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Demanda por m2 cria gambiarras na cidade
Condomínios da cidade recorrem a uma série de truques -legais e ilegais- para aproveitar e ampliar área construída
Para arquitetos e urbanistas,
recursos para ganhar espaço
podem "enfear a cidade",
"causar desconforto" e
"dificultar a convivência"
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com preços de metro quadrado em ascensão nos últimos
anos para apartamentos mais
amplos, a cidade de São Paulo
abriga em seus condomínios
uma série de truques (legais e
ilegais) para aproveitamento e
ampliação de área construída.
Para arquitetos e urbanistas,
certos recursos para ganhar espaço podem "enfear a cidade",
"causar desconforto" e "dificultar a convivência".
A pedido da Folha, especialistas elencaram alguns tipos
de "puxadinhos" comuns, em
uma lista que tem construções
ilegais, desvios de finalidade e
também brechas na legislação.
As vantagens para as construtoras aumentam em períodos de valorização. Em 2008,
antes de a maré da crise começar a subir, o metro quadrado
de apartamentos amplos era o
mais caro dos últimos anos.
Na média, o de um imóvel de
quatro quartos custou R$ 4.455
em lançamentos de 2008, contra R$ 3.989 em 2006.
Para Gilberto Belleza, presidente do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), o excesso
de truques que anabolizam as
construções lesam quem vive
no entorno. "A cidade ganharia
mais respiro, porque bateria
mais vento, mais sol [sem prédios que desrespeitam o tamanho previsto]", diz.
EX-VARANDA
Uma das "gambiarras" mais
visíveis nos condomínios da cidade é fechar a varanda para
ganhar uma espécie de cômodo
extra em casa.
É irregular? "É", diz Laura
Tarantino, chefe do departamento normatizador da Secretaria Municipal de Habitação.
"A área do terraço não é computada [no limite volumétrico
do prédio, variável conforme a
região e a medida do terreno],
mas ela precisa ser aberta [nas
laterais]. Toldo pode, mas vidro
é irregular", explica.
O designer Fabio Nitschke
Gomes costuma fotografar pelos bairros da cidade recursos
como esse, que repudia.
"Além de "roubar" uma área, a
cidade perde com prejuízo visual. O fechamento [da varanda] com vidro pode ser a maneira mais discreta, mas ainda
assim dá alteração na fachada.
O que dizer, então, quando o
morador coloca persianas neste fechamento?", diz.
SUBSOLO CAMUFLADO
Outra irregularidade é burlar
a exigência de área permeável.
Desde fevereiro de 2005, lançamentos precisam ter 15% do
terreno ou mais com terra, a
depender da região.
Um dos truques é cobrir o
terreno ou construir sob seu
subsolo, deixando exposto apenas um jardim, que não dá conta de absorver toda a chuva. Assim, a água escoa para a rua, engrossando enchentes.
"A prefeitura faz a aprovação
da planta, mas em geral fiscaliza prédios residenciais construídos se há denúncia", explica
Laura Tarantino.
DESVIO DA GARAGEM
Mas nem só de mais cimento
vivem os "puxadinhos" em São
Paulo. Há também o aproveitamento irregular de áreas que
não são computadas no limite
de construção, como a garagem
subterrânea.
Assim, sem se assentar um tijolo, pode-se ganhar um escritório ou uma biblioteca, por
exemplo. Mas fazer isso é irregular -e pode render de multas
a processos.
CÔMODO FANTASMA
Se a laje é o limite da altura
nas regras de construção do
bairro, o que pode ir sobre ela?
Para a prefeitura, só telhado,
mas há quem faça um pouco
mais -uma parede, duas, uma
área de convivência, ou até um
novo cômodo inteiro.
A promotora da Habitação
Claudia Beré tem duas ações
contra condomínios paulistanos com "cômodos fantasma" e
diz que a prática é injusta com
os outros moradores da cidade.
"Essa ampliação é um dano à
cidade. As regras são para todos", reclama.
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