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AIDS
Advogado da indústria diz temer redução de investimento em pesquisa de novas drogas por causa da ameaça de quebra de patentes
Para ONGs, EUA tentam "saída diplomática"
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes de ONGs (organizações não-governamentais)
que lutam pelos direitos dos soropositivos vêem com restrições a
decisão dos EUA de retirar a reclamação contra o Brasil na OMC
(Organização Mundial do Comércio) sobre violação da lei de
patentes. "É muito cedo para dizer se é bom. Foi a saída mais diplomática", afirmou Mário Scheffer, que responde pelas entidades
no Conselho Nacional de Saúde.
Segundo Scheffer, as ONGs irão
continuar a lutar pela quebra de
patentes de remédios por meio de
uma mudança na lei que regulamenta essa área. De acordo com
ele, as entidades também temem
que a "saída diplomática" enfraqueça um movimento internacional pelo barateamento das drogas
contra a Aids. "A indústria vai
vender a preço de banana [no
Brasil" para brecar a quebra de
patentes", disse.
Segundo Scheffer, de dez brasileiros infectados pelo vírus HIV,
um não tem acesso ao coquetel de
remédios contra a doença.
O infectologista Artur Timerman, pesquisador do Hospital
Heliópolis, em São Paulo, teme
que a indústria passe a não trazer
mais novidades para o tratamento de Aids para o país e cobra investimentos em estudos em universidade. "Está se chegando a
um meio-termo. Mas existe um
erro básico nessa história, a centralização das pesquisas em laboratórios multinacionais e não nas
universidades", afirmou.
O consultor jurídico da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), Otto
Licks, criticou a decisão dos EUA.
Segundo Licks, um posicionamento favorável da OMC à queixa
norte-americana beneficiaria não
só a indústria farmacêutica, mas
também outros setores.
O advogado disse temer a diminuição dos investimentos da indústria farmacêutica em pesquisas por causa da ameaça de quebra de patentes.
"Todo acordo é melhor que
uma briga", disse o vice-presidente executivo da associação, Flávio
Vormittag. Para ele, a decisão "retira do foco" a discussão de que a
queixa dos EUA à OMC poderia
afetar o programa de Aids do Brasil. "Houve exploração tendenciosa. Essa questão não tinha relevância para Aids. Era puramente
industrial e se refere a todo sistema de patentes."
"Foi uma vitória retumbante",
afirmou Caio Rosenthal, infectologista do Hospital Emílio Ribas
de São Paulo. "Seria politicamente incorreto os Estados Unidos
quererem castigar um país que
demonstrou queda dos índices de
mortalidade [pela doença"", disse."As indústrias têm de vender
caro no Primeiro Mundo."
(FABIANE LEITE)
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