São Paulo, quarta, 26 de maio de 1999

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Carentes podem perder atendimento

da Reportagem Local

Em seus 5 anos de vida, a menina Paloma Gonçalves traz em sua história seis delicadas neurocirurgias realizadas para a retirada de um tumor na cabeça.
Filha de uma dona-de-casa e de um encanador, cuja renda é de R$ 350 mensais, Paloma, diz a própria mãe, pode ser considerada uma garota "de sorte". "Não posso escolher a situação de saúde, mas tenho que agradecer o fato de ter conseguido um atendimento de primeira", diz a mãe, Adriana Rodrigues Gonçalves, 23.
Paloma está internada há um mês, pela segunda vez em seis meses, na ala de pediatria assistencial (cujos serviços são gratuitos) do hospital Albert Einstein.
A oferta dessa cirurgia -um procedimento de alta complexidade-, está restrita a poucos hospitais que detêm tecnologia de ponta. Mas esse serviço está ameaçado de "extinção" no Einstein.
A ala onde está Paloma já teve 28 leitos gratuitos em 97. Passou para 12 em 98 e, no mês passado, diminuiu para quatro leitos. "A primeira queda se deu pela diminuição da demanda. A segunda, por causa da lei das filantrópicas", diz Telma Sobolh Brandt, diretora de filantropia do Einstein.
A diminuição da demanda ocorreu, segundo Telma, por causa do atendimento médico realizado pelo Einstein na favela de Paraisópolis (zona sudoeste).
O hospital possui um centro de saúde com nove pediatras e 13 especialistas, onde é feito o atendimento de 7.000 crianças da favela.
Com o fim da isenção da contribuição previdenciária, o hospital terá de recolher o equivalente a R$ 18 milhões anuais. Por conta disso, o investimento feito até hoje com atendimento a carentes (cerca de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões anuais) deve cair para R$ 15 milhões a R$ 18 milhões.
Além da redução de leitos, o projeto Einstein na Comunidade, que seria ampliado para atender 11 mil crianças, teve de deixar de atender crianças de 10 a 12 anos. Com isso, 1.400 crianças perderam o direito de receber atendimento e medicamentos gratuitos e também a possibilidade de serem atendidas sem enfrentar as intermináveis filas dos hospitais públicos.
"Meu filho, com 12 anos, agora tem de ir para hospital público. Não o levo mais para consulta de rotina, porque não há vagas. Só numa situação de muita emergência é que se consegue uma consulta." O vice-presidente do hospital Albert Einstein, Claudio Lotemberg, disse que está disposto a discutir com o ministério a possibilidade de atender pacientes do SUS.



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