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Serra nega que
Brasil pretenda
exportar remédios
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
O ministro da Saúde, José
Serra, refutou rumores de que
o Brasil aproveitaria o acordo
anunciado ontem com os EUA
na Organização Mundial do
Comércio (OMC) para exportar remédios anti-Aids cujas
patentes forem quebradas.
"Não exportaremos sob hipótese nenhuma", disse.
Segundo Serra, a próxima
droga a sofrer o processo de pedido de quebra de patente deve
ser o Neufinavir, da Roche,
parte do coquetel anti-HIV,
mas pela prática de "preços
abusivos".
Desde ontem e até amanhã a
Organização das Nações Unidas (ONU) sedia a inédita Sessão Especial da Assembléia Geral sobre HIV/Aids - Crise Global, Ação Global, em que 3 mil
representantes de 180 países e
várias ONGs tentam aprovar
um plano conjunto de prevenção e tratamento da doença no
mundo inteiro.
O clima entre a delegação
brasileira presente na ONU era
de festa. A Folha apurou que,
embora a postura oficial do governo sobre o caso seja sóbria e
não-combativa, a avaliação é
de que houve clara vitória do
lado brasileiro na disputa com
os EUA na OMC.
Além disso, o programa brasileiro foi citado como exemplo
pelo secretário-geral da ONU,
Kofi Annan, tanto em seu discurso de abertura quanto no
texto que publicou ontem no
"The New York Times" -e
editorial do mesmo jornal elogiou a iniciativa.
O ministro participou ontem
da mesa-redonda HIV/Aids
-Prevenção e Tratamento e fala
amanhã no plenário da Sessão
Especial. Leia a seguir trechos
de sua entrevista:
Pergunta - Qual a avaliação do
ministério sobre o acordo com os
EUA, anunciado ontem?
José Serra - É importante lembrar que a reclamação é do último dia da administração Clinton, 19 de janeiro. Creio que o
governo Bush fez uma revisão
que será positiva para o seu
país. Além disso, estávamos
preparando um pedido de "panel" (discussão) também em
relação à lei americana e agora
abrimos mão.
Pergunta - O sr. não acha que
virá uma reação da indústria farmacêutica, uma das principais
apoiadoras da campanha do
presidente George W. Bush?
Serra - Imagino que a indústria não deve ter amado a decisão. É inegável que o setor tem
produzido bons avanços na
área de novos medicamentos,
mas, por outro lado, tem cometido abusos na área de preços,
como ficou evidente no caso da
Aids, em que eles tinham margens de lucro da ordem de
1.000%.
Pergunta - O ministério vai pedir a quebra de patente de algum remédio proximamente?
Serra - Sim, mas não invocando este artigo do acordo, o 68,
mas o 71, de abuso de preços,
que nem sequer foi contestado.
É o remédio Neufinavir, da Roche. Gastamos R$ 150 milhões
com ele por ano. E o laboratório está tendo uma posição
muito intransigente, ao contrário da Merck.
Pergunta - O Brasil vai exportar os remédios cuja patente for
quebrada?
Serra - Não. Nossa organização está voltada para o abastecimento interno, não vamos
nos envolver num processo de
comercialização em escala
mundial. Essa definitivamente
não é a política do governo.
Nós já temos de fazer um esforço enorme para poder atender
a demanda interna.
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