São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2006

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RETRATO EM BRANCO E PRETO

Órgão diz que texto é ficção

Grupo da Polícia Militar do Rio é máquina de matar, afirma livro

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Esquadrão de elite da Polícia Militar do Rio, o Bope (Batalhão de Operações Especiais) é radiografado de forma inédita em "Elite da Tropa", que chega às livrarias no próximo fim de semana.
O livro foi escrito pelo sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança do Estado, pelo capitão do Bope André Batista e por Rodrigo Pimentel, reformado como capitão depois do desgaste provocado por sua participação no documentário "Notícias de uma Guerra Particular", de João Moreira Salles.
A violência do batalhão, que se assume como máquina de matar, e a corrupção que o atingiu, acabando com a fama de impoluto que ostentou na maior parte de seus 28 anos, são descritas em detalhes no livro, que é baseado em histórias reais, mas usa nomes fictícios. Segundo Luiz Eduardo Soares, caçar as verdadeiras identidades dos personagens será procurar "agulha no palheiro".
"O léxico é baseado em situações verdadeiras, e a sintaxe é ficcional. Os casos e as situações são fruto da nossa experiência, mas os locais e as identidades são de ficção. As combinações entre os fatos foram produzidas para gerar mais inteligibilidade e afastar qualquer possibilidade de identificação", diz Soares.
O prefácio assinala a suposta ficção das histórias, mas já impressiona por reproduzir cantos de guerra como "Homem de preto,/ qual é a sua missão?/ É invadir favela/ e deixar corpo no chão". A primeira parte do livro, batizada de "Diário da Guerra", reúne vários relatos em primeira pessoa de um personagem que é a fusão das experiências de Batista, Pimentel e outros integrantes do Bope.
Os casos deixam claro que o batalhão entra em uma favela carioca sempre para matar e que inocentes morrem por causa disso. Em um cerco a assaltantes de carro-forte, uma menina morre atingida por uma bala da polícia. O capitão-personagem precisa convencer um soldado em choque a esquecer o caso, já que o avô da criança acredita que foram os criminosos os autores do tiro.
No mesmo capítulo, é narrado um caso de corrupção: o comandante do Bope procura ficar com parte do dinheiro recuperado do assalto a um banco, mas os oficiais do próprio batalhão vão à seguradora evitar que isso aconteça.
No segundo semestre, o diretor José Padilha (de "Ônibus 174") filmará "Bope -Tropa de Elite", que também tem Rodrigo Pimentel como roteirista. O filme acompanhará um jovem que entra esperançoso para a polícia, passa pelo Bope e acaba se desiludindo com a guerra sem fim travada por policiais e traficantes.

Outro lado
Segundo sua assessoria, a PM só poderá se manifestar depois que tiver acesso ao livro. O porta-voz da PM, tenente-coronel Aristeu Leonardo, disse que os autores não representam a corporação e que os dados não podem ser considerados fatos, apenas ficção.


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