a maior parte dos defeitos
congênitos do coração tem tratamento, desde que o diagnóstico
seja feito com rapidez, afirma o
médico chileno Pedro José del Nido, 45, chefe do hospital pediátrico da faculdade de Medicina de
Harvard. Ele foi um dos principais convidados do 27º Congresso Nacional de Cirurgia Cardíaca,
realizado semana passada, no Rio
de Janeiro.
A seguir, os principais trechos
de sua entrevista:
Folha - Os pais podem evitar
que doenças congênitas afetem
seus filhos?
Pedro J. del Nido - Na grande
maioria dos casos, não. Sabemos
que muitas das doenças congênitas aparecem na gestação, causadas por infecções com vírus, certos medicamentos, drogas. Mas
essas são as causas da minoria das
doenças, 95% dos casos não têm
origem conhecida. No caso das
doenças do coração, os problemas congênitos são parte da formação do órgão. Esse processo
está ligado aos genes, área de pesquisa recente.
Folha - Nos EUA, qual a incidência de problemas congênitos no coração?
Pedro J. del Nido - A proporção é de 0,2% entre as crianças
nascidas no país, o que é um grande problema, principalmente devido às consequências para a vida
dos doentes, pois muitos dos problemas não se podem corrigir,
apenas minorar. Quase todos os
defeitos congênitos do coração
têm cirurgia corretora, mas o problema é garantir uma vida normal
para a criança após a operação.
Folha - Das crianças que nascem com problemas congênitos
no coração, quantas realmente
precisam de uma cirurgia?
Pedro J. del Nido - A grande
maioria não precisa; medicamentos podem controlar o problema.
Em 25% dos casos, faz-se necessária alguma intervenção, ou com
cateterismo ou com cirurgia.
Folha - Os problemas podem
ser identificados nos exames
pré-natais?
Pedro J. del Nido - Muitos deles, os mais complexos. Os problemas mais simples só aparecem
depois do nascimento, ou quando
a criança começa a crescer.
Folha - Há casos sem solução?
Pedro J. del Nido - São muito
raros e, quando isso acontece, recomendamos o transplante para
o recém-nascido.
Folha - Qual é o tempo de espera até se achar um doador de
coração para uma criança recém-nascida?
Pedro J. del Nido - Varia entre
quatro a seis semanas. Os doadores, em alguns casos, podem ser
crianças de até um ano mortas
por causas variadas. Durante esse
período de espera por um doador, é muito difícil manter viva a
criança com problemas graves. A
mortalidade pode chegar a 30%.
Folha - Qual o custo para se
manter viva uma criança que espera um transplante?
Pedro J. del Nido - Em nosso
hospital, a média de espera por
um coração é de sete a dez dias. Isso pode custar de US$ 60 mil a
US$ 80 mil.
Folha - Nos EUA, essa despesa
é coberta por seguros de saúde
ou pelo governo?
Pedro J. del Nido - Os seguros
de saúde cobrem esses casos.
Quando os pais não têm o seguro
privado, o governo paga parte das
despesas. A outra parte pode ser
assumida pelos próprios hospitais ou pelos pais.
Folha - Quantas cirurgias de
coração são feitas em crianças,
no seu hospital?
Pedro J. del Nido - No ano passado, tivemos cerca de 1.100 cirurgias, das quais 14 foram transplantes.
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