|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Irlanda barra e prende alunos brasileiros
Três universitários passaram 48 horas em cadeias comuns em Dublin, à espera de um vôo para retornar a Portugal
Eles foram barrados por insuficiência de fundos para passar a semana; situação é "inaceitável", diz Itamaraty, que ordena investigação
BRENO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em lugar de uma semana de
férias, 48 horas em uma cadeia
irlandesa. Essa foi a experiência vivida por três universitários brasileiros com planos de
aproveitar a pausa nos cursos
de intercâmbio -que freqüentam na Espanha e em Portugal
desde o início do ano- para conhecer um outro país.
Barrados ao desembarcar em
Dublin na última quinta-feira,
procedentes da cidade do Porto
(Portugal), os baianos André
São Pedro, 22, estudante de farmácia na UFBA, e Maria Dias,
24, que cursa medicina também na UFBA, e a paulista
Thaís Tibiriçá, 24, aluna de jornalismo na UFF, foram mantidos em prisões comuns, no fim
de inverno irlandês, até o sábado, à espera de um vôo que os
levasse de volta a Portugal.
Nessas 48 horas, relatam os
jovens, se despiram para a revista na cadeia, tiveram acesso
limitado a telefonemas e ficaram em contato com criminosos. "Nós fomos expostos a
bandidos, assassinos, ladrões.
Se um deles puxa uma faca e me
mata, o que aconteceria?",
questiona André São Pedro.
O motivo alegado para o veto
é semelhante ao apresentado
aos brasileiros recentemente
barrados na Espanha: dinheiro
insuficiente para passar no país
os sete dias planejados. Essa
explicação consta dos documentos entregues pela imigração irlandesa aos três jovens.
Os estudantes afirmam que
cada um carregava, em média,
350, além de cartões de crédito com saldo superior a
3.000. Eles relatam que, após
quatro horas trancados no aeroporto, foram encaminhados,
de camburão, para a prisão.
"Para mim foi preconceito. O
André é negro e a Maria é mais
morena", diz Thaís.
A embaixada brasileira em
Dublin e a Garda Siochána (a
polícia nacional irlandesa) confirmam que os estudantes foram mantidos em cadeias comuns. O Itamaraty relatou ontem já ter recebido queixas sobre o tratamento dispensado
pela imigração irlandesa -há
20 dias, outra estudante, de 18
anos, residente na Itália, passou dez horas na prisão.
"Há uma tendência cada vez
maior de rigor na entrada de
imigrantes", disse Elza de Castro, responsável pelo setor consular da Embaixada do Brasil
em Dublin. Segundo ela, por
coincidência, na mesma quinta
houve uma reunião entre a embaixada e autoridades irlandesas para "externar a preocupação com o tratamento dado a
brasileiros".
O Itamaraty determinou ontem à embaixada que faça uma
investigação detalhada sobre o
caso. O órgão, via assessoria de
imprensa, classificou o procedimento adotado pela imigração irlandesa de "inadequado"
e a situação enfrentada pelos
estudantes de "inaceitável".
Segundo a embaixada brasileira, 115 brasileiros foram expulsos da Irlanda no ano passado. Neste ano, até agora, com
os três estudantes, já são 57.
Texto Anterior: Há 50 Anos Próximo Texto: "Fiquei 2 dias com a roupa do corpo", diz aluna Índice
|