São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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SAÚDE
Médico de Harvard diz que diagnóstico em recém-nascidos tem que ser rápido
Defeito cardíaco congênito tem cura

ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Sucursal do Rio

Doenças do coração afetam todo ano cerca de 35 mil dos recém-nascidos no Brasil, 0,8% dos nascimentos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular.
Mas a maior parte dos defeitos congênitos do coração tem tratamento, desde que o diagnóstico seja feito com rapidez, afirma o médico chileno Pedro José del Nido, 45, chefe do hospital pediátrico da faculdade de Medicina de Harvard. Ele foi um dos principais convidados do 27º Congresso Nacional de Cirurgia Cardíaca, realizado semana passada, no Rio de Janeiro.
A seguir, os principais trechos de sua entrevista:

Folha - Os pais podem evitar que doenças congênitas afetem seus filhos?
Pedro J. del Nido -
Na grande maioria dos casos, não. Sabemos que muitas das doenças congênitas aparecem na gestação, causadas por infecções com vírus, certos medicamentos, drogas. Mas essas são as causas da minoria das doenças, 95% dos casos não têm origem conhecida. No caso das doenças do coração, os problemas congênitos são parte da formação do órgão. Esse processo está ligado aos genes, área de pesquisa recente.

Folha - Nos EUA, qual a incidência de problemas congênitos no coração?
Pedro J. del Nido -
A proporção é de 0,2% entre as crianças nascidas no país, o que é um grande problema, principalmente devido às consequências para a vida dos doentes, pois muitos dos problemas não se podem corrigir, apenas minorar. Quase todos os defeitos congênitos do coração têm cirurgia corretora, mas o problema é garantir uma vida normal para a criança após a operação.

Folha - Das crianças que nascem com problemas congênitos no coração, quantas realmente precisam de uma cirurgia?
Pedro J. del Nido -
A grande maioria não precisa; medicamentos podem controlar o problema. Em 25% dos casos, faz-se necessária alguma intervenção, ou com cateterismo ou com cirurgia.

Folha - Os problemas podem ser identificados nos exames pré-natais?
Pedro J. del Nido -
Muitos deles, os mais complexos. Os problemas mais simples só aparecem depois do nascimento, ou quando a criança começa a crescer.

Folha - Há casos sem solução?
Pedro J. del Nido -
São muito raros e, quando isso acontece, recomendamos o transplante para o recém-nascido.

Folha - Qual é o tempo de espera até se achar um doador de coração para uma criança recém-nascida?
Pedro J. del Nido -
Varia entre quatro a seis semanas. Os doadores, em alguns casos, podem ser crianças de até um ano mortas por causas variadas. Durante esse período de espera por um doador, é muito difícil manter viva a criança com problemas graves. A mortalidade pode chegar a 30%.

Folha - Qual o custo para se manter viva uma criança que espera um transplante?
Pedro J. del Nido -
Em nosso hospital, a média de espera por um coração é de sete a dez dias. Isso pode custar de US$ 60 mil a US$ 80 mil.

Folha - Nos EUA, essa despesa é coberta por seguros de saúde ou pelo governo?
Pedro J. del Nido -
Os seguros de saúde cobrem esses casos. Quando os pais não têm o seguro privado, o governo paga parte das despesas. A outra parte pode ser assumida pelos próprios hospitais ou pelos pais.

Folha - Quantas cirurgias de coração são feitas em crianças, no seu hospital?
Pedro J. del Nido -
No ano passado, tivemos cerca de 1.100 cirurgias, das quais 14 foram transplantes.


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