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RETRATO EM BRANCO E PRETO
Órgão diz que texto é ficção
Grupo da Polícia Militar do Rio é máquina de matar, afirma livro
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Esquadrão de elite da Polícia
Militar do Rio, o Bope (Batalhão
de Operações Especiais) é radiografado de forma inédita em "Elite da Tropa", que chega às livrarias no próximo fim de semana.
O livro foi escrito pelo sociólogo
Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança do Estado, pelo
capitão do Bope André Batista e
por Rodrigo Pimentel, reformado
como capitão depois do desgaste
provocado por sua participação
no documentário "Notícias de
uma Guerra Particular", de João
Moreira Salles.
A violência do batalhão, que se
assume como máquina de matar,
e a corrupção que o atingiu, acabando com a fama de impoluto
que ostentou na maior parte de
seus 28 anos, são descritas em detalhes no livro, que é baseado em
histórias reais, mas usa nomes fictícios. Segundo Luiz Eduardo
Soares, caçar as verdadeiras identidades dos personagens será procurar "agulha no palheiro".
"O léxico é baseado em situações verdadeiras, e a sintaxe é ficcional. Os casos e as situações são
fruto da nossa experiência, mas os
locais e as identidades são de ficção. As combinações entre os fatos foram produzidas para gerar
mais inteligibilidade e afastar
qualquer possibilidade de identificação", diz Soares.
O prefácio assinala a suposta
ficção das histórias, mas já impressiona por reproduzir cantos
de guerra como "Homem de preto,/ qual é a sua missão?/ É invadir
favela/ e deixar corpo no chão". A
primeira parte do livro, batizada
de "Diário da Guerra", reúne vários relatos em primeira pessoa de
um personagem que é a fusão das
experiências de Batista, Pimentel
e outros integrantes do Bope.
Os casos deixam claro que o batalhão entra em uma favela carioca sempre para matar e que inocentes morrem por causa disso.
Em um cerco a assaltantes de carro-forte, uma menina morre atingida por uma bala da polícia. O
capitão-personagem precisa convencer um soldado em choque a
esquecer o caso, já que o avô da
criança acredita que foram os criminosos os autores do tiro.
No mesmo capítulo, é narrado
um caso de corrupção: o comandante do Bope procura ficar com
parte do dinheiro recuperado do
assalto a um banco, mas os oficiais do próprio batalhão vão à seguradora evitar que isso aconteça.
No segundo semestre, o diretor
José Padilha (de "Ônibus 174") filmará "Bope -Tropa de Elite", que
também tem Rodrigo Pimentel
como roteirista. O filme acompanhará um jovem que entra esperançoso para a polícia, passa pelo
Bope e acaba se desiludindo com
a guerra sem fim travada por policiais e traficantes.
Outro lado
Segundo sua assessoria, a PM só
poderá se manifestar depois que
tiver acesso ao livro. O porta-voz
da PM, tenente-coronel Aristeu
Leonardo, disse que os autores
não representam a corporação e
que os dados não podem ser considerados fatos, apenas ficção.
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