São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Demanda por m2 cria gambiarras na cidade

Condomínios da cidade recorrem a uma série de truques -legais e ilegais- para aproveitar e ampliar área construída

Para arquitetos e urbanistas, recursos para ganhar espaço podem "enfear a cidade", "causar desconforto" e "dificultar a convivência"

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com preços de metro quadrado em ascensão nos últimos anos para apartamentos mais amplos, a cidade de São Paulo abriga em seus condomínios uma série de truques (legais e ilegais) para aproveitamento e ampliação de área construída.
Para arquitetos e urbanistas, certos recursos para ganhar espaço podem "enfear a cidade", "causar desconforto" e "dificultar a convivência".
A pedido da Folha, especialistas elencaram alguns tipos de "puxadinhos" comuns, em uma lista que tem construções ilegais, desvios de finalidade e também brechas na legislação.
As vantagens para as construtoras aumentam em períodos de valorização. Em 2008, antes de a maré da crise começar a subir, o metro quadrado de apartamentos amplos era o mais caro dos últimos anos.
Na média, o de um imóvel de quatro quartos custou R$ 4.455 em lançamentos de 2008, contra R$ 3.989 em 2006.
Para Gilberto Belleza, presidente do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), o excesso de truques que anabolizam as construções lesam quem vive no entorno. "A cidade ganharia mais respiro, porque bateria mais vento, mais sol [sem prédios que desrespeitam o tamanho previsto]", diz.
EX-VARANDA
Uma das "gambiarras" mais visíveis nos condomínios da cidade é fechar a varanda para ganhar uma espécie de cômodo extra em casa.
É irregular? "É", diz Laura Tarantino, chefe do departamento normatizador da Secretaria Municipal de Habitação.
"A área do terraço não é computada [no limite volumétrico do prédio, variável conforme a região e a medida do terreno], mas ela precisa ser aberta [nas laterais]. Toldo pode, mas vidro é irregular", explica.
O designer Fabio Nitschke Gomes costuma fotografar pelos bairros da cidade recursos como esse, que repudia.
"Além de "roubar" uma área, a cidade perde com prejuízo visual. O fechamento [da varanda] com vidro pode ser a maneira mais discreta, mas ainda assim dá alteração na fachada. O que dizer, então, quando o morador coloca persianas neste fechamento?", diz.

SUBSOLO CAMUFLADO
Outra irregularidade é burlar a exigência de área permeável. Desde fevereiro de 2005, lançamentos precisam ter 15% do terreno ou mais com terra, a depender da região.
Um dos truques é cobrir o terreno ou construir sob seu subsolo, deixando exposto apenas um jardim, que não dá conta de absorver toda a chuva. Assim, a água escoa para a rua, engrossando enchentes.
"A prefeitura faz a aprovação da planta, mas em geral fiscaliza prédios residenciais construídos se há denúncia", explica Laura Tarantino.

DESVIO DA GARAGEM
Mas nem só de mais cimento vivem os "puxadinhos" em São Paulo. Há também o aproveitamento irregular de áreas que não são computadas no limite de construção, como a garagem subterrânea.
Assim, sem se assentar um tijolo, pode-se ganhar um escritório ou uma biblioteca, por exemplo. Mas fazer isso é irregular -e pode render de multas a processos.

CÔMODO FANTASMA
Se a laje é o limite da altura nas regras de construção do bairro, o que pode ir sobre ela?
Para a prefeitura, só telhado, mas há quem faça um pouco mais -uma parede, duas, uma área de convivência, ou até um novo cômodo inteiro.
A promotora da Habitação Claudia Beré tem duas ações contra condomínios paulistanos com "cômodos fantasma" e diz que a prática é injusta com os outros moradores da cidade.
"Essa ampliação é um dano à cidade. As regras são para todos", reclama.


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