São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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LIXO

Agência de Pinheiros vê o encerramento como única saída para o mau cheiro que incomoda moradores da zona oeste

Cetesb quer fechar usina na Vila Leopoldina

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cetesb vai tentar dar um capítulo final à novela da usina de compostagem de lixo da Vila Leopoldina (zona oeste de SP). Em documento encaminhado à diretoria da agência ambiental do governo paulista, a gerência do órgão em Pinheiros (que engloba a Vila Leopoldina) recomendou o fechamento da usina como única saída para o fim do mau cheiro que incomoda vizinhos do local.
Caso a indicação seja aceita, a Cetesb tem o poder de ordenar o encerramento à prefeitura que, para voltar a fazer o equipamento funcionar, terá de recorrer à Justiça. A decisão final não deve demorar a sair. O parecer foi enviado ao departamento jurídico da agência segunda-feira, onde as justificativas técnicas são avaliadas para evitar questionamentos.
Entre 24 de novembro e 21 de dezembro, a Cetesb realizou, na região em torno da usina, uma pesquisa de percepção e concluiu que moradores num raio de 1 km do local ainda se incomodavam com o mau cheiro do processo de compostagem, mesmo depois que a prefeitura, a pedido da Promotoria de Meio Ambiente da Capital, implantou uma série de medidas para tentar neutralizá-lo.
Aliando isso às reclamações -elas explodiram em 2003 e, neste ano, foram 44 só até o fim de fevereiro- e a visitas feitas aos arredores da usina, a gerência de Pinheiros sugeriu o fechamento.
Os problemas da Vila Leopoldina se arrastam desde o início dos anos 90, mas a posição oficial da Cetesb sempre foi a de evitar o fechamento por causa do ganho ambiental da compostagem. Por isso a agência exigiu diversas ações para minimizar o mau cheiro ao longo dos últimos anos.
Mas a avaliação do gerente da agência, Antonio Rivas, é que as medidas mitigadoras não foram suficientes para melhorar o problema e que, a partir de agora, ações eficazes certamente não teriam um bom custo-benefício.
"É claro que, se a prefeitura se dispuser a colocar uma redoma na usina, canalizar, tratar ou queimar todos os gases nela gerados, não precisa fechar. Mas isso sairia caro e duvido que seja viável."
Procurado pela Folha, o Limpurb informou que não se manifestaria sobre a recomendação da agência de Pinheiros por não ter sido oficialmente informado dela.

Perfil
Rivas diz que o mau cheiro é inerente à compostagem e que o problema na Vila Leopoldina foi a mudança no perfil da região.
Inicialmente industrial, ela vive um boom imobiliário (12 novos empreendimentos foram lançados entre meados de 2001 e de 2003) e teve o maior crescimento de renda da capital na última década. Tudo isso é incompatível com a permanência da usina, mas o equipamento tem problemas que agravam os prejuízos.
Ele recebe cerca de 700 t diárias de lixo e poderia compostar até 400 t por dia. Além disso, a venda média do pré-composto não chegou a 300 t diárias até outubro de 2003, segundo o Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana). Resultado: o que sobra fica armazenado, piorando o mau cheiro.
Segundo Rivas, o documento da Cetesb foi mandado também ao Ministério Público, mas o promotor Geraldo Rangel, que acompanha o caso, diz não ter recebido. "Se continuar a expansão imobiliária [na região] e ficar demonstrado que as medidas não estão surtindo efeito, não há alternativa senão o fechamento", afirma.


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