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ACIDENTE EM ALTO-MAR
Equipamento, que só deveria permitir passagem de óleo e água, teria injetado gás no tanque de resíduos
Falha em válvula pode ter causado explosões
PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A MACAÉ
O defeito em uma válvula pode
ter sido responsável pela pressurização do sistema de ventilação do
tanque de resíduos e pelo entupimento do abafador de chamas,
principais problemas apontados
três dias antes do acidente na P-36
pelos boletins diários da unidade
da Petrobras.
Segundo a Folha apurou, essa
válvula fica no duto que liga um
dos vasos de separação de gás,
óleo e água ao tanque de resíduos,
localizado na coluna da plataforma que explodiu.
O equipamento, que deveria
apenas dar passagem ao óleo e à
água que sobram do processo de
separação, permaneceu aberto e
permitiu a liberação de gás para o
tanque de resíduos.
A entrada de gás teria pressurizado o sistema de ventilação e
causado três explosões no último
dia 15, que acabaram provocando
o afundamento da P-36.
O sistema de separação é composto por quatro ou cinco vasos
-grandes compartimentos que
armazenam o óleo bruto que vem
diretamente do poço. E separa,
por diferença de densidades, o
óleo, o gás e a água, que sobem
misturados por dutos do fundo
do mar.
Esse processo é gradativo, separando no primeiro vaso "o grosso", depois retirando o resto dos
resíduos e armazenando no tanque. É semelhante ao tratamento
de filtragem da água encanada.
Com a válvula aberta, o gás foi
se concentrando a pressões cada
vez maiores no tanque e depois
no sistema de ventilação. Qualquer faísca seria suficiente para
provocar as explosões.
Bomba em manutenção
Outro problema que teria influenciado o acidente é que a
bomba do equipamento de armazenar resíduos havia sido retirada
para manutenção. Com isso, o
tanque não era esvaziado de óleo
e água.
Essa informação, obtida pela
Folha com um ex-supervisor de
produção de plataformas da Petrobras que ainda trabalha como
operador, não é contraditória
com o relato do supervisor da P-36 Sebastião Filho, que afirmou,
em entrevista, que "o tanque estava inoperante e isolado".
O ex-supervisor afirma que,
mesmo com compartimento de
resíduos parado, só isso não seria
causa de uma explosão. Isso porque o óleo armazenado libera gás,
"mas em pequena quantidade, insuficiente para causar acidente".
Segundo ele, o que ocorreu, certamente, foi a falha na válvula,
que deixou acumular muito gás
em alta pressão no sistema, agravada pela manutenção na bomba
do tanque.
Corta-chamas
Para o ex-supervisor, que disse
ter ouvido esses problemas de vários funcionários da produção
embarcados na P-36, o entupimento do corta-chamas se deve
também ao vazamento de gás pela válvula. Isso porque, mesmo
tendo passado por um processo
de separação, o produto ainda
não havia sido totalmente filtrado
e carregava partículas de óleo.
Essas partículas foram se impregnando no corta-chamas, que
entupiu e piorou a situação, uma
vez que o gás contido no tanque e
no sistema de ventilação tinha
menos espaço para sair.
O duto de ventilação opera com
pressão atmosférica, menor do
que a do gás comprimido nos vasos. E serve, justamente, para ventilar e dar passagem para o gás
que eventualmente se aglomere
no tanque de resíduos.
O corta-chamas é um equipamento de segurança usado para
evitar que, em caso de incêndio
causado pelo gás contido no duto
de ventilação, o fogo volte para o
tanque, o que poderia causar uma
explosão. É feito com uma malha
fina de aço, que impede o retorno
das chamas.
Local errado
Segundo o ex-supervisor, o local
onde estava o tanque de resíduos
(em coluna de sustentação da plataforma) é, no mínimo, inadequado. "Qual a recomendação do
corpo de bombeiros no caso de
um bujão explodir? Não é colocar
em lugar arejado e aberto? A Petrobras não seguiu a orientação."
Para ele, o fato de o tanque estar
lá se deve à adaptação da P-36, inicialmente projetada como plataforma de perfuração e modificada
para de produção para atender à
Petrobras.
O ex-supervisor afirmou que teve a informação de que o tanque,
no projeto original, era usado para acumular lama, retirada do
fundo do mar durante a perfuração dos poços.
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