São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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GREVE DE ESTUDANTES

Sedi Hirano, que vai comandar a FFLCH, defende número mínimo de professores e reposição automática

Novo diretor quer renovar quadro docente

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

O cientista social Sedi Hirano, 63, assumirá a direção da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) em julho com a missão de consolidar uma política de contratação de professores pautada na qualidade de ensino.
Otimista, acha que vai conseguir e aposta numa maior articulação com a reitoria para isso.
Graduado, mestre e doutor pela FFLCH, ele não esconde o orgulho da instituição, onde é hoje professor titular e coordenador do programa de pós-graduação. "Não existe curso perfeito, mas o nosso é de altíssimo nível." A seguir trechos da entrevista que Hirano concedeu ontem à Folha.

Folha - Como o sr. vai encaminhar a luta da FFLCH por melhores condições de ensino?
Sedi Hirano -
Temos de ter o mínimo de docentes para manutenção do alto padrão no ensino e na pesquisa. Cada departamento tem de definir esse número, que praticamente já não existe em vários deles. Toda vez que o limite mínimo for ultrapassado, a renovação tem de ser automática.

Folha - As vagas são pedidas, e não são concedidas. Como mudar?
Hirano -
Precisamos estabelecer esse número mínimo num acordo com a reitoria.

Folha - Na sua avaliação, a que se deve a crise que a FFLCH vive hoje?
Hirano -
Nessa última década, a reposição dos docentes não seguiu uma política de defesa da qualidade de ensino. Eu diria que houve um problema de gestão em relação ao número mínimo de docentes necessário. E faltou uma articulação com a reitoria.

Folha - O sr. acha que a FFLCH paga por resistir à política da USP?
Hirano -
A FFLCH defende uma concepção de universidade enquanto uma instituição social e, portanto, voltada para o interesse público, geral, da sociedade. Dentro dessa concepção não cabe a idéia da universidade funcional, voltada para o mercado. Mas, pelo que sei, a faculdade raramente teve um poder específico ou um lugar forte dentro da estrutura da USP. A marca da FFLCH é a produção acadêmica de altíssimo nível, que nós temos mantido e lutamos para continuar mantendo.

Folha - A administração da FFLCH não tem nenhuma culpa na crise?
Hirano -
Não existe curso perfeito. Precisamos adequar a grade curricular de certas disciplinas, mas o curso como um todo é considerado de alto nível.

Folha - Há docentes que não dão a carga didática prevista na lei?
Hirano -
Precisamos discutir o conceito de carga didática na perspectiva da docência formadora. Quantas cargas são agregadas dentro da sala de aula, quantas no atendimento aos alunos e na discussão de pontos específicos? É outro ponto que precisa ser mais bem articulado. Nossa ênfase é na qualidade, não na quantidade de horas-aula.

Folha - O sr. acha que deixará a FFLCH numa outra situação?
Hirano -
Prefiro acreditar nessa utopia. O ensino na faculdade incomoda certos tipos de forças conservadoras, mas é importante e fundamental para a universidade e para a sociedade.



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