São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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BARBARA GANCIA

Carranca de Lula não mente

Um bom termômetro para se saber a quantas anda o clima em Brasília atualmente é a aparência do presidente da República. Nunca uma fisionomia revelou tanto sobre o que se passa nas internas do Palácio do Planalto como agora.
Nos tempos de Sarney, por mais que a inflação teimasse em subir, a expressão no rosto do presidente raramente sofria qualquer alteração. Pode-se dizer o mesmo sobre Fernando Henrique. Até na morte de seu mais importante colaborador, o ministro Sérgio Motta, a única mudança que se viu no semblante do presidente foi um leve escurecimento das pálpebras, mas nada que chegasse perto, digamos, do tom fundo de poço das olheiras exibidas por seu ministro da Saúde.
A fisionomia de Itamar Franco podia até sofrer transformações profundas de um dia para o outro. Mas ninguém dava muita atenção. Depois de alguns poucos meses sob o reinado do pão de queijo, nós logo aprendemos que qualquer mudança na aparência do mineiro Itamar podia tanto ter sido causada pela ausência de uma peça de roupa íntima em uma foto quanto pela quebra, no mesmo dia, das safras anuais de soja, de açúcar e de laranja.
Já com Fernando Collor a história era outra. Sua aparência sempre traiu toda e qualquer intenção de disfarçar uma noite mal dormida ou uma briga familiar. A boca enrijecida, o cabelo domado por uma dose extra de brilhantina, os músculos da mandíbula retesados: eram vários os sinais indicando quando as coisas não andavam bem com o presidente.
Assim é também com Lula. O abatimento dos últimos dias, as olheiras, a palidez, o cabelo todo fora do lugar, a fronte mais engruvinhada (se é que isso é possível) que o habitual... São inúmeros os sinais de que Lula não está tratando apenas de exorcizar os resquícios de alguma madrugada passada assistindo ao DVD do show acústico do Zeca Pagodinho na companhia do cantor.
Pessoas próximas ao presidente afirmam que o clima em Brasília é de "velório". E, por mais que o ministro José Dirceu insista em nos tratar como se fôssemos aqueles três macaquinhos de louça -um que não ouve, outro que não vê e o terceiro que não fala-, a expressão do presidente diz mais do que as conclusões de uma sindicância caseira qualquer.
A carranca de Lula não mente. Ela nos diz que os ataques a esmo e as recentes frases de efeito do ministro José Dirceu só podem estar tentando esconder alguma coisa bem cabeluda.

QUALQUER NOTA

Ecológica à beça
Em vez de promover a castração de animais de rua, Fernando de Noronha optou pela via simplista e está expatriando seus cães abandonados. Banidos para Recife, os animais -pode apostar- terão um triste fim. Enquanto isso, a rede hoteleira da ilha se gaba de investir na proteção de golfinhos e tartarugas.

Fora, Halloween!
Para impedir o que a autora chamou de "avanço da indústria predatória norte-americana", a prefeitura sancionou lei da vereadora Tita Dias (PT), transformando o 31 de outubro no Dia do Saci. Susto por susto, ao menos a turma economiza em dentista.


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