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REVISTA
Muito além dos Jardins
PAULO SAMPAIO
da Revista
Os estilosos de Higienópolis
conseguiram. Depois de muito
empenho em levar uma vida cosmopolita, cool, veio a recompensa: o bairro de FHC ganhou uma
reportagem de 14 páginas na última edição da revista britânica
"Wallpaper", um catatau de 400
páginas transbordantes de modernidade ("A primeira revista
global da história, feita para gente
cult, bacaninha, well dressed e
well traveled", na definição do seu
representante comercial no Brasil, Chico Lowndes, 29).
Na avaliação da "Wallpaper",Higienópolis é "cosmopolitan",
"classy", "verdant", "breezy". "O
bairro tem tudo que um bom endereço deve ter...", diz o texto do
arquiteto Lorenz Ackermann.
Muita gente pensa como a
"Wallpaper", considerada por
Ackermann a "bíblia" da estética
contemporânea. "A gente adotou
a palavra cult como o símbolo de
Higienópolis. Está ali a essência
da "intelligentsia" da cidade", diz o
publicitário Isac Chapira.
Essa "essência da intelligentsia"
tem suas particularidades. Pergunte, por exemplo, onde um
morador de Higienópolis vive. Ele
provavelmente responderá com o
nome do prédio (ou arquiteto),
em vez de citar a rua. "O Umuarama me faz lembrar o Dakota (edifício onde morou John Lennon).
Eu me sinto totalmente refugiada
no tempo", diz a escritora Fernanda Young, 29.
O pessoal da "Wallpaper" estacionou na frente do prédio Bretagne, do arquiteto Artacho Jurado (1907-83). "Ele fez uma mistura de elementos que é, no mínimo, kitsch. Na portaria, fica um
biombo de flor-de-lis de gesso",
diz Cid Torquato, diretor de um
portal da Internet.
Para a corretora de imóveis
Etienne Peled, não dá mais para
associar o Bretagne ao "beautiful
people". Hoje, os apartamentos
variam de R$ 120 mil (dois quartos) a R$ 180 mil (três quartos).
Cachorro
"Sempre tive uma simpatia
muito grande pelo Cinderela (cachorro)", diz o gerente de comunicação Valdir Cimino, 39, que
mora com o amigo decorador Ricardo Aquino, 38. Eles têm um cachorro, acessório básico no bairro. Para Aquino, "as pessoas aqui
possuem um nível cultural bom,
por isso entendem o cachorro que
você tem, sorriem para ele".
"Gosto da Pipoca, mas tenho
um dog walker que a leva para
passear", diz Fernanda Young,
que cria uma schnauzer.
"O único lugar que morei fora
de São Paulo foi Milão. Pois aqui,
eu me sinto em Milão: o verde, os
prédios anos 40, 50, muita gente
com cara de europeu", diz a empresária Patrícia Capaldi, 38.
A "essência da intelligentsia"
paulistana perdeu a compostura
quando a equipe da "Wallpaper"
desembarcou no bairro. "Todo
mundo queria aparecer na matéria. O povo perguntava: a "Wallpaper" passou por aqui?'", conta a
dona do restaurante Carlota, Carla Pernambuco.
Tanta festa em relação a Higienópolis é recente. Até pouco tempo, o bairro era familiar, reduto
de judeus mais ricos e com uma
grande concentração de idosos. O
bairro é hoje uma mistura hoje
dessas diferentes "ocupações".
Os intelectuais, artistas e o tal
"beautiful people" vieram para o
bairro atraídos pelos apartamentos antigos, mais amplos. A nova
leva de moradores é de artistas
emergentes e de endinheirados.
O morador que se considera
"cria do bairro" rejeita emergentes. O habitante de Higienópolis
diz que lugar de emergente é em
Moema, ou Itaim. "Moema é brega. É a Barra da Tijuca paulista; e o
Itaim não perde aquele ar de
pronta-entrega. É uma espécie de
Zé Paulino melhorada", diz o arquiteto Jorge Elias.
Tanto discernimento veio a calhar com o espírito cult-bacaninha da revista Wallpaper. Encantados, seus editores não resistiram e acabaram se incluindo no
"fecho" da matéria. "Se um dia o
escritório da Wallpaper em São
Paulo for ampliado para acomodar seu pessoal, você já sabe onde
nos encontrar", conclui o texto.
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